Capítulo 14

307 45 41
                                    

Guilherme dirigiu com pressa até o hospital. Não falamos muito no caminho. Ele estava com o maxilar cerrado, como sempre ficava quando estava tenso por algum motivo.

Essa não ia ser uma ocasião muito boa para conhecer seu pai, pensei.

Percebi que eu também estava tenso. Pedia internamente a Deus para guardar seu pai de qualquer coisa mais grave.

- A moça que ligou não falou nada? – questionei.

- Só que meu pai trombou em um carro e foi levado pra lá inconsciente. – ele falou rápido. Decidi não falar mais nada, dar um momento pra ele colocar os pensamentos em ordem.

Uns 20 minutos depois, Guilherme estava estacionando no hospital. Desligou o carro e saltou dele em questão de segundos, e praticamente voou em direção à recepção. Como ele era maior, tive que me apressar para ir atrás dele.

- Eu sou o Guilherme... Ligaram-me a pouco falando que meu pai sofreu um acidente, moça, por favor, eu preciso vê-lo! – ele estava ficando nervoso.

- Qual o nome do seu pai?

- Milton Campos Resende.

- Ele está na ala da observação. 2° Andar, primeiro bloco de salas. – Guilherme mal esperou ela acabar e foi até o elevador. Corri atrás dele. Não sabia exatamente o que fazer para ajudá-lo. O elevador pareceu levar uma hora para subir de um andar pro outro. Assim que as portas se abriram, ele mal esperou pra ir até a ala da observação, a primeira ali. Abordou a primeira enfermeira que viu e perguntou sobre o pai.

- Você é filho dele?

- Sim, isso mesmo.

- Cadê a outra?

- Que outra... Ligaram para minha irmã?

- Ligamos para os dois filhos. É o procedimento padrão.

- Tudo bem. Mas cadê ele?

- Venha comigo – ela jogou um olhar de esguelha em minha direção. Entramos em uma sala pequena com apenas um leito, no qual estava o pai de Guilherme.

Eu não sabia o que esperar. O homem deitado na cama pareceu tanto com Guilherme que eu cheguei a ficar sem fôlego. Apesar de ser mais baixo, tinha o mesmo aspecto físico, a mesma pele clara, as mesmas feições no rosto. Guilherme sentou-se aos pés da cama. Eu fiquei em pé atrás dele, e na falta do que fazer, apenas coloquei minhas mãos sobre seus ombros e fiquei deslizando o dedo lentamente numa tentativa de tranquilizá-lo.

- Ah, pai. O que você aprontou dessa vez? – ele falou, baixinho. Virou-se pra mim. – Nathan, esse é o meu pai – ele disse, com um sorriso triste.

- Não era assim que eu esperava conhecê-lo. Mas é um prazer. – brinquei. O sorriso de Guilherme se alargou.

- Ah, você não existe – ele disse, pegando uma das minhas mãos em seu ombro e lhe dando um beijo. A enfermeira pareceu um pouco desconcertada, mas não nos incomodamos por isso.

- Ele está bem? – ele perguntou, alguns segundos depois.

- Está sim, pode ficar tranquilo. Ele trombou o carro. Estava... Estava em estado visível de embriaguez. Mas por sorte a policia não foi chamada. Ele sofreu apenas algumas escoriações leves, e acabou desmaiando. Está em observação para vermos se algo mais grave aconteceu.

- Graças a Deus – ele murmurou, virando-se para o pai.

A enfermeira saiu do quarto, deixando-nos ali.

- Eu sabia que algo assim não ia demorar pra acontecer. Droga, eu sabia. Eu devia ter ficado em casa, eu devia cuidar dele, droga...

- Guilherme, olha pra mim. – falei, pegando seu rosto pelo queixo e virando em minha direção. – Isso não é culpa sua. Seu pai já é bem crescidinho. Não é sua função ficar de babá dele. Ele bebeu, ele pegou o carro. Ele sabia muito bem onde estava se metendo. Você sabe disso – falei, um pouco suave, mas sem deixar de ser firme.

Minha Única CertezaOnde histórias criam vida. Descubra agora