Capítulo 10 : você está bem?

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De volta à cela, Simon caiu na cama, ouvindo os passos dos guardas recuando enquanto marchavam para longe da porta.

Outra noite.

Outra noite na prisão enquanto o Inquisidor esperava que se “lembrasse”. Entende o que isso parece. Em todos os seus maiores temores, nos piores pesadelos, jamais ocorreu a Simon que alguém pudesse pensar que ele era cúmplice de Valentim.

Valentim detestava integrantes do Submundo, isso era notório. Valentim o esfaqueou, drenou seu sangue, e o abandonou para morrer. Apesar de que, verdade seja dita, o Inquisidor não sabia disso.

Algo se remexeu do outro lado da parede de cela.

— Tenho que admitir, fiquei imaginando se voltaria — disse a voz rouca da qual Simon se lembrava da noite anterior. — Imagino que não tenha dado ao Inquisidor o que ele queria?

— Acho que não — disse Simon, se aproximando da parede. Passou os dedos pelas pedras, procurando alguma rachadura, algo através do qual pudesse espiar, mas não havia nada. — Quem é você?

— Ele é um homem teimoso, o Aldertree — disse a voz, como se Simon não tivesse falado. — Vai continuar tentando.

Simon se apoiou na parede úmida.

— Então acho que vou passar um bom tempo aqui.

— Suponho que não queira me contar o que ele quer de você?

— Por que quer saber?

A risada que respondeu a Simon soava como metal arranhando pedra.

— Estou nesta cela há mais tempo do que você, Diurno. Como pode perceber, não há muito com que ocupar a mente. Qualquer distração ajuda.

Simon cruzou as mãos sobre a barriga. O sangue do cervo tinha enganado um pouco a fome, mas não fora o bastante. Seu corpo ainda doía de sede.

— Você não para de me chamar assim — disse ele. — Diurno.

— Ouvi os guardas falando sobre você. Um vampiro que consegue andar ao sol. Ninguém nunca viu nada parecido.

— E no entanto, há um termo para definir. Conveniente.

— É um termo do Submundo, não da Clave. Existem lendas sobre criaturas como você. Fico surpreso que não saiba.

— Não faz muito tempo que sou do Submundo — disse Simon. — E você parece saber muito a meu respeito.

— Os guardas gostam de fofocar — disse a voz. — E os Lightwood aparecendo pelo Portal com um vampiro moribundo sangrando é uma bela fofoca. Apesar de que, devo dizer, não estava esperando vê-lo por aqui, não até começarem a arrumar a cela para você. Fico surpreso que os Lightwood tenham deixado.

— Por que não deixariam? — disse Simon, amargo. — Não sou nada. Sou do Submundo.

— Talvez para o Cônsul — disse a voz. — Mas os Lightwood...

— O que têm eles?

Fez-se uma pausa curta.

— Os Caçadores de Sombras que vivem fora de Idris, principalmente os que controlam Institutos, tendem a ser mais tolerantes. A Clave local, por outro lado, é bem mais... conservadora.

— E você? — disse Simon. — É do Submundo?

— Do Submundo? — Simon não tinha certeza, mas havia uma ponta de raiva na voz do estranho, como se não tivesse gostado da pergunta. — Meu nome é Samuel. Samuel Blackburn. Sou Nephilim. Há anos integrava o Ciclo, com Valentim. Matei integrantes do Submundo na Ascensão. Não sou um deles.

Filha de ValentineOnde histórias criam vida. Descubra agora