A rua estava escura, Sophie precisou contornar o quarteirão para ir ao terminal de ônibus próximo a Faculdade. Observou o Volvo prata passar por ela duas vezes, aquilo foi o suficiente para fazê-la apertar o passo. Sabia qual seria o próximo passo e lembrou que não precisava mais de seu spray de pimenta e nem da arma de choque, agora tinha algumas vantagens.
O carro voltou e dessa vez não passou por ela, reduziu a velocidade e a seguiu. Depois do que havia acontecido na festa, não pôde evitar que seu coração disparasse. Continuou andando, fingindo não ter percebido nada, mas diferente do que costumava fazer em situações assim, reduziu a velocidade também.
Se fosse apenas algum engraçadinho, o que era mais provável, ele teria uma bela lição e gastaria uma grana no funileiro. Quanto mais o tempo passava, mais certeza ela tinha de que não era apenas um idiota e aquilo fazia seu corpo formigar, uma mistura de medo e adrenalina correndo em suas veias.
Já conseguia ver o terminal, não estava vazio e seu ônibus tinha acabado de chegar. Parou para atravessa a rua e foi aí que o carro parou bem à sua frente, ela se preparou e a porta do passageiro foi aberta.
— Acorda, Sophie! – Sentiu um safanão e despertou, assustada.
— Ave! Não precisa de tudo isso. – Fez cara feia, mas sorriu. — O que foi, Lê, sabe que não gosto de acordar assustada?
— Esqueceu que tem que ir para a faculdade? Foi você mesmo que disse. – Letícia se afastou, indo para a cozinha.
— É verdade, acabei pegando no sono. – Tentou tirar as imagens do sonho que teve da mente e levantou rápido, seguindo Letícia.— Ainda bem que você me acordou, assim não perco a hora do ônibus.
— Quando sua moto fica pronta?
— Amanhã, o tanque novo chegou só no final da tarde, liguei lá para saber, estava torcendo para pegar ela hoje, odeio andar de ônibus.
— Você e metade das pessoas que não têm outra escolha, ainda mais com a condução do jeito que está, pagamos uma fortuna para andar em carroças. Se o Du não tivesse levado meu carro, você podia ir com ele.
— Não tem problema. Só enrolou as coisas por causa dessa palestra agora à noite, ninguém merece! – Esfregou os olhos e arrumou suas coisas dentro da mochila. — Vou subir e escovar os dentes, não posso me atrasar, esse semestre vou precisar de todos os pontos possíveis. Se disserem que lavar os banheiros dá pontos, estou dentro. – Riu, fechando o zíper da bolsa e correndo escada acima.
Sentia-se um pouco culpada por não poder contar a Letícia sobre Eduardo, mas era perigoso e prometeu a ele que não faria. De qualquer forma, como poderia explicar uma coisa dessas?
Lavou o rosto com as marcas do tecido do sofá na bochecha, escovou os dentes e desceu. Não trocaria de roupa para ir assistir a uma palestra chata. Pegou apenas sua blusa de frio para vestir, assim disfarçaria sua blusa amarrotada por cochilar no sofá.
Despediu-se de Letícia e foi para o ponto de ônibus, por sorte, não precisou esperar uma eternidade.
***
O auditório estava lotado, pelo visto não era a única que precisava de pontos na média. O palestrante terminava de arrumar suas coisas em cima da bancada e sua professora indicou o último lugar vago, no último degrau. Passou com dificuldade pelas pessoas, mas conseguiu chegar sem pisar em ninguém. Um cara tirou a bolsa do lugar para ela se sentar. Sophie agradeceu, sem nem olhar para o lado, pelo menos não precisaria dizer a ele que bolsa não senta. Colocou a sua no chão e pegou o que precisava para fazer anotações.
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Manipuladores do Futuro - O Covil
Science FictionEncrenca deveria ser o seu sobrenome. Sophie entende que não descobriu metade do que precisava sobre sua vida e a agência e não tem certeza se quer mesmo saber do resto. Recebeu ajuda quando precisou, mas agora precisa distinguir melhor de quem vem...