Capítulo II

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AVISO: PODEM HAVER ERROS DE DIGITAÇÃO!

*Na foto Katherine Johnson.

Frederico

As ondas do Mar estavam calmas hoje. Mal havia movimentação de suas correntes. A sua calmaria era gratificante para mim, pois amenizava o furacão de sentimentos que se instalara em meu peito desde que saímos de Londres.

Voltar ao Brasil agora não estava em meus planos. Na verdade, me envergonho em dizer que a ideia de retornar nunca se passou por minha mente. Por obséquio, não pensem que sou uma pessoa apátrida. Ao contrário, amo meu país, meu berço. Suas terras são magníficas, e suas belezas são encantadoras. Porém, o mal que vigora naquelas terras me fez procurar longe dali um novo lar para viver.

Faz tanto tempo que saí de lá, que pessimamente me recordo da fazenda de meu pai.
Em minhas memórias mais vívidas estão os campos extremamente verdes, e as altas plantações de café. Recordo-me de meu cavalo puro-sangue, do seu pelo brilhante perfeitamente escovado, e de minhas longas cavalgadas por aqueles caminhos terrosos.

No entanto, tenho comigo coisas que faria de tudo para esquecer.

Tais como a fazenda cheia de escravos. Homens e mulheres obrigados a trabalhar como mulas para sustentar a economia. Pessoas discriminadas e rebaixadas por conta da cor de sua pele. Os castigos e os gritos de dor e agonia daqueles pobres infelizes.
Ainda posso ouvir suas lamúrias, e seus pedidos de socorro para o nada, em meus sonhos. Foi por isso que deixei tudo para trás e fui estudar na Inglaterra. E deixaria novamente sem pensar duas vezes, apenas para me distanciar do horror que marcara minha infância.

— Em que pensas, my Lorde? — me assustei ao ouvir a voz de Katherine tão próxima de mim. Estava tão perdido em meus pensamentos que nem ouvi seus passos em minha direção.
Ignorei sua presença por alguns minutos. Não estava disposto a conversar. Por conseguinte, parece que ela sim, pois ao ver que não teria resposta, repetiu a pergunta.

Respirei fundo, e soltei o ar em seguida, deixando claro a dama à frente minha irritação. Eu apenas queria alguns minutos de sossego, porém tudo indicava que sossego era algo que Lady Johnson nunca iria me dar.

— Coisas minhas, senhorita. — respondi secamente, enquanto fitava sem interesse o horizonte, marcado por estrelas brilhantes.

— Estas pensando em mim? — ela perguntou, alisando meu braço. Olhei na direção onde ela me tocava, e suspirei.

— Temo que não, Katherine- respondi a olhando sem emoção.

Pela expressão em seu rosto, a mulher não havia gostado do que eu havia dito. Seu sorriso cheio de malícia, foi substituído instantaneamente por uma carranca mal humorada, e no segundo seguinte, em um bico enorme. Parecia uma criança mimada. Na verdade, era exatamente isso o que Katherine era: infantil e mimada.

— Por que tu és tão mal comigo? — sua voz era manhosa e arrastada, o que me fez revirar os olhos, pedindo mentalmente paciência a Deus para lidar com minha noiva.

—Não sou mau contigo, Katherine. Apenas não estava pensando em ti.

Minha resposta saiu o mais pacífica que eu consegui pronunciar.
Eu estava exausto. Viajávamos há meses. Não que faltasse conforto naquele navio. Contudo, nem todo conforto do mundo significa algo quando tem em sua companhia pessoas com o dom para se tornarem extremamente desagradáveis.

—Mas eu sou sua noiva. — bradou com a voz esganiçada — Tu devias pensar somente em mim.

Era incrível como a cada dia que passa, ela conseguia se tornar mais dramática, e possessiva. Sinceramente, eu não sei o que me levou a amá-la e pedi-la em casamento um dia. Talvez tenha sido sua beleza, pois sim, Katherine é linda. No entanto, o que possui de beleza, não chega nem perto do tamanho de sua futilidade, arrogância, e mau gênio.

Adinkra: O Poder do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora