Três anos se passaram. Angelina está com quase três anos e eu já completei 19. Sara e Kevin, meus melhores amigos, batizaram minha pequena na semana passada, e mimam ainda mais agora. Minha vida num geral não está sendo fácil. Na verdade, nunca foi. Meu pai voltou a falar comigo logo depois que eu descobri a gravidez, mas meus hormônios lá em cima e sua ignorância, fizeram a gente brigar feio, nos afastando de novo, porém ele continuava sendo o avô coruja, faz pouco mais de uma semana que voltamos a nos falar mesmo, mas ainda não é a mesma coisa, embora eu saiba que ele ama sua neta, ele ainda guarda muita mágoa de mim por ter engravidado tão nova e sendo mãe solteira e "sujado o nome da família".
Minha mãe, por outro lado, sempre me ajudou muito, mas como nada na minha vida é simples, mesmo sendo grata por tudo, ela me deixa extremamente irritada por achar que eu não sei criar minha filha, ou seja, para ela eu não sei ser mãe. Simplesmente porque não tenho rótulos ou limites com a minha Angel, da mesma forma que a deixo brincar de bonecas, brincamos de carrinho, a visto com roupas de menino que acho bonita, saímos parecendo maloqueiras com roupas folgadas, deixo minha filha ser livre pra ser o que ela quiser, mas para minha mãe, isso é um absurdo. Mulher foi feita pra cuidar da casa e da família, meninas precisam brincar de boneca e de casinha, precisam aprender a usar maquiagem desde cedo e a se interessar na cozinha. Mas não minha filha.
Brigamos praticamente toda semana, isso me desgasta muito, ainda mais por ficar em casa o tempo todo. E mesmo depois de 3 anos, todos os remédios ficam trancados e somente ela tem a chave, já as coisas afiadas, a maioria fica escondida em um sinal claro de que eles não confiam em mim. Tentei entrar pra fazer faculdade também, mas tranquei depois que minha filha chorou horrores por não querer ficar com a avó enquanto eu estudava, logo sai para ficar com ela. Meu pai, mesmo não falando comigo, não me deixava trabalhar pra que eu a criasse "direito". Por isso que voltamos a nos falar a pouco tempo, preciso começar a trabalhar e ir atrás do nosso lar. Meu e dela. Ele conseguiu uma vaga para mim como assistente pessoal do filho de um amigo dele que comanda uma das torres da empresa. Não é lá aquelas coisas, mas com os meus cálculos, consigo pelo menos alugar um apartamento, mesmo sendo pequeno.
Victor, atualmente, está noivo. Começou a namorar com Victoria quando Angel tinha 1 ano e meio, com três ele a pediu em casamento. Não é fácil para mim, vê-lo com ela, imaginar os dois juntos, ainda é uma batalha comigo mesma, e só piora quando vejo Angel junto com os dois. Deveria ficar feliz por isso, Victoria gosta muito da minha filha e a trata super bem, mas eu tenho medo, medo da minha menina passar a gostar mais dela do que de mim e eu perder não só o cara que amo, como também minha filha pra mesma garota. Tento ao máximo não deixar que percebam, mas Victor me conhecendo tão bem sabe que eu não me sinto bem com sua noiva perto, por isso ele mesmo evita ao máximo que nós tenhamos contato e na maioria das vezes quando estamos juntos, ela não está.
Hoje será meu primeiro dia trabalhando, segunda-feira, e não faço a mínima ideia do que usar.
— Oi plinxesa.
— Pelo amor de Deus, Sara, não faça isso.
Ela riu.
— O que foi, Pietra? Você não é de ligar nesse horário...
— Começo a trabalhar hoje... E não sei o que usar. Você sempre foi boa nisso, por mim eu iria com calça jeans e algum blusa folgada mesmo.
— Nada disso, pode largar esse estilo de roupa. Que horas você sai hoje?
— As 17h.
— Como você já vai passar aqui pra pegar a Angel – vou deixar minha pequena com a madrinha –, vamos direto para o shopping.
— Não sei se você lembra, mas estou começando hoje, logo não tenho dinheiro.
— Dinheiro nunca foi problema, larga disso. Mas enfim, sabe aquela saia lápis de couro sua? Que usou na festa da Hannah...
— Sei.
— Separa ela, aquele sua regatinha estilo cropped verde militar, um blazer preto, sei que você tem, e um salto. Acessórios é com você. Como seu cabelo acordou hoje?
— Todo amassado, como sempre.
— Deixa ele assim.
— Ok, vou me arrumar e te mando foto.
— Não esquece da maquiagem – revirei os olhos – Não ouse revirar esses olhos!
— Tá bom, Sara. Beijo.
— Beijo linda.
Ri sozinha. Fui até o quarto da Angel e ela ainda dormia profundamente. Tomei meu banho em seguida, coloquei a roupa que Sara escolheu, fiz uma maquiagem leve e deixei meu cabelo longo solto. Mandei uma foto pra ela e recebi a aprovação com vários emojis em seguida. Arrumei a mala da Angelina, separei alguns brinquedos e desci pra tomar café. Meus pais já estavam na cozinha.
— Bom dia filha.
— Bom dia mãe. Oi pai.
Não me respondeu, mas abaixou o jornal e acenou com a cabeça. Me servi com suco de laranja e pão com peito de peru e queijo, sentei perto de minha mãe e comi em silêncio.
— Não vai acordar a Angel?
— Não, vou deixá-la dormir e depois Sara dará a ela o café.
— Por que não a deixa comigo?
— Porque a minha filha não gosta de ficar com você.
— E ela tem que gostar? Só tem que obedecer o que a mãe manda, coisa que nem você faz.
— Diferentemente de você, eu respeito a minha filha e me importo com o que ela gosta ou não. Bom, com licença. Tenho que correr atrás do futuro da minha filha longe daqui.
Subi no quarto, peguei a minha bolsa e a mala da minha filha, desci e coloquei no carro, subindo de novo e a pegando no colo sem acorda-lá. Fui até a Mansão Albuquerque, onde Sara morava e parei no portão para me identificar. Depois disso feito, entrei com o carro até a porta da frente. Sara já nos esperava lá. Deixei a Angel com ela, que prometeu colocá-la no quarto pra continuar dormindo e fui para a Torre Norte dos Kinsley. As duas torres – norte e sul – eram gigantescas e toda espelhada, a recepção era de um bom gosto impecável, toda em tons frios. Cheguei até a os dois homens, acho que são os porteiros, dei meu nome e logo após o telefonema, me deixaram subir até o último andar.
Chegando lá tinha mais uma recepção, dessa vez era uma mulher negra com longas tranças, também tinha piercing no septo o que me aliviou, pois tinha receio de pedirem para eu retirar o meu. Ela sorriu quando me viu entrando.
— Você deve ser a Pietra, nova assistente, certo?
— Certo. Você é?
— Joanna, a recepcionista do andar.
— Ah, ok.
— Pode vir comigo, ele já está te esperando.
— Alguma dica?
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Minha vida depois de você
Chick-LitEsta não é uma história romântica. Ok, talvez um pouco. Mas não daquelas onde a mocinha do bem, conhece o mocinho do mal e ele resolve que ela pode muda-lo e eles se apaixonam e vivem felizes para sempre. Não, essa história é sobre uma garota que fo...