Mata dos Cocais

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Eu

Não

Quero

Contar

O

Que

Aconteceu

Ontem.


Simplesmente não quero contar porque eu sei que você nunca vai me perdoar.

Meu amor, você e eu estávamos tão distantes, e tenho a certeza mais que absoluta que há um deserto de grãos e mais grãos de mágoas no separando. E eu piorei tudo. Piorei porque não basta a vida já ser complicada como os nós que se mostram nos meus cachos. Não basta, e então a deixei mais complexa que as constelações que dançam sobre nós.

Droga! Sinto que estraguei tudo.

Sim, eu realmente estraguei tudo.

Tenho a impressão de que me perdi na Mata dos Cocais do mundo. Estou presa entre palmeiras que gritam em meu ouvido o quão estúpida e ingrata a minha jovem alma é. E meus olhos marejados estão navegando sobre as folhas finas e largas dessa vegetação que transita entre o clima equatorial e a Caatinga, que dividem duas realidades tão distintas como o nosso passado e futuro.

Sim, é exatamente isso. Eu estou entre as nossas lembranças doces e quentes, nossas lágrimas de felicidade e amor; entretanto, ao mesmo tempo, aproximo-me cada vez mais da secura de um mundo em que você não se encontra ao meu lado.

Não entendo o motivo de eu ser assim: Insegura e impulsiva. Poderia existir pior combinação?

Eu não estou suportando me encarar no espelho. Tenho vontade de espernear comigo e pedir para meu ser-consciente agir como uma pessoa madura.

Droga. Eu já escrevi isso há algumas páginas atrás.

Talvez eu seja um vinil velho que não para nunca de girar, contornando o centro dos meus medos e sem nunca conseguir fugir de mim mesma. Sem nunca conseguir ser uma versão melhor de mim.

E se eu fosse capaz de adquirir um dom nesse exato minuto, desejaria ter o talento de fazê-la feliz. De fazer seus lábios se dobrarem como as curvas de nível que circulam as montanhas japonesas.

Contudo, não estamos no Japão. Não. Eu estou sob um sol cruel, o qual me obrigará a despertar em todos os clarear do céu e notar que a cama agora parece grande demais.

Grande demais para abrigar um ser tão pequeno como eu. Pequeno porque me sinto como um balão de gás hélio que se encontrou com cactos e despencou sobre o lençol.

Meu coração está rachado e com sede. Sede de tê-la comigo, sede de quando eu não era uma completa idiota e não tinha feito nenhuma besteira. E meus lábios, também rachados, imploram baixinho pelos seus, querendo amá-la como nunca.

Mas eu estraguei tudo. Tudo e tudo!

Eu sempre soube que viver é isso. Sei que respirar e acordar são um jeito de dizermos ao Universo que aceitamos todas as mudanças que podem ocorrer no decorrer do dia. Que estamos cientes de que, às vezes, precisamos adormecer como as frutas das Carnaúbas e dos Babaçus, as quais serão colhidas no fim da tarde da amanhã seguinte e se tornarão insignificantes óleos. Óleos que fritarão nosso coração mil vezes, mas que, em algum instante, nos tornarão mais fortes e nos ensinarão que precisamos nos reerguer e seguir em frente.

Só que eu não quero trilhar um caminho sem a sua presença.

Sei que lhe falei o contrário. Sei que sou uma confusão total, quase como um redemoinho de poeira e emoções impulsivas. Sei que a magoei mais do que qualquer outra pessoa. Porém, não sei como voltar no tempo e consertar as coisas.

Perdoe-me, por favor. Perdoe-me por estar deixando para trás nossa floresta equatorial, nosso amor úmido que habitava sob o nosso edredom azul, por estar abandonando nosso porto seguro. Perdoe-me por estar caminhando sem você em direção ao sertão, onde era para ser nosso refúgio para aproveitar tantos segundos juntas.

Eu quero rasgar todas essas páginas. Quero me afogar em folhas mortas e, pouco a pouco, me decompor juntamente com todos os pedacinhos de mim que se quebraram ainda mais quando eu a vi chorar.

Chorar por minha culpa.

Ah!

Eu não quero escrever sobre ontem. Não estou preparada psicologicamente para registrar o que mais desejo apagar da minha mente.

Eu somente queria poder estar abraçando-a e tocando-a. Queria tanto e tanto.

Vou dormir pensando em você e em como esse apartamento não fará mais sentindo quando não a ter mais por aqui. Sem tê-la cantarolando para as paredes verdes enquanto os nossos CDs do Raul Seixas tocam no rádio.


POST-IT

Estou escrevendo esse bilhete para mim: Quando tudo ruir, a culpa será toda minha. Minha e só minha.


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NOTAS:

Hey, chuchus! Eu sei que foi um capítulo curto, mas pretendo fazer um outra atualização em breve. E no domingo será o último capítulo dessa primeira etapa do livro. Sim, pessoas lindas, esse drama todo vai acabar domingo que vem, porque aí vocês vão gostar das surpresas que virão - eu acho. Hahah.

Obrigada por estarem lendo, sou fã de cada comentário que deixam aqui. <3

Beijos!

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