A ORIGEM DA GUERRA - O MUNDO PERDIDO DOS FILHOS DE ADAM - Livro 1

Capítulo 18 - Guardados e protegidos

Vale do refúgio – BRA, sábado, 14 de junho de 2014

Às margens de um riacho, que serpenteava toda a extensão do vale, os três seres alienígenas, capturados na capital indiana, permaneciam encarcerados nas esferas de energia, ocultas sob a fauna da flora cearense, longe de olhares curiosos.

Zero dormia tranquilo em uma barraca de camping, armada no coração da mata, longe das esferas, revigorando as forças do corpo esguio para as atividades de logo mais.

Entretanto, os seres alienígenas não imaginavam que seu captor estivesse ali, repousando tranquilamente, e aguardavam seu retorno com expectativa.

- Não podemos ficar assim - falou a mulher alienígena, os braços cruzados, a face preocupada. - Precisamos encontrar uma forma de contatar os Guardiões ellosianos e informar o que está ocorrendo no mundo perdido dos filhos de Adam.

- A energia em torno da esfera é extremamente poderosa, Ellihria - disse o arqueiro alienígena, que estava em pé, à esquerda da mulher, na outra esfera, admirando as nuvens carregadas alterando a cor do firmamento -, não há como rompê-la. Se houvesse, as argolas de Itahiri já nos teriam dito.

Ellihria, a mulher alienígena, olhou para o outro ser, que estava à direita, sentado sobre as pernas, meditando de olhos fechados enquanto suas argolas, uma dentro da outra, percorriam o globo esverdeado sem nunca o atingir.

- Eddahri tem razão, Ellihria - disse Itahiri a Ellihria, percebendo que ela o olhava. - Os pilares alimentam as esferas, corrigindo instantaneamente qualquer falha ou brecha que passe a existir. Nem mesmo sua lâmina é capaz de produzir um único arranhão permanente.

- E se conseguisse - Eddahri, o arqueiro, completou -, o sistema de auto-destruição dos pilares seriam ativados. Uma onda de devastação e angústia se alastraria pela superfície deste mundo...

- Chamando a atenção dos generais ellosianos - emendou Ellihria, disposta a correr o risco.

Eddahri, deixando de olhar para o céu cinzento, mirou Ellihria e falou:

- E como os ellosianos descobririam o que está ocorrendo se não mais existiríamos? - Ellihria guardou silêncio. - Controle sua impetuosidade, irmã. Se o filho de Adam nos quisesse mortos não nos teria colocado nessa esfera onde estamos guardados e protegidos da atmosfera nociva desse mundo.

- E o que faremos, então? - ela, incomodada com a aparente tranquilidade que seus companheiros demostravam, quis saber. - Ficaremos aqui sentados enquanto os rebeldes avançam pelas sombras deste mundo perdido? Não, irmãos meus, digo-vos que não. Se podemos fazer algo, se for essa a única maneira de chamar a atenção dos Guardiões ellosianos, devemos agir.

- Yuri, Yuri Ferreira, o filho de Adam que nos derrotou, não nos quer mortos, Ellihria - o arqueiro disse a ela, sem tirar os olhos do céu. - Se quisesse, o teria feito quando teve a chance.

- Devemos agradecê-lo, então? - ela ironizou. - Por nos colocar um uma esfera ikonstruktory?

- A esfera nos protege da pressão atmosférica deste mundo, que é venenosa para nós, kenorianos.

- Para que ficássemos à merce de sua vontade insana.

- Ou para um propósito maior, que será revelado quando ele retornar. - Ellihria cerrou o cenho e deu de ombros. - E quando soubermos quais são seus objetivos, quando soubermos o que pretende conosco, então agiremos corretamente. Portanto, te digo, devemos aguardar.

- Eddahri está certo, Ellihria - disse o ser que estava sentado sobre as pernas em meditação -, devemos esperar.

- Vós presenciastes o que aquele humano é capaz de fazer - Ellihria insistia. - Eddahri, irmão meu, ele se move como um raio! Três filhos de Ikahri, Guardião de Kenohra, não foram capazes de derrotá-lo. E a humana...

- Experiências - concluiu Eddahri -, é o que tu queres dizer à mim, irmã minha. É provável. Os filhos de Adam, mesmo quando no auge de sua decadência, não possuíam essas habilidades. - Eddahri parou de olhar para o céu e, pensativo, disse -: A não ser quando os Nephilins surgiram. O código genético pode ser transferido de pai para filho.

- Os mortos de nada sabem, Eddahri - contra-argumentou Ellihria e o arqueiro sorriu com simpatia.

- Nem todos morreram, irmã minha - retrucou Eddahri, surpreendendo Ellihria. - Quereis que vos conte a história?

- Sim.

- Ada, filha Naamah, sobreviveu aos experimentos. - Ellihria não estava compreendendo a questão. - Naamah, mãe de Ada, irmã de Tubal-Caim, filho de Lamek, descendente de Caim...

- O primeiro homicida - completou Ellihria.

- Tubal-Caim - Eddahri continuou explicando a história dos descendentes de Caim -, o Ferreiro, o Senhor das primeiras armas geradas do solo contaminado da Terra, obrigou Hadamahra, sua esposa, a participar das experiências oferecidas pelos caídos. Naamah, vendo que os resultados foram favoráveis à mulher do irmão, decidiu participar e também gerou filhos poderosos por muito tempo. Mas quando Ada nasceu, ela não viu na pequena criança nenhum sinal de evolução, como vira em seus filhos e filhas anteriores. Por isso desprezou a pequena e a baniu da família quando cresceu como uma criança comum. Ada fugiu para os montes para não ser morta pelos seus próprios irmãos, e lá encontrou um homem que lhe amparou.

- Noah - disse Ellihria e Eddahri assentiu.

- Ada casou-se com Cam, um dos três filhos de Noah, mas só lhe deu filhos após a devastação do mundo perdido dos filhos de Adam pelas águas do abismo. Ada jamais imaginou que carregava consigo as consequências dos experimentos dos caídos. O código genético dos nephilins aparentemente tinha desaparecido, até que Ninrode, o Valente Caçador, nasceu. Desde então, os ellosianos tem ficado alerta ao despertar do código genético.

- Isso não explica como a tecnologia que nos mantém presos a este mundo perdido se encontra em poder dos filhos de Adam - disse Ellihria.

- Não estou descartando a possibilidade de ter havido experiências, Ellihria - Eddahri retrucou. - Afinal, elas podem ter despertado novamente o código.

- Vós dizeis que esses humanos são escolhidos?

- Digo que os filhos de Adam se degeneraram a ponto de não suportarem as próprias moléstias, que não suportariam a essas experiências se não tivessem o código genético correndo por suas veias; e sim, digo que, semelhante a Ada, filha de Naamah, esses humanos talvez estejam fugindo em busca de abrigo ou mesmo auxílio.

- Eddahri está certo, Ellihria - disse o terceiro ser, ainda meditando. - Eu sou um cientista, Eddahri, um pesquisador, e você, irmã minha, tem a lâmina mais formidável de Kenohra, capaz de destruir qualquer adversário, até mesmo os criadores dessa tecnologia. Sim, talvez eles estejam precisando de nossa ajuda.

- Isto é loucura, Itahiri! Desonra! - Ellihria exclamou furiosa. - Não há alianças entre aliados e rebeldes! Essa é a Lei!

- Pense, Ellihria - disse Eddahri -, se o filho de Adam estivesse aliado a um dos cientistas rebeldes, teria nos trazido a este lugar? - Ellihria não respondeu. - Algo está acontecendo neste mundo e, antes de nos reportarmos aos Guardiões ellosianos, precisamos descobrir o que é.

- Presos nessas esferas rebeldes - disse ela -, não acho que descobriremos muito...

- A esfera nos mantém vivos neste mundo, irmã minha - disse Itahiri.

- Controle sua impetuosidade, Ellihria - pediu Eddahri -, não há como romper a esfera. Se não fossem os condutores de energia, nem comunicação teríamos. Aproveite o tempo para recuperar as forças perdidas durante a passagem.

- Os ellosianos... - Ellihria tentou insistir.

- Os ellosianos vigiam esse planeta de perto, Ellihria - disse Eddahri, sua voz sempre soando calma e pacífica -, o tempo todo. Não tenha medo.

- Não tenho medo - disse ela e se sentou sobre as pernas para tentar repousar. Os cabelos cacheados de mechas multicoloridas caíam-lhe sobre os ombros, a espada reluzente repousava ao seu lado. Eddahri voltou a olhar o céu. - O que buscais?

- Nada - respondeu o outro. - Ouvi falar deste fenômeno... nunca imaginei que o veria com meus próprios olhos.

Falava da chuva, que começava a cair.

- É lindo! - disse ela. - Muito lindo para um mundo perdido.