Capítulo 19

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"Pessoas desaparecem o tempo todo. Pergunte a qualquer policial. Melhor ainda, pergunte a um jornalista. Desaparecimentos fazem parte do dia a dia deles. Mães saem de casa e nunca mais são vistas. Adolescentes fogem de lares conturbados. Crianças se perdem dos pais e nunca mais são vistas."

Mas aquela criança em específico certamente não havia se perdido. Certamente não havia fugido. Eu tirei forças de onde não tinha e me levantei. O garoto com a bicicleta tinha ido atrás do carro, mas também o tinha perdido de vista. Agora ele voltava para onde eu estava e me ajudou a ficar de pé.

- Você está bem? – ele perguntou, hesitante.

Tentei encontrar palavras para respondê-lo, mas minha voz falhou e ficou engasgada na garganta. Eu ainda olhava para o chão à minha frente. De repente, minha cabeça parecia pesar uma tonelada e eu não tinha forças para sustentá-la. Minhas mãos tremiam. Minhas pernas estavam bambas. Eu já não tinha mais noção do tempo, não sabia quanto tempo havia ficado deitado ali no chão, se haviam sido minutos ou se haviam se passado horas desde que o garoto havia ido atrás do carro. Uma pequena multidão havia se acumulado ao meu redor, mas todos observavam de longe, mantendo uma distância segura.

Tentei levantar a cabeça, o que demorou outra eternidade, e olhei para a rua à minha frente, onde havia visto o carro pela última vez.

- Como ela era? – sussurrei.

- Ela quem?

- A mulher. A mulher que levou minha irmã – levantei o olhar e fitei os olhos do garoto à minha frente.

Ele cerrou os olhos com força, revirando a memória em busca da imagem.

- Mais ou menos da sua altura. Pele clara. Cabelos castanhos, eu acho. Com alguns cachos na ponta. Não sei! Não consegui ver direito.

Mas aquela discrição dele já bastou pra mim. Foi Camilla.

Camilla havia sequestrado minha irmã.

Eu precisava pensar no que ia fazer a seguir. Precisava ligar para a polícia, precisava de ajuda, precisava ligar para...

Meus pais. Meu Deus! Como eu ia dar a notícia? Como eu ia explicar que minha irmã havia sido sequestrada? No dia do aniversário dela?

Tirei o meu celular do bolso, com as mãos ainda trêmulas.

Tentei digitar o número da policia, mas meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que me tomavam e meus dedos pairaram sobre a tela do celular.

- Você quer ajuda? Pode deixar. – o garoto ao meu lado se ofereceu.

- Por favor – pedi. – Preciso ligar pra polícia...

Quando eu falei isso, o celular em minha mão começou a tocar. Tive um pequeno sobressalto pelo susto e ainda com as mãos tremendo, deslizei o dedo para atender. Era um número desconhecido, e quando atendi, houve silêncio do outro lado até que a voz finalmente falou alguma coisa.

- Eu avisei pra não mexer comigo.

A frase demorou a fazer sentido em minha cabeça. Mas aquela voz eu não esqueceria jamais. E jamais esqueceria que ela havia dito exatamente aquilo quando me confrontou no hospital na semana anterior.

Meu estômago revirou com a lembrança e a bile me subiu à garganta. Engoli com força e procurei minha voz para responder, com a raiva se juntando à multidão de sentimentos que me tomavam.

Minha Única CertezaOnde histórias criam vida. Descubra agora