Capítulo 8- Terapia

1.3K 109 1
                                    

GAEL


Não consegui dormir nem por um segundo, toda a minha história com a Íris ficou indo e voltando em meus pensamentos durante toda a noite. Assim que o dia amanheceu eu liguei pra única pessoa que poderia me impedir de pirar, minha terapeuta Doutora Alba. Assim que ouviu minha voz, e conhecendo bem o meu caso, ela percebeu a gravidade da minha situação e mandou que eu a encontra se em seu consultório em 10 minutos. Eu sabia que ela era a única que poderia me ouvir nesse momento e me ajudar a ver as coisas mais claramente, como sempre fez em minhas crises. Eu ja me consultava com ela desde os 16 anos, comecei obrigado por meu pai, mas depois de um tempo a terapia se tornou indispensável pra mim. A essa altura ja éramos mais que só paciente e médico.

- Oi Alba! Preciso falar com você. Você tem que me ajudar, não sei o que devo fazer, não sei como agir. - eu disse entrando intempestivamente seu consultório como costumava fazer em momentos assim.

- Ok Gael, mas primeiro de tudo você precisa se acalmar. Ja vi que você não dormiu, então tente relaxar pra que eu possa entender melhor o que se passa. - ela disse em seu tom calmo e concentrado.

- Ela voltou Alba! A Íris está de volta a cidade. Nós nos encontramos ontem a noite e eu quase pus tudo a perder. Eu não pude me controlar, eu ia cometer os mesmos erros de sempre, não fosse ela me enfrentar eu estragaria tudo. - Falei apresadamente.

- Calma Gael, uma coisa de cada vez, ok?! Me conta tudo que aconteceu com calma pra que eu possa entender e te ajudar. - ela pediu.

Contei todos os fatos e também tudo que eu senti e fiz, enquanto Alba escutava atentamente.

- Então ela finalmente te enfrentou. Como você se sentiu com isso? - ela questionou profissionalmente.

- Sinceramente não sei. Eu fiquei confuso, depois senti muita raiva, não dela, de mim, pois me dei conta de que ia começar tudo de novo, e não quero isso, pois já sei

como termina. Dessa vez eu quero um final diferente. - e eu faria o que fosse preciso para conseguir.

- Eu entendo, e estou orgulhosa de você Gael. O fato de você ter percebido e admitido que estava errado já é um avanço. Você costumava sempre achar uma desculpa para as coisas que você fazia.

- Eu sei disso. E hoje quando penso em quanto merda eu fiz ela passar eu me odeio demais. Mas o problema é que eu só vejo isso depois, se ela não tivesse me enfrentado eu teria feito o mesmo de antes. Teria arrastado ela do bar e acabado com sua noite, iriamos ter uma discussão e como antes ela acabaria cedendo e indo embora só pra não me contrariar mais, o que não nos levaria a lugar nenhum. - falei enquanto andava de um lado a outro em seu escritório, ficar parado era impossível.

- Mas você não acha que era disso que vocês dois precisavam, ela te enfrentou e você cedeu, quem sabe se ela tivesse feito isso antes a história de vocês teria tido outro rumo?- ela falou pensativamente.

- Acho que não. Ela só estava dançando com as amigas ontem, por isso eu consegui ir embora, mas se a situação envolvesse outro cara eu jamais conseguiria parar, e provavelmente acabaria em violência.- eu afirmei pois era um fato.

- Mas depois do episódio com o Marcos você não teve mais nenhum caso assim.- doutora Alba perguntou, mesmo que soubesse a resposta.

- Não tive porque sempre que eu sabia que alguém estava interessado nela eu me adiantava e espantava o cara, e também porque ela sempre cedia as minhas vontades. Quando eu a via com alguém, ela sempre desistia da pessoa antes que eu ficasse violento, e depois de um tempo isso se tornou raro, pois ela parou de sair, e os caras que me conheciam pararam de tentar algo com ela. - eu admiti, sentindo nojo de mim mesmo. - e antes que você me lembre, eu sei o quanto isso é errado e o quanto eu sou um merda, mas é mais forte do que eu, não consigo vê la com outro cara, e não sei se algum dia conseguirei. Eu sou um doente de merda!! - me joguei no sofá exasperado, sentindo todas as minhas forças me deixarem, eu me odiava demais por tudo isso, na maior parte do tempo.

- Primeiro de tudo Gael, você tem que aprender a se perdoar, o que você fez foi errado em muitos níveis, mas se você não se perdoar ela também não vai, e vocês precisam virar essa pagina.

- Ela nunca vai me perdoar. - eu afirmei derrotado.

- Você não pode saber, e também não pode tirar mais esse direito dela. Deixe ela decidir se quer te perdoar ou não. E tem mais. - ela disse respirando fundo. - Você precisa estar pronto para deixar ir, se for a vontade dela, você precisa superar.

- Eu nunca vou estar pronto pra isso, não posso perdê-la de novo, eu não vou. - era verdade, eu simplesmente não podia aceitar isso- Eu tentei superá-la, com a Nina ano passado, lembra? E tudo que eu consegui foi magoar muito mais uma pessoa que não merecia isso, simplesmente porque ela não era a Íris.

-Eu me lembro, mas como eu havia te dito antes, você não tem que superar a Íris e sim a sua obsessão por ela, e você não pode usar outra pessoa para isso, não é justo pra nenhum dos dois.- ela ponderou.

- Eu sei disso, agora eu sei, mas eu estava desesperado.- confessei.

- Então como sua médica, exijo que você volte a me ver uma vez por semana, e se eu julgar necessário voltaremos com os antidepressivos e o restante da medicação, ok?! - ela esperou que eu concordasse e depois continuou. - Mas como sua amiga eu te darei outro conselho, se você a ama, se quer ter alguma chance de verdade, na primeira oportunidade que você tiver conte a ela tudo que você sente, para que ela possa decidir se pode lidar com isso, pois você pode melhorar muito, mas dificilmente mudará totalmente. Você precisa mostrar a ela que pode respeita la, que pode aceitar suas decisões mesmo que com um pouco de esforço.

- Eu vou tentar.- prometi para ela e para mim mesmo.

- Tentar não será suficiente, você tem que fazer, se dê um voto de confiança e acredite que você pode se superar por ela e por você. E outra coisa, mostre o quanto você a ama, sem sufoca la, respeitando o seu espaço, para que ela possa decidir se o amor de vocês compensa tudo que ela já passou e que provavelmente passará.



Mal D'amore #Wattys 2017Onde histórias criam vida. Descubra agora