Minha vida depois de você

16 - Por favor, não.

Sexta-feira passou voando. Logo já era hora de levar Angel pra casa do Victor e ficar até domingo à noite sem a minha menina. Morreria de saudade, mas ela também precisava dele e o próprio Victor já estava cobrando quando ficaria mais tempo com ela, por isso decidimos que Angelina ficaria em fins de semanas alternados entre nós dois, mas quando eu precisasse, poderia leva-la até lá e deixar com ele.

Seria uma rotina nova pra gente, mas seria bom pra minha menina ter mais tempo com o pai que ela tanto ama.

— Tem certeza que não quer que eu vá junto? – Brian perguntou pela milésima vez.

— Eu só vou levar minha filha até o pai dela, somente isso, relaxa.

— Se eu ir junto é garantia de que vocês não terão uma recaída.

— Primeiro: ele está noivo. Segundo: oi?

Ele deu de ombros e deixou eu fechar a porta do carro, mas abriu a de trás e deu um beijo na testa da Angelina.

— Vou ficar te esperando hein, baixinha.

— Eu não sou baxinha, tio Baia, eu sou gande.

— Gigante, meu amor. Até domingo, se cuida.

— Tchau tio Baia.

(...)

O caminho até a casa do Victor foi tranquilo, Angelina estava super animada e vê-la desse jeito me deixava feliz. Não importava o quão ruim as coisas estavam para mim, se a minha filha estivesse bem, tudo estava bem.

A lua já se fazia presente lá ao topo quando cheguei no portão e me anunciei, pude ver que ele estava sozinho, uma vez que o carro de Victoria não estava lá. Meu ex já estava na porta quando parei o carro e ele logo veio pra perto abrindo a porta de trás pra tirar Angel de lá. Desci do carro pegando a bolsa dela e os segui pra dentro de casa. Angelina arrastava seu pai pela mão pra todos os cantos e quando ele pode sentar, ela logo tratou de subir em seu colo pra abraçá-lo.

Minha menina é, com certeza, a pessoinha mais carinhosa e amável que conheço.

Quando Victor enfim teve uma folga do mini furacão, veio até mim que os observava de longe.

— Você parece triste.

— Eu estou bem.

— Pietra...

Suspirei derrotada. De que adiantava fingir que tudo estava bem para o Victor se ele me conhece tão bem quanto eu mesma?! Ele me puxou para um abraço e eu afundei em seu pescoço, nossos corpos sempre se encaixaram bem e nossos cheiros sempre se tornavam uma bela mistura.

— Eu só quero resolver minha vida logo, sabe? Encontrar meu cantinho pra ficar com ela, conseguir nos sustentar e ficar independente dos meus pais e do meu chefe. Sou imensamente grata a ele por estar hospedando a gente na casa dele esses tempos, mas sei lá, eu preciso da minha casa.

— Você já pensou em vir ficar aqui? – o olhei indignada – Qual é, você prefere morar com seu chefe que conhece a pouco tempo do que vir morar comigo que conhece a anos?

— Você sabe meus motivos.

— Você ainda me ama.

— Nunca deixei de amar você, Victor.

— Pietra...

Me soltei de seus braços e me afastei delicadamente, indo perto da janela. Era uma noite estrelada, aos dizeres da minha avó, isso significa que o dia seguinte seria ensolarado.

— Não. Nós já tivemos essa conversa milhares de vezes. Você está noivo da Victoria! Pelo amor de Deus.

Ele se aproximou, mas eu me afastei novamente e ele parou ao perceber.

— Eu amo minha noiva, juro que amo. Mas você... É você, Pietra! Minha primeira namorada, mãe da minha filha, meu primeiro amor. Eu nunca vou amar alguém como amo você.

— Victor, por favor, não – uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.

— Não chora, você sabe que o seu choro acaba comigo.

— Você é feliz com a Victoria?

— Eu sou muito feliz. 

Respirei fundo, sequei minhas lágrimas e o encarei com todos os sentimentos que existiam dentro de mim naquele momento. Queria que ele visse através dos meus olhos como era difícil para mim, mas necessário. Eu não podia dar a ele o que Victoria dava. Eu não podia fazê-lo muito feliz.

— "Don't wanna be stone cold, stone
I wish I could mean this but here's my goodbye

I'm happy for you
Know that I am
Even if I can't understand
If happy is her, if happy is her, I'm happy for you..."

Se a felicidade dele é ela, eu sou feliz por ele. Por mais irônico que seja amar alguém e desejar que essa pessoa seja feliz com outra que não é você, era isso que eu desejava ao Victor. Eu não podia fazê-lo feliz da maneira que Victoria fazia, única felicidade possível que eu dava a ele era Angelina.

Vi escorrer por seu rosto algumas lágrimas e minha vontade era de secá-las carinhosamente e aninha-lo em meu abraço, mas eu não podia e nem conseguiria. Por isso, andei até minha filha dando-lhe um beijo na testa, sussurrei que a amava e fui embora. Deixando meu coração naquela casa.