Prólogo
O dia estava chuvoso, sentada em seu sofá, Sophie tentava prestar atenção no seriado que assistia. Sua mente trazia pensamentos aleatórios do último ano: o acidente com Hiago, o dia em que conheceu Fernando naquela maldita festa, a briga com Lucas na casa de sua avó, a briga entre Natália e Fernando, as ameaças de Rubens... Tudo parecia distante demais.
O toque do celular a despertou daquele limbo.
— Alô! – Ela simplesmente atendeu a ligação sem olhar o número. Estranhou a voz ao telefone, não sabia o que esperar quando atendeu, mas certamente não esperava que fosse Sabrina. — O que você quer? – inquiriu. A garota mal conseguia falar e não deu muita informação, apenas pediu por ajuda.
Sophie ponderou se deveria ajudar. Não era como se sua antiga amiga merecesse algo, mas diante da situação, não poderia negar, se a garota ligou justo para ela, provavelmente algo sério estava acontecendo.
— Certo, estou indo – avisou, já desligando a televisão e disparando para o seu quarto.
Vestiu seus tênis, sua jaqueta de moto, pegou seus documentos e voltou correndo para a sala. Jogou sua carteira e celular dentro da bolsa a tiracolo e pegou a chave da moto e da casa.
— Puta merda, que chuva! – resmungou, trancando a casa e indo para a garagem. — Preciso de um carro.
Sua jaqueta era impermeável, mas a calça não. Nem estava na metade do caminho e já estava ensopada e batia os dentes de tanto frio que sentia, sem contar a visibilidade ruim pela viseira do capacete. Estava arrependida por não ter chamado um táxi.
Ao chegar à casa de Sabrina, encontrou o portão trancado e não adiantou chamar, o que a fez ficar preocupada. Perguntou-se o que poderia acontecer a ponto de Sabrina não poder abrir o portão. Irritada, se pendurou nas grades do portão, tirou uma sequência de lanças e pulou para dentro da casa, algo que faziam quando eram mais novas e amigas e queriam fugir para brincar na rua.
A porta estava aberta, tirou seu capacete e entrou, chamando pela garota. Estava tudo apagado, então seguiu para o quarto e encontrou Sabrina, deitada na cama. A primeira coisa que fez foi acender a luz e assustando-se com o que viu.
— O que aconteceu?! – Deixou sua bolsa no chão e se aproximou, não precisou de uma resposta para entender aquilo. Sangue já manchava o cobertor.
Sophie descobriu a garota e a levou até o banheiro, fazendo-a se sentar no vaso. Voltou ao quarto e pegou seu celular, precisava de ajuda. Procurou por roupas limpas e voltou ao banheiro.
— Veste isso, você consegue?
— Para quem você está ligando? – A voz de Sabrina saiu quase num sussurro.
— Para a emergência, não posso te levar ao hospital de moto – respondeu, levando o celular ao ouvido.
— Não! – disse e começou a chorar, mas Sophie a ignorou. — Se você fizer isso, vou dizer que foi você que me ajudou.
— Hein?! – Desligou a chamada, de boca aberta. — Você é louca? Vim aqui para te ajudar, não tenho nada com isso.
— Aborto é crime, Sophie! Você sabe disso. – Cerrou os dentes e gemeu um pouco antes de continuar. — Não posso explicar para a polícia o que aconteceu.
— Prefere morrer, então?
— Não vou morrer, só...
— Pra que você me chamou, então? Devia ter aguentado sozinha, não sou médica! – Esbravejou, querendo esganar a garota. Sabia que devia ter ficado em casa, agora estava envolvida em mais uma coisa que não era de sua conta. Como se já não tivesse preocupações suficientes.
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Manipuladores do Futuro - O Covil
Science FictionEncrenca deveria ser o seu sobrenome. Sophie entende que não descobriu metade do que precisava sobre sua vida e a agência e não tem certeza se quer mesmo saber do resto. Recebeu ajuda quando precisou, mas agora precisa distinguir melhor de quem vem...