Ponta solta

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Ponta solta

Para Lucas a pior parte foi aguentar o falatório do Velho. Queria muito estar com raiva de Sophie e até sentia um pouco, mas quem poderia culpá-la? Queria dizer ao seu pai que não adiantava enviar os melhores e até mesmo ele para recrutar pessoas, se quando elas se aproximavam percebiam que seriam comandadas por um descontrolado.

Marcos tê-lo parabenizado, não significa que não saiba sobre as trocas de braços. Sob o comando do Velho, adquiriam os melhores, mas eles nunca ficavam e quando o faziam, o Velho exercia certo controle doentio sobre eles, isso quando já não eram doentes, como o Fernando.

Porém, Lucas desconfiava que tivesse um pouco do descontrole de seu pai em seu irmão, muito mais uma questão de ter puxado para o pai do que ser controlado por ele.

Seu noivado com Natália não ajudava em muita coisa, era outra maluca, que se sabia o que significava aliança, fingia não saber. Rosana sempre inconveniente, mas não mentirosa, acertou em cheio naquela reunião. Claro, outros sabiam o que estava acontecendo, como Guilherme, que recebia as informações antes também. Todos estavam se mexendo para fazer o mesmo que ele.

O noivado era falso, só faltava explicar mais uma vez isso para Natália, que grudava nele feito carrapicho e exagerava na encenação.

— Chega, Natália! – Não tinha esse hábito, mas gritar foi libertador. Respirou fundo antes de continuar e baixou o tom de voz: — Nosso noivado é uma parceria, lembre-se disso.

— Eu sei disso, mas ficar indo atrás dela não pega bem, as pessoas precisam acreditar nisso que estamos fazendo. – Ela ainda falava alto, fazendo sua voz reverberar pelo quarto dele. — Eu sei que você a queria como parceira, mas eu sou sua melhor chance, preciso que você pelo menos finja respeitar nosso relacionamento na frente dos outros.

— Já entendi. Agora vai, preciso pensar e com você falando na minha cabeça não dá. – Cansado, sentou em sua cama e esfregou os olhos, rezando para não ouvir mais nada.

— A verdade é que ela vai entrar nessa junto com o Guilherme, assim como eu e você e acredite, aquele merda vai estar em grande desvantagem se isso acontecer. Pensa nisso. – Ele ia pensar, seria ótimo ter Guilherme em desvantagem. Mas se ele mesmo queria Sophie ao seu lado e não era à toa, Guilherme devia querer pelo mesmo motivo, o que só traria vantagem.

A melhor coisa que Lucas ouviu o dia inteiro foi a porta de seu quarto batendo quando ela foi embora.

***

Acompanhar os movimentos da Oposição era comum, essa era a forma de evitar ataques e assim, algumas mortes. Sua função era eliminar os inimigos da Agência, algo que ele nunca aprenderia a gostar. Por mais que a maioria fossem pessoas ruins, sabia que não tinha esse direito.

Demorou, mas conseguiu mostrar que era muito mais eficiente sabotar os planos da Oposição ao invés de deixar um rastro de mortes pelo caminho. O problema era que estava ficando cada vez mais difícil, eles estavam se armando e ficando muito organizados.

Estava naquele barranco observando a movimentação em busca de alguma pista sobre um cara chamado Emerson, que tinha provas contra a Agência. Ninguém era capaz de desaparecer por tanto tempo, se isso aconteceu, é porque ele teve ajuda e provavelmente da Oposição.

Como aquele, havia outros acampamentos no meio de reservas, o que também deixava claro que estavam recebendo ajuda de algum político que cedeu o terreno. Tinha certeza de que ninguém fiscalizava aquele lugar.

Desceu o barranco com certa dificuldade, no dia anterior tinha chovido e escorregar era fácil. Manteve o rastreador em uma das mãos durante a decida. A van parecia pronta para sair, grudou o rastreador por dentro do para-choque traseiro do veículo, ativou e se embrenhou na mata, seguindo por outra trilha para chegar à rodovia e pegar sua moto.

Manipuladores do Futuro - O CovilOnde histórias criam vida. Descubra agora