Letícia cantarolava na cozinha enquanto preparava o café da manhã. Era o primeiro dia de aula daquele semestre, Sophie trancaria a matrícula de qualquer forma, mas precisava daquela distração, então decidiu esperar pelo menos o semestre acabar.
Não era sempre que Letícia ficava de mau humor, mas estar alegre a ponto de cantar, isso era novidade.
— Bom dia, Lê! – Deixou sua bolsa no chão e foi beliscar o que a mulher fazia. — Qual é o motivo dessa felicidade toda? – Fez careta quando recebeu um tapa na mão e achou melhor se sentar.
— Tenho alguém para te reapresentar. – O sorriso de mulher estava radiante, daqueles que chegam a doer depois de um tempo, de tanto que estica os músculos e a pele.
— Certo e quem seria? – Sorriu, contagiada.
— Pode entrar! – Gritou, apontando para a porta.
Aquilo não era o que ela estava esperando, mas foi de longe a melhor surpresa. Demorou um pouco para assimilar, mas quando o fez, correu para abraçar o garoto que havia entrado e ele a pegou no colo, com a maior facilidade.
— Meu Deus, Du! Quanto tempo! – Ele a colocou no chão e sorriu, com aquele mesmo jeito de menino, só que num homem muito crescido.
— Meu negão está de volta! – Letícia anunciou e agora Sophie entendia a alegria da mulher. Seu filho estava de volta.
— Sim, voltei, mas ainda não sei se vou ficar, mãe. – Abraçou a mulher, que em comparação com o tamanho dele, se perdeu no abraço.
— Não importa, estou feliz que esteja aqui. – Ela se afastou e começou a arrumar a mesa. — Hora de comer.
Os três se sentaram à mesa.
— Você está enorme, nem parece aquele menino magricela.
— Academia – respondeu, dando uma piscada. — Você continua magricela, com algumas curvas, mas não cresceu muito.
— Daí do alto é fácil julgar tamanho. – Riu.
Eduardo contou que estava visitando a mãe e que pretendia ficar mais, porém, teria que resolver algumas coisas antes. Os olhos de Letícia até brilhavam enquanto admirava o filho conversando. Sophie contou o que andava fazendo da vida, sem os detalhes que obviamente não podia contar e pegou o número do amigo antes de ir para a aula, prometendo que ligaria. Ele até se ofereceu para dar uma carona, mas ela viu o cansaço estampado em seu rosto e recusou, assim também não dependeria de carona para voltar.
Era de longe a melhor notícia para Sophie. Eduardo e ela praticamente foram criados juntos, eles tinham quase a mesma idade e inúmeras afinidades, pelo menos quando eram crianças. As implicâncias também existiam, mas só entre eles, qualquer um que se atrevesse a mexer com um dos dois, tinha que estar pronto para a briga.
Desde sempre Sophie defendia o amigo de outros garotos, que se aproveitavam do porte físico para intimidar Eduardo e ela se aproveitava da surpresa para bater neles, ninguém esperava isso de uma garota. O quadro se inverteu um pouco antes de seu amigo ir morar com o pai, chegando a ajudá-la em três situações.
Os dois precisaram se separar antes da pré-adolescência. Ela não sabe como foi para ele, mas lembra-se do quanto sofreu ao perder o amigo, que nem ao menos visitar vinha, era Letícia quem o visitava na casa do pai. Chorou durante dias e só voltou a fazer amigos que fossem próximos, na adolescência, quando conheceu Carlos e Sabrina.
No fim das contas, seu dia parecia estar começando bem. As primeiras aulas de semestres eram sempre iguais, apenas apontamentos de matérias e pelo menos um professor novo se apresentando. Duvidava que conseguisse terminar aquele semestre com as mesmas notas do anterior, o curso de Psicologia e a faculdade em si, pareciam coisas ínfimas perto do que estava acontecendo em sua vida. Encarou todas as aulas com ansiedade, torcendo para acabarem logo.
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Manipuladores do Futuro - O Covil
Science FictionEncrenca deveria ser o seu sobrenome. Sophie entende que não descobriu metade do que precisava sobre sua vida e a agência e não tem certeza se quer mesmo saber do resto. Recebeu ajuda quando precisou, mas agora precisa distinguir melhor de quem vem...