Prólogo

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Milene Delilah Blanche

Seattle, 11 de fevereiro de 2017. 15:37hs PM.

Mansão dos Blanche.

Eu poderia começar dizendo o quanto a chuva caia fortemente e seus trovões me assustavam, o quão cinza estava as nuvens e quão assombrado parecia minha rua. Poderia começar dizendo o quão horrível é ficar em casa, trancada e sozinha, sem ninguém além da mim e meu gatinho.

Mas isso não é uma história de terror, é a realidade.

A minha terrível realidade.

O sol estava brilhando e junto à ele o calor de quase 32°C, as nuvens brancas como algodão sem quaisquer resquício de uma possível chuva, o céu tão azul quanto os olhos do meu gato, Raeghar, e a rua levemente movimentada tanto por automóveis quanto por pessoas.

Estava na minha varanda, sentada numa cadeira de sol com um livro em mãos, After era um dos livros mais incríveis que eu já li, era lindo, emocionante e envolvente.

Ah, como eu queria que minha vida fosse como nos livros, com "príncipes encantados" e com um final feliz, com o vilão da história morto ou preso. Mas minhas vida não era um livro, minha vida era a vida real. Onde os monstros são pessoas poderosas e que sempre se dão bem, onde os "mocinhos" sofrem até a morte decidir os levar. No mundo real os vilões tem finais felizes e os mocinhos são os condenados.

Eu era a mocinha, só esperando a morte me levar.

Já eram quase 16:00hs da tarde, ou seja, meu irmão iria chegar do trabalho. Do trabalho que era pra ser meu, da presidência que deveria ser minha, mas ele o tirou de mim. Ele tirou tudo de mim, tudo que um dia eu poderia ter e fazer.

As 16:00hs o monstro que antes eu tinha o orgulho de chamar de irmão ia chegar. E tudo que me resta é esperar ele vir, fazer o que ele sempre faz comigo, e depois esperar ele ir embora.

Essa era minha rotina depois das 16:00hs, sempre assim, desde que meus pais morreram, no ano de 2012. O que me dá 8 anos de sofrimento, 5 anos morrendo e suplicando ajuda em silêncio, 5 anos implorando à Deus que me levasse embora, que ele me juntasse aos meus pais.

Nos primeiros anos eu rezava e tinha esperanças que a qualquer momento alguém iria me salvar e levar o monstro do meu irmão pra longe de mim. Mas os dias foram passando, os meses se arrastando, os anos passaram e aqui estou eu: só esperando minha tão desejada morte.

Os Blanche eram a família mais rica e conhecida em toda a Seattle, todo mundo que mora aqui sabe reconhecer um Blanche. Principalmente se reparar nos traços de um. Traços específicos e fácilmente diferenciados das pessoas comuns. Os Blanche tinham características admiradas no mundo todo. A íris de um verdadeiro Blanche eram de um vermelho escuro e raramente claros. Sim, vermelhos, uma raridade na genética humana que os Blanche haviam tido no seu DNA. Além dos olhos vermelhos, a cor de pele de um Blanche eram tão brancos quase comparados a neve. Os cabelos eram pretos como carvão, tão escuros e ondulados que chegavam a dar inveja em qualquer um por ser tão bonito e ao mesmo tempo natural, sem qualquer tipo de química ou algo assim, até o shampoo mais barato não iria o deixar menos forte ou brilhoso, ele já era assim por si só, o que me causou bastante problemas na adolescência.

Eu já fui eleita três vezes a menina mais bonita do país quando tinha 12, 15 e 17 anos - Não que isso seja lá grande coisa, pelos menos pra mim nunca foi. O que só me causou mais problemas na escola. As meninas me achavam metida e arrogante só por causa do meu nome ou da minha rara beleza, o que definitivamente não era bem assim, os meninos eram sempre um amor pra cima de mim -sinta a ironia-, eu só tinha três amigas verdadeiras naquele lugar. Mônica, Taylita e Lena, minhas melhoras amigas, as únicas que ficavam comigo sem ser por algum tipo de interesse.

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