Capítulo 1 - Missão suicida

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Parte I - Sábado triste

Fortaleza da Cidade de Refúgio - BRA, sábado, 14 de junho de 2014


Gaia de Magalhães mergulhava na tristeza do profundo silêncio da Sala de Reuniões do Conselho da Ômega. As lágrimas rolavam por um caminho já traçado em sua face e gotejavam pesadas no piso, insuficientes para lavar a alma, muito menos amenizar a dor de mais uma perda.

O mundo de Gaia desabou quando soube do assassinato de Geovana Nakamura, sua melhor amiga, no dia anterior, uma sexta-feira 13, no momento em que retornava para a Fortaleza da Cidade de Refúgio, dividindo sua atenção com a BR-116 e a tela do iPhone, onde as imagens do telejornal eram transmitidas e o pronunciamento do âncora destacando a terrível notícia.

- E mais um crime bárbaro ocorreu hoje pela manhã aqui em Fortaleza. Uma jovem foi executada com três tiros na cabeça dentro de um táxi, no cruzamento da avenida Barão de Studart com a rua Tenente Benévolo, no bairro da Aldeota. A repórter Yasmim Amaral tem mais informações...

- Geovana Nakamura voltava da faculdade por volta das dez horas da manhã quando, segundo testemunhas, um homem, em uma moto, se aproximou do táxi enquanto o semáforo estava fechado e efetuou os disparos - as imagens do vidro atingido e o sangue espalhado pelo interior do veículo foram exibidas à medida que a repórter continuava sua narrativa. - A polícia suspeita que o assassinato tenha ligação direta com a disputa pelo controle do contrabando na capital, já que a jovem assassinada era a filha de Masami Nakamura, o empresário japonês que é acusado de ser o chefe de uma organização criminosa que atua tanto no Ceará quanto nos demais estados do Nordeste. O taxista também foi alvejado, mas sobreviveu. Ele foi socorrido por uma ambulância do SAMU e levado às pressas para o Instituto Dr. José Frota e submetido a cirurgia. O quadro de saúde dele é instável.

- Geovana Nakamura tinha vinte e dois anos e era estudante de medicina - lamentou o âncora. - Agora, vamos mudar de assunto? Depois da vitória sobre a seleção croata, a seleção brasileira se prepara para enfrentar...

Na mesma hora Gaia parou o carro no acostamento e ligou para casa de Geovana, apenas para confirmar a veracidade dos fatos. Choro, gritos de raiva, socos no volante. Tentava entender a situação quando pareceu estar fora de si, como numa visão, olhando a imagem bizarra de um Anjo da Morte exibindo a alma de Geovana Nakamura, como um troféu e como um indicativo de que tudo aquilo era apenas o começo de um colheita, que continuaria silenciosa até encontrá-la. Atordoada, Gaia recuou com a imagem de sangue e morte.

Ofegante, abriu os olhos. Não havia anjos, nem corpos ou sangue, apenas o silêncio inquietante da Sala de Reuniões da Cidade de Refúgio.

- Meu Deus, nos ajude! - clamou em alta voz, quebrando o silêncio do recinto. - Por favor, Senhor, no ajude! Por favor, nos ajude!

Gaia retomou a compostura quando um jovem sarnento, de pele clara, que caminhava com passos cautelosos, entrou no recinto. Joaquim Alves, ou simplesmente Gênesis, era um dos conselheiros remanescentes da equipe. Gaia olhava os cachos desgrenhados de sua cabeleira cor-de-fogo, que ela dizia ser uma imitação barata do zagueiro Davi Luís, e para os olhos castanhos, que refletiam a imagem controversa da insatisfação.

- Quais as novidades? - Gaia se adiantou na pergunta, sua voz soando arrastada.

- Algumas, mas... - Gênesis hesitou.

- Continue - Gaia pediu com ansiedade.

Gênesis desviou o olhar. Nas janelas, a escuridão da noite chuvosa era profunda. Gaia sabia que ele estava buscando coragem para falar o que queria. E ele falou:

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