14 - Não fala meu nome assim.

50 8 2
                                    

Brian ainda não estava falando comigo.

Já fazia 3 dias.

Isso mesmo. Desde que eu dei "bronca" nele por pegar minha filha na creche sem a minha autorização, ele não falou mais comigo. E se caso tivesse que me falar algo, pedia pra Joanna ser a mensageira, o que estava fazendo dela, mais assistente dele do que eu mesma. E já estava cansada disso.

Esperei dar o horário que sabia que ele estaria livre no escritório e fui até lá sem nem bater na porta. Brian olhou para mim ao entrar, mas voltou a olhar o computador e fez pouco caso à minha presença. Caminhei até a sua mesa e sentei em uma das poltronas, encarando-o.

— Não sou obra de arte pra ser admirado, senhorita.

— Ah, resolveu falar comigo? Deixou a birra infantil de lado?!

Ele sorriu de canto.

— Estava sentindo falta da minha voz?

— Me poupe, Brian.

— O que faz aqui, então, Pietra?

— Só quero que você pare com essa birra. Qual é, a gente está morando na mesma casa, eu sou sua assistente e mesmo assim, você usa a Joanna como mensageira! – deu de ombros – Você não tem o direito de tirar a minha filha da creche sem a minha permissão, você já sabe um pouco da minha história e deveria ter pensado antes de fazer isso.

— Ok, desculpa, fiz errado. Mas, porra, eu queria te fazer uma supresa que não deu certo porque você saiu da sala mais cedo.

— Eu sou a errada agora.

— Não foi isso que eu disse! – elevou o tom de voz e deu um soco na mesa, me assustando – Desculpa, eu só... Não quero conversar agora.

Ele levantou e foi pra perto da parede de vidro que tinha uma linda vista da cidade, Brian tem o costume de bagunçar os cabelos quando fica nervoso e era isso que ele fazia agora.

— Eu tô tentando agradar você, Pietra, eu já sei o que você passou e quero te mostrar que existem pessoas boas no mundo. Poxa, eu tô fazendo o meu melhor por você e pela Angel, levei vocês pra minha casa... Eu nunca levei alguém lá que não fosse pra reunião de negócios.

Ele ficou quieto olhando pra vista até que veio andando até a minha frente e se agachou, me olhando nos olhos.

— Eu tô fazendo o meu melhor por vocês.

Eu fiquei vidrada nos seus olhos. Não conseguia falar. Não conseguia piscar. Mal sabia o que era respirar. Mas tudo voltou à tona quando senti seus lábios sobre os meus, num roçar leve, e me afastei bruscamente, fazendo a poltrona cair pra trás e o levando junto comigo para o chão. Caímos um ao lado do outro e, claro, que eu tive que ter uma das minhas crises de riso, o que fez com que Brian acompanhasse e ficamos uns bons 15 minutos rindo sem parar. Até ele tentar me beijar de novo, mas, dessa vez, Brian parou antes, deixando nossos lábios mal se tocarem, ele tinha os olhos fechados e suas bochechas estavam levemente coradas. Eu não sabia bem o que fazer, sentia meu corpo e cérebro implorando pra eu sair de perto, mas meu coração pedia por aquele contato, ansiava pelo toque do Brian.

— Brian... – sussurrei.

— Não fala meu nome assim se essa for sua tentativa de me parar – sussurrou de volta e eu ri.

Abriu olhos, me encarando e logo depois se afastou, sorrindo e levantou, dando a mão para me ajudar a levantar também.

— Então, eu acho que vou voltar pra minha sala...

— A não ser que queira voltar pro chão comigo, o que não seria uma má ideia.

Eu neguei com a cabeça, ainda rindo.

— Você ainda vai me deixar louca.

— Você já me fez visitar um psicólogo, então estamos quites.

(...)

Dizer que o dia passou mais leve vai ser bem clichê, mas foi o que aconteceu. Eu mal vi as horas passarem. Quando dei por mim, já era hora de ir embora. Busquei Angel na creche e desci para o estacionamento, Brian já nos esperava ao lado de seu carro e sorriu quando minha filha saiu correndo até ele.

Nosso caminho até sua casa foi preenchido pela voz de Angel cantando suas músicas infantis que aprendera na creche e como disse uma vez, ela já dava resquícios de que tinha o dom.

— Acho que tenho duas cantoras morando comigo – Brian disse sorrindo.

— Você ainda não viu a cantoria dela tomando banho.

— Eu já escutei – o encarei com a sobrancelha erguida – Eu fui até seu quarto ontem pra conversar, mas você tava com ela no banheiro e as duas cantavam. Só que você cantava mais baixinho, dava pra escutar a voz da Angel mais nítida.

— Que invasão de privacidade! – eu disse rindo.

— Mas não fiquei lá muito tempo.

Acenei com a cabeça e voltei meu olhar para a janela, apreciando a passagem enquanto ele dirigia.

Ao chegar em sua casa, Angel foi correndo pra sala, já sabia que por lá teria alguns de seus brinquedos e desenhos animados na grande televisão, já eu fui até o quarto deixar minha bolsa e da minha filha, depois desci pra cozinha. Por lá, tinha uma senhora de cabelos grisalhos e enrolados.

— Hãn... Oi.

— Oi, menina! Brian me disse que tinha moradoras novas na casa, mas não tive tempo de me apresentar! Que cabeça a minha... – riu – Eu sou Luisa, trabalho pra família do Brian desde que ele nasceu e depois vim trabalhar com ele aqui, antes eu fazia de tudo na casa, mas ele me proibiu e agora só faço a comida mesmo.

— Eu sou a Pietra e minha filha, Angelina, está na sala brincando. Ah, então é a senhora responsável por todas essas coisas maravilhosas que a gente está comendo?! Mãos de fada!

— Ai que bobeira, apenas faço tudo com muito amor. Mas de verdade, estou surpresa e muito feliz com o Brian estar com uma menina tão boa, ele parece estar muito feliz.

— Ah, nós não... não estamos juntos.

— Ôh querida, achei que estavam!

— Ele está me ajudando muito, mas somos amigos.

— Tudo começa na amizade, minha querida.

Minha vida depois de você Onde histórias criam vida. Descubra agora