Cactos Sob um Luar

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Anteontem, descobri que existe uma data chamada "Dia da Caatinga" e essa é comemorada em todo 28 de abril de cada ano

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Anteontem, descobri que existe uma data chamada "Dia da Caatinga" e essa é comemorada em todo 28 de abril de cada ano.

Coincidentemente, desde que fiquei sabendo dessa novidade, não estou mais conseguindo dormir. Todas as noites é o mesmo roteiro: Fecho os olhos e tento ficar calma o suficiente para desligar a mente, mas é como se alguém estivesse pressionando minha cabeça, impedindo-me de esquecer que existe um mundo turbulento por detrás das paredes azuis do quarto.

Eu poderia culpar a nossa conversa em que combinamos de você ir ao casamento do seu irmão. Porém, sei que não é isso. Sei ainda que a nossa decisão de adotar um cachorro também não é a culpada, embora eu esteja nitidamente aflita com isso. Afinal, estamos há quase três anos juntas, mas agora estamos construindo uma família.

Tudo bem, talvez esse fato tenha sua parcela de responsabilidade no meu histórico de insônia. Entretanto, é muito mais que isso.

Você já se sentiu assim, meu amor? Uma aflição no coração que faz você querer que tudo pare por alguns instantes, apenas para que o ar possa entrar mais devagar pelos seus pulmões?

Sinto que o peso do mundo está me afogando em gotas e mais gotas da áspera ansiedade. Estou começando a me afogar mesmo quando poderia só me manter calma e respirar.

E eu quase posso encostar meus dedos em seu olhar preocupado, que insiste em pairar sobre meus ombros. Contudo, não podemos conversar nesse exato momento, pois estamos em um silêncio matrimonial dentro do carro, o qual se encontra estacionado na entrada do abrigo para animais. Abro a porta pelo lado do passageiro e saio, evitando que você me amarre e comece um questionamento para saber o que está havendo.

A frente do lugar não é nem um pouco atraente e preciso admitir que uma parte de mim quer voltar correndo para o carro. Mas, então, ouço o som de cachorros latindo e gatos miando, e penso em como eles também se sentem perdidos.

A gente entra no ambiente e enfim estou percebendo que você, como sempre, tinha razão. Tinha razão ao me contar que animais nos fazem sorrir com a alma.

Você, por exemplo, está extremamente animada. E eu amo vê-la assim.

Um senhor, meio que com medo de nos espantar, veio em nossa direção e, quando estou quase perguntando-lhe se podemos acolher um cachorro, você já está entretida com dois gatinhos.

Não sei porquê, mas acho que você quem já foi adotada por eles, e não o vice-versa.

O homem mais velho está nos contando que o gatinho preto é macho e tem quase um ano, enquanto que o outro, alaranjado, é na verdade outra, pois é uma fêmea e possui somente alguns meses de vida. Noto que ele tem metade de uma das orelhas faltando e é cego no olho direito. E ela, menorzinha, apresenta apenas três patas.

A gente pergunta o que houve com eles e o senhor diz que o deslizamento na região devido às chuvas intensas e à má estrutura da cidade provocou isso. Você fica horrorizada e, infelizmente, questiona o que acontece com eles se não forem adotados.

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