cap 10

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Não é justo

Guilherme chegou impossivelmente rápido. Sophie havia deixado a porta destrancada. Ele apenas entrou e sentou ao lado dela no sofá. Sem dizer nada ela o abraçou e continuou a chorar num misto de medo, raiva e indignação.

Recebeu um abraço apertado e afago na cabeça. Permaneceu abraçada a ele até o nervoso passar. Afastou-se e enxugou as lágrimas, mas ainda tremia um pouco.

— Você está bem? – Perguntou com suavidade.

— Como disse no telefone, estou. Pelo menos fisicamente.

— Como aconteceu?

— Na estrada que eu estava tinha um idiota na minha frente. Ele me ultrapassou e ficou lá. Toda vez que eu tentava sair da traseira dele o carro mudava de pista junto comigo. Não adiantou buzinar ou piscar os faróis, tive que manter a mesma velocidade que ele. Um tempo depois veio outro carro atrás de mim e começou a piscar os faróis. De repente esse mesmo carro foi para a pista da direita, se manteve ao meu lado e atirou. Com o susto eu rodei na pista, nem sei como não capotei.

— O carro é pesado por causa da blindagem, por isso não capotou. – Suspirou. Mesmo vendo que a garota estava bem, custava para o seu coração desacelerar.

— Desculpa pelo seu carro. Você me diz quanto fica para arrumar e eu te dou o dinheiro.

— Foda-se o carro, Sophie. – Explodiu sem pensar. — O importante é que você está bem. – Tentou não se alterar novamente. — Eu não tenho um carro blindado por esporte, ele estava preparado para algo assim mesmo. Só não esperava que fosse com você. Você lembra em qual quilometro isso aconteceu?

— Não, mas já tinha passado pelo Frango Assado. Eu nem pensei nisso, eu...

— Calma, isso é suficiente. – A interrompeu, pegou seu celular do bolso e começou a digitar. — Vou tentar encontrar quem fez isso. Não faz o menor sentido, na agência você não tem inimigos ainda, acabou de entrar e nem deve estar no radar da oposição também.

— Não é bem assim... Segundo um bostinha de terno e gravata, eu sou a famigerada Sophie. Se já estou conhecida na agência, provavelmente também sou conhecida na oposição. – O corrigiu.

— Aquela história no jantar rendeu mais do que deveria. – Seu tom tranquilo deixava Sophie mais calma. — Vai tomar um banho. Vou deixar seu chá pronto e dar uma olhada no carro.

Sem retrucar, ela se levantou e foi para o quarto. Estava tão aérea que nem se lembrou de pegar sua toalha, precisou gritar por Guilherme, mas ele não ouviu. Saiu do banheiro nua e molhada. Secou seu corpo e desceu para a sala. O cheiro de hortelã inundava a casa. Não encontrou Guilherme, então foi para a garagem.

Lá estava ele, abaixado analisando algumas balas que ainda estavam enfiadas na porta do carro. Distraído, colocou os projéteis em cima da bancada e tirou fotos.

— Eu peguei uma delas por medo de ficarem pela estrada, achei que seria útil.

— E é. Os tiros vieram de uma submetralhadora. A blindagem é de nível IIIA, a que oferece maior proteção para uso civil. Se não fosse isso você estaria morta. – Num acesso de raiva Guilherme deu soco no capô do carro. — Porra, filho da puta!

Percebendo que sua nova explosão assustou Sophie, ele se desculpou e a guiou para dentro da casa. Ela sentou no sofá enquanto ele buscava duas xícaras, uma de chá e outra de café.

— Conta mais sobre esse bostinha que você falou. – Pediu, mais calmo.

— O nome dele é Douglas. Ele passou por mim e pelo advogado, mas me ignorou, só cumprimentou o Nascimento. Sem pensar eu desejei bom dia para ele. Fomos apresentados e ele disse que não era sempre que se conhecia: a famigerada Sophie, filha da lendária e ordinária Lívia. – Fez uma pausa. Guilherme ouvia atentamente. — Então eu perguntei de qual chocadeira ele saiu ou algo assim. Ele ficou bravo e foi embora...

Manipuladores do Futuro - O CovilOnde histórias criam vida. Descubra agora