Espera
O quarto era diferente, mas tinha algo de familiar naquele lugar. Esperava acordar atordoada e confusa, estranhou o fato de estar atenta e pior, lembrar do que tinha acontecido e se frustrar pela fuga que não aconteceu.
Queria sentir medo pelo que estava por vir, porém, não conseguia, de alguma forma sentia que tinha terminado ali, que mais nada ia acontecer. Talvez estivesse mesmo atordoada, pensou, já que não era possível que tudo tivesse acabado, sabia que a tendência era piorar.
Guilherme entrou no quarto e o que era familiar fez sentido, era o quarto dele, tinha o jeito dele, modesto, porém grande, organizado, limpo e seguro.
Ele se aproximou depressa quando a viu acordada e lhe deu um abraço, daqueles apertados e preocupados e não tinha pretensão de soltá-la, não enquanto sentisse os soluços dela.
Mais calma, ela se afastou enxugando as lágrimas e deu um sorriso nervoso.
- Desculpa por esse descontrole.
- Eu que tenho que me desculpar. Planejei tudo certo, não...
- Pode parar! Não foi culpa sua, na verdade, se estou viva e inteira é por culpa sua. - Guilherme se retraiu ao ouvir aquilo, sua mente viajou à noite anterior, quando encontrou Sophie sentada no chão da sala, seu rosto marcado por lágrimas que ela não derrubava mais, tentando abraçar o próprio corpo, meio assustada e meio alheia a situação, completamente atordoada, mas perfeitamente lúcida e firme, como se aquela tortura não fosse nada, resistindo e provocando. Aquela situação acabou com ele.
- Como você está se sentindo? - Atendeu ao pedido dela e mudou para um assunto tão importante quanto o anterior.
- Fisicamente estou bem, do resto eu melhoro depois.
- Sophie, nós precisamos conversar...
- Tudo bem, pode falar.
- Mesmo com a fuga frustrada nós não precisamos nos dar por vencidos.
- O que você quer dizer com isso?
- Vou explicar, mas vou tentar resumir... A Agência aqui no Brasil é apenas a concentração de uma parte de um comando maior espalhado pelo mundo. Temos um comando aqui que segue os padrões da Agência ditadas pelo mundo. O objetivo de termos pessoas como você, chamadas de vates, é ter o controle sobre o futuro, não se trata apenas de dinheiro, mas de poder. Vates ganham bem por suas habilidades e raramente são chamados para serviços externos, porém, não são mais tão comuns. A maioria, quando se descobre capaz, não quer saber sobre os outros ou trabalhar para os outros, então acabam tentando usar o que sabem para benefício próprio sem interferência da Agência e com isso muitos enlouquecem, um deles, em sua obsessão, enxerga apenas o futuro, nunca mais viveu o presente. Pessoas como eu, com a minha função também tem seus próprios objetivos, alguns se perdem, mas são poucos, uma vez que nós temos liberdade e meios de ganhar o que queremos por fora desde que ninguém fique sabendo. O objetivo da Agência é simples: oferecer a possibilidade de controle do futuro para quem interessa, e é aí que você entra e fornece as ferramentas necessárias para que essa pessoa tenha o controle. Para isso, um grande empresário, sabendo que a estratégia do concorrente pra fechar um negócio é melhor que a sua, tira esse concorrente de circulação, e é aí que eu entro. Claro que para fazer esse serviço não sai barato e uma vez feito, o empresário está nas mãos da Agência. A obsessão pelo controle do futuro é tão grande que esse empresário e outros, sempre voltam e aquele que ainda não cometeu um crime, em algum momento o fará e sem perceber, pelo menos não no começo, entregam o real controle á uma organização que tem como objetivo o comando de um país e isso acontece nas maiores potências.
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Manipuladores do Futuro - O Covil
Science FictionEncrenca deveria ser o seu sobrenome. Sophie entende que não descobriu metade do que precisava sobre sua vida e a agência e não tem certeza se quer mesmo saber do resto. Recebeu ajuda quando precisou, mas agora precisa distinguir melhor de quem vem...