Recebendo o novato
Guilherme pretendia contar assim que entrou no carro, mas o medo de como Sophie ia reagir o deixou inseguro e calado. Isso não seria problema se ela não tivesse percebido.
- O que está acontecendo? Achei que você gostaria de ir comigo, mas acho que errei. Você quer deixar para outra hora? Eu levo você de volta e pego um ônibus, digo pra minha mãe que você não pôde ir, invento uma desculpa. - Sophie pediu para dirigir até perto de entrarem na cidade, não gostava de dirigir em meio ao caos, fazia quando não tinha jeito e ficava muito tensa. Então ela falava sem tirar os olhos da pista, mas seu tom era preocupado.
- Não, eu quero ir, mas eu tenho que te contar uma coisa e estou com medo de como você vai encarar.
- Devido aos últimos acontecimentos, não dá para saber a minha reação, nem eu sei. Conta e você vai descobrir. - Tentou soar descontraída, porém, ficou mais preocupada ainda.
- Certo... A gente vai acabar casando e eu não sei até que ponto a nossa relação vai chegar. Se você quiser a separação assim que derrubarmos o comando, não vai importar, mas se a gente ficar juntos... - Ela não olhava para ele nem quando podia e de tão ansiosa que ficou, parou no acostamento e deligou o carro, encarando Guilherme, séria.
- Eu não posso ter filhos.
- Certo. Explica melhor. - Pediu recostando no banco.
- Eu achava estranho nenhuma namorada minha ter engravidado, considerando os deslizes que aconteciam, porém, uma engravidou e não conseguiu levar a diante. Depois disso, ela fez alguns exames e estava tudo bem com ela. Por causa disso ela cismou que queria ser mãe, então eu aceitei tentar novamente, mas infelizmente não deu certo, nenhuma gravidez vingou. Eu fui ao médico e basicamente disseram que a minha contagem era fraca, que as chances seriam mínimas. Os médicos da agência constataram que eu não posso ter filhos por causa de uma doença imunodeficiente que eu tenho, foi passada pela minha mãe, é genético. Como fiz uso do Lúcido, minha doença piorou, tive reação. Hoje ela está controlada, tomo remédios específicos feitos pela agência. - Terminou de contar com o coração acelerado, estava ansioso para saber o que ela diria.
- Pelo que entendi a sua doença não é contagiosa e você fica bem tomando os remédios, mas eles são feitos pela agência, certo? - Ele assentiu. - Então antes de derrubarmos o comando temos que garantir os seus remédios.
- Isso não é problema. Jamais deixaria isso nas mãos deles, tenho como conseguir o remédio sem eles.
- Sobre filhos, eu não pretendo ser mãe tão cedo e se isso for importante pra você, não vejo problemas em tentar um tratamento, fertilização ou até mesmo adoção, tem muita criança cheia de amor para dar e querendo receber também.
- Sério? Você não se importa?
- Não e sabe do que mais, estava pensando em mudar meu anticoncepcional, mas não queria fazer sem os devidos cuidados, agora eu já posso.
- Segundo o Márcio, a gravidez dela foi um caso a parte, depois dos últimos exames, ele disse que minha única chance é de tentar por meios não convencionais.
- Gui, eu não me importo com isso e se você continuar sendo o namorado que é e honesto comigo, não vejo motivos pra pedir uma separação. - Guilherme nunca sentiu tanta alegria, segurou o rosto dela com as duas mãos e deu um beijo demorado. - Podemos seguir? - Perguntou rindo da reação dele.
- Sim, mas eu que assumo agora, já estamos perto.
- Verdade, nem tinha percebido.
Sophie tirou o cinto e Guilherme desceu do carro, entrando pelo lado do motorista enquanto ela passava para o banco do passageio.
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Manipuladores do Futuro - O Covil
Science FictionEncrenca deveria ser o seu sobrenome. Sophie entende que não descobriu metade do que precisava sobre sua vida e a agência e não tem certeza se quer mesmo saber do resto. Recebeu ajuda quando precisou, mas agora precisa distinguir melhor de quem vem...