15 - Não quero te soltar mais.

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Dizer que eu fiquei com o que Dona Luisa disse na cabeça durante toda aquela semana, ainda é pouco. Aquela frase de "tudo começa na amizade" me assombrava a cada meio minuto e eu mal conseguia olhar para o Brian, o que fez ele estranhar, já que num dia estávamos quase nos beijando e no outro, eu mal o encarava.

Eu não estou pronta pra ter algo com alguém.

Não sei, ao menos, se um dia me sentirei bem por ser tocada por alguém.

Não é pensando pelo lado negativo, mas depois que se tem um trauma tão grande quanto esse, não é nem um pouco fácil passar por cima. Sei que um dia posso amar tanto alguém a ponto de não me importar com mais nada e me entregar de vez, mas enquanto isso não acontece, estou bem do jeito que estou. E pretendo continuar assim, obrigada.

— Mãe, eu quero ver meu pai.

— Você vai vê-lo na sexta e vai passar o fim de semana com ele, filha. Dois dias e meio só com o papai.

— Tudo isso? – fez um 2 com a mãozinha.

— E mais um pouco.

— Uau. Falta muito pra sexta?

Eu comecei a rir com sua ingenuidade. Como eu queria que ela ficasse desse tamanho pra sempre. — Sexta já é amanhã, meu anjo.

— Meu anjo – deu-me um beijo na bochecha e foi atrás de seus brinquedos.

Dali a dois meses seria seu aniversário de quatro anos e eu já estava a procura de buffet para comemorarmos. Suas festas anteriores foram todas na casa dos meus pais, onde eles alugavam os brinquedos e montavam por lá, mas, dessa vez, eu faria diferente. E ainda melhor, faria sozinha.

Eu estava no meu quarto, sentada na cama com o notebook no colo, uma caneta pendendo na boca e um caderno com várias anotações ao lado. Não era nada fácil fazer festa infantil, havia muitas opções. Angelina brincava no chão com sua nova casa de boneca dada pelo Brian e ria sozinha fazendo as vozes dos personagens.

— Já te falei que você fica linda de coque? – Brian estava me olhando ancorado no batente da porta e ainda usava a roupa do serviço. Provavelmente tinha acabado de chegar, já que dessa vez eu havia ido embora com Angel no meu carro.

— Não, nunca falou.

— Você fica linda de coque – e sorriu chegando perto.

Meu chefe sentou na beira da cama com o tronco virado para mim e eu permaneci na mesma posição, não queria fazer contato visual.

— Obrigada, Brian.

— E então, você vai me dizer o que tá acontecendo ou vou ter que descobrir sozinho?

Nessa hora tive que parar o que fazia para encara-lo. Seu semblante era sério, ele sabia que algo estava errado e descobriria de um jeito ou de outro.

— Não tem nada acontecendo.

— Pietra, em um dia nós quase nos beijamos, agora já faz 4 dias que você mal me olha. Logo você que gosta de conversar com as pessoas olho no olho.

— Ok, tá legal. Eu só fiquei encafifada com uma coisa que me disseram e fiquei na paranóia com isso a semana toda. Olhar pra você me fazia lembrar e voltava tudo.

— Que coisa?

Respirei fundo. — A dona Luisa achou que estávamos juntos, quando disse que não e que somos amigos, ela comentou que tudo começa na amizade e contou a história dela com o marido. Ele, chefe. Ela, secretária. Os dois hoje casados a 37 anos.

— E qual é o problema nisso?

— Esse é o problema: não tem problema. Eu que tô ficando louca.

— Você acha que nós dois podemos ser a Dona Luisa e o seu Geraldo da nossa geração e isso te assusta.

— Não.

— Isso não foi uma pergunta. Pietra, eu sei pelo que você passou, sei o trauma que carrega com você e compreendo seu medo e repulso por intimidade, eu não vou forçar nada. Nunca iria fazer algo do tipo. Eu trouxe vocês pra minha casa sem segunda intenções. Não trouxe você aqui pra te ter na minha cama, não que seja uma má ideia, caso você queira será bem vinda – eu ri negando com a cabeça – mas pode ficar tranquila, desencana. Se for pra ser, vai ser algum dia.

Concordei com ele e sorri fraco.

— Posso te dar um abraço? – ele pediu e eu assenti devagar com a cabeça.

Brian se aproximou, tirando o notebook do meu colo e vendo que eu usava um short curto de malha que havia ficado mais curto por estar sentada, ele respirou fundo, colocando as mãos na minha cintura devagar, senti minha pele arrepiar e meu cérebro implorar por distância, mas eu queria abraçá-lo. Ele estava fazendo tanta coisa por mim e Angelina que eu precisava passar por cima do meu trauma. Por ele. Quando percebeu que eu não o afastaria mais, me puxou para si, fazendo eu parar em seu colo com uma perna de cada lado de seu corpo. Seus brações fortes rodeavam minha cintura com certa força enquanto os meus foram entrelaçados em seu pescoço. Aproveitei a deixa pra mexer em seus cabelos. Ainda mais macios do que eu imaginava.

— Não quero te soltar mais – sussurrou entre o vão do meu pescoço, fazendo eu me arrepiar por inteiro.

— Não solte.

— Nunca.

Minha vida depois de você Onde histórias criam vida. Descubra agora