Ontem eu tentei caçar as estrelas que pairavam sobre nós, apenas para dá-las a você. E eu queria muito ter o dom de ser mais do que sou, porque sei que você merece todo o universo, e, infelizmente, limito-me a ser um mero satélite natural. Mas se é...
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Dizem que a Terra foi o resultado de restos de poeiras e gases espaciais da explosão que deu origem ao universo e, dentre tantos outros astros, também ao Sol.
Eu estava pensando se essa não seria a explicação mais fascinante para o amor: Depois de um turbulento ecoar de sentimentos, os quais se chocam e eclodem, nascem inúmeras possibilidades para aquelas pessoas envolvidas. Cada possibilidade é uma estrela, uma ideia para o futuro. E nós somos gases e poeiras, os restos das fantasias que contamos para nós mesmos. O que surge com isso tudo é a verdadeira história.
E a Terra é o amor real, bruto e puro de um universo de fantasias românticas. Assim como nós.
Como se o amor fosse a sobra de sensações avulsas que despertaram no vácuo da alma. Faz sentido, não faz?
Mas quando ouço você chegar, estou sentada no chão frio, encarando indecisamente a nossa estante de livros e ignorando meus rotineiros devaneios. Seus passos estão suaves e emitem um som cada vez maior, indicando que logo estará na sala e me perguntará o porquê de eu estar com uma caixa de fósforos nas mãos.
Como quem já conhece o final do filme antes mesmo de assistir a ele, você aparece e começa a rir da cena que se apresenta sob seu olhar.
"Me diz que esse cheiro de queimado não tem relação com essa caixa de fósforos", você está mais calma que o normal e, entre as covinhas e dentes que se mostram em seu rosto, diz.
"Não. Esse cheiro tem relação com o nhoque que eu esqueci no forno. Quanto ao fósforo, tenho outros planos para ele". No mesmo instante que falo, você já está revirando os olhos, desapontada por eu ter falhado novamente na arte de cozinhar.
"Mas eu pedi uma pizza de quatro queijos e fiz batata frita", sussurro a fim de fugir da culpa.
O problema é que você não é de se render tão facilmente.
"Eu vou tomar um banho rápido enquanto a pizza não chega. E, por favor, tente não colocar fogo no apartamento". Você sai fingindo estar brava e reclama de mim para a Urbana, principalmente porque acabei de gritar que vou apenas tentar.
Apenas tentar. Não posso prometer nada.
A verdade é que eu estou assustadoramente disposta a queimar todos os livros de autoajuda que temos. Não suporto mais olhar para aqueles títulos tão rasos: "10 passos para ser feliz", "25 jeitos de conquistar quem você ama", "16 coisas que todo mundo precisa saber".
(E como diria algumas mães, eu não sou todo mundo).
A ideia, entretanto, nasceu na minha mente três dias depois de eu ter aquele ataque de ansiedade e você, como sempre, me salvar. Percebi, assim, que essas obras nunca nos ensinam o que de fato deveríamos saber.
Nenhum livro nos mostra como lidar com o suicídio de um cantor que admiramos, tampouco com tantos outros problemas que, embora aparentam ser infinitamente pequenos, nos atingem como uma verdadeira bomba nuclear e transformam a nossa forma de viver a vida. Por isso, preciso literalmente ver essas páginas hipócritas serem devorada pelo fogo.
