Deus

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Cedro-Rosa, 24 de Setembro de 2021.

Caro Senhor,

Às vezes, eu me sinto como uma personagem de um dos livros esquecidos na estante: Eternamente acorrentada às palavras. Presa por uma jaula feita de celulose e de tinta de editoras que, futuramente, estarão falidas.

Mas, diferente das criações literárias, eu não consigo ser constantemente corajosa, aventureira ou forte. Na verdade, ultimamente, estou desabando feito aquelas geadas que, vez ou outra, adormecem sobre o solo do sul brasileiro. Assim, pouco a pouco, caio sobre os espinhos dos jardins das casas que despontam na paisagem.

E, honestamente, parece que o universo juntou todos os cacos que fragmentam a minha estrutura emocional e os ordenou de mil formas diferentes, e cada organização é mais um novo obstáculo para eu lidar e superar. Contudo, no fundo, todos pertencem a um mesmo conjunto de peças cortantes que estão constantemente explodindo dentro de mim.

É quase como se eles fossem parte de uma mesma palavra, a qual possibilita diversos anagramas. Sim, anagramas que não consigo desembaralhar. 

Eu não sei se Você pode me ouvir. Eu realmente não sei se estou jogando minhas preces em direção às profundezas do nada ou se há alguém escutando minhas mais sinceras confissões.

Aliás, preciso dizer que já perdi a conta de quantas vezes eu rezei baixinho, com os olhos marejados, só para depois notar que não tinha ninguém ali para ouvir minhas reclamações sobre as besteiras da vida.

Mas se por acaso o universo é de fato uma grande criação de uma força maior e, dessa forma, somos todos filhos de uma energia que tampouco compreendemos, eu peço do fundo desse meu coração barulhento que, ao menos dessa vez, me escute.

Por favor, eu preciso de Você.

Sei que provavelmente estou sendo dramática. Sei que o mundo está um caos e que meus conflitos são migalhas de pão quando comparados a tudo que está acontecendo na sociedade. Juro que eu sei de cada uma dessas coisas. Mas eu estou encurralada, entende? Cheguei em uma fase da minha existência que, aparentemente, não possuo absolutamente ninguém para me aconselhar. E, por isso, eu me encontro tão perdida quanto aquelas plantas que florescem sob as sombras das grandes árvores da Amazônia.

A verdade é que não há luz nessa minha densa floresta, Senhor. E se eram as estrelas do meu céu quem deveriam iluminar meu caminho, talvez todas elas tenham saído para caçar as nebulosas de esperança que vagam pelo vácuo e, por algum motivo, nunca mais retornaram. Assim, não há raios solares invadindo meu peito aberto, tampouco tem alguma luz no fim do túnel.

É bem provável que, em vez disso tudo, haja uma parede de concreto impedindo minha passagem, a qual está marcada com pichações que gritam em meus pensamentos: Você precisa voltar! Recomeçar! Apenas volte e se reescreva de novo!

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