02 - Falando grego

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Se você pudesse sentir as batidas do meu coração agora

Elas te acertariam como uma marreta

02 - Falando grego

Pedir sua ajuda foi um tiro no pé, mas obrigada, irmãozinho.

Uma verdade sobre Debora Kimmich é que ela era uma pessoa de memória muito fraca. Constantemente a irmã de Joshua esquecia o que tinha feito com as chaves do carro, onde havia deixado suas luvas, ou se havia pego o passaporte antes de ir para o aeroporto. Mas ela era ainda o gênio da família de qualquer maneira.

Então, numa segunda-feira à noite, Joshua se viu entrando em uma livraria perto do restaurante que tinha escolhido para comer, porque sua irmã estava ligando surtada, dizendo que tinha esquecido de comprar um presente para um amigo de faculdade, que estava fazendo aniversário naquele dia. Mas por que Debora não saiu para comprar? No telefone, ela disse algo como: "Você tem noção de como é difícil fazer delineado gatinho e não errar? Não posso parar agora que um olho está pronto. E ainda por cima não fiz o cabelo."

Espero que seu amigo tenha gostado do livro sobre futebol. Foi difícil.

Até mais, querida irmã.

A mensagem dela veio um minuto depois:

Ele odeia futebol!!! Só que você tinha que ter visto minha cara. Eu seria uma excelente atriz, porque fingi que era um pegadinha e todo mundo riu no final.

Aproveite o jantar. Até mais, peste.

A mensagem arrancou uma risada do alemão, que acabou chamando a atenção dos seus amigos na mesa.

— O que é de tão engraçado que você não consegue nos dar atenção? — Thomas perguntou, fingindo indignação, ou pelo menos Joshua achou que fosse.

— Minha irmã — ele falou, colocando o celular em cima da mesa. — Meu atraso foi porque eu tive que passar em uma livraria e comprar um presente de aniversário para um amigo dela, só que eu errei feio no presente.

— Mas porque você não comprou uma garrafa de vodka para o cara? – Lewandowski perguntou, um sorriso surgindo no rosto. — Não tem como errar nisso. Álcool.

A verdade era que Joshua não tinha entendido muito bem porque o primeiro pensamento sobre comprar um presente tinha sido em uma livraria. Ele apenas foi, como se algo o guiasse. Pena que ele tinha esbarrado na garota.

Uma garota que fez Joshua até esquecer por um segundo o que estava fazendo. Uma garota com os olhos mais bonitos que já tinha visto. Ele se recordou do modo como os mesmos se encontraram, colidindo-se, ficando presos um no outro.

— Ele tá com aquela cara idiota — Thomas murmurou, puxando os pensamentos do jogador para a mesa, antes de dar um tapa na cabeça dele. Aparentemente, Thomas Müller adorava bater no mais novo.

Que cara de idiota? indagou.

Thomas não respondeu, pelo contrário, fez outra pergunta:

Você está bem, Joshua? De verdade?

Ele ponderou por um momento, antes de responder. Estava mesmo? Tinha passado o treino inteiro com a cabeça em outro lugar, ansiando pela noite, a espera de algo que não sabia o que era. Só ficava assim antes de entrar no campo, onde vários cenários passavam na sua cabeça, um pior que outro, mas era entrar lá, sentir a emoção que as pessoas passavam e a confiança fluindo nas veias, que tudo... acabava. Mas o que estava sentindo agora era diferente.

Dreimal in MünchenOnde histórias criam vida. Descubra agora