Capítulo 6 - Inimigos na multidão

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Fortaleza - BRASIL, sábado, 14 de junho de 2014


Gaia observava Masami Nakamura, pai de sua melhor amiga, tentando entender como ele conseguia esconder suas emoções diante de uma tragédia como esta. Ali, em pé, ao lado de Karina Nakamura, sua esposa, e diante do caixão de sua própria filha, o chefe dos contrabandistas permanecia com a cabeça erguida e a cara carrancuda.

Gaia sabia que aquele homem arrogante e prepotente, por mais que tivesse perdido o motivo de sua maior alegria e orgulho, jamais permitiria que seus inimigos o vissem dissuadido ou acuado.

"Jamais", Gaia sussurrou reprovando a frieza de seu inabalável semblante. Ela sabia que aquilo era apenas um recado endereçado aos seus inimigos. "Haverá retribuição", estava certa. E mesmo que ele não soubesse a verdade sobre o que realmente aconteceu com Geovana, alguém pagaria o pato.

Coincidentemente o olhar de Gaia encontrou o de Masami, o homem que ela se acostumou a chamar de "tio". Gaia corou, não sabia como reagir. Ela queria ir até ele, queria abraça-lo, chorar em seu ombro.

Ele, porém, a encarou com sua cara carrancuda, e por alguns instantes ela imaginou que ele soubesse a verdade. Tremeu por ser confrontada dessa maneira, por esconder a verdade, não com a mentira, mas com a omissão. E para ela, isso era covardia.

Mas com um tímido aceno de cabeça e esquivando o olhar em seguida, Massami acalmou os demônios de Gaia. Sentida, achou melhor imaginar que a atitude fosse apenas uma tentativa de evitar as lembranças que ela, indiretamente, da memória o fazia resgatar.

A líder da equipe Ômega, porém, entendia perfeitamente o que todos os membros daquela poderosa família estavam sentindo naquele momento. Tudo aquilo, toda aquela situação embaraçosa de tristeza e agonia, lhe fazia lembrar da noite em que sua mãe morreu, vítima de um câncer. E foi naquela mesma noite que as visões com o Anjo da Morte começaram. Todos achavam que era apenas alucinações causadas pelo choque emocional. "Eles estavam errados", Gaia sussurrou com desgosto, voltando do passado. "Eles estavam errados! Só eu sei o que vi naquele dia, sou eu sei o que vejo agora, e só eu sei o que estou sentindo neste momento! Só eu sei, só eu sei..."

Sobressaindo à multidão estava um ser de aspecto sombrio. Ele era pálido como a morte e carregava consigo uma foice afiada. Suas asas eram negras e pareciam estar chamuscadas, ele as usava para cobrir o corpo. Seu rosto era largo, mas cadavérico, e seus olhos de um amarelo profundo e mórbido.

Gaia tremeu, o coração batendo acelerado, as mãos suando frio e as lágrimas saltando de seus olhos. "Não deveria ter vindo" sussurrou baixando a cabeça. "Não deveria ter vindo" repetiu sem controle. "Por que não me deixa em paz?" Perguntou mas sem querer ouvir resposta. "Por que não me deixa em paz?"

"Porque ainda não acabou."

Gaia arregalou os olhos puxando ar para os pulmões, assustada com o que acabara de ouvir nitidamente em seus ouvidos.

- Gaia? - Gaia reconheceu a voz grave de Domini. - Você está bem?

Ela se agarrou em seu braço e disse que sim com a cabeça. Tentava se recompor enquanto buscava vestígios do inimigo que tinha sumido na multidão. Domini queria levá-la até a capela, mas ela, sem soltar seu braço, garantiu que estava bem.

- Foi só uma vertigem - disse ela. - Mas fique aqui, caso volte.

- Não vou te deixar - disse ele.

- Ninguém aqui vai te deixar, Gaia - Valquíria reforçou com doçura, Gênesis, atento, logo atrás dela. - Tem a minha palavra.

Gaia se sentiu mais animada com o apoio de seus conselheiros. Era como se a Ômega tivesse voltado ao início, quando todos tinham o mesmo propósito. Aquilo lhe encheu de esperança.

A ORIGEM DA GUERRA - O MUNDO PERDIDO DOS FILHOS DE ADAM - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora