Capítulo X: Especial Consciência Negra

313 58 46
                                    

♦ AVISO: PODEM HAVER ERROS DE DIGITAÇÃO. ♦

Maisha


O caxambu tocou,
Tocou, tocou
Convidando os nego todo
Pra dançar samba negô

O caxambu tocou,
Tocou, tocou
Convidando os nego todo
Pra dançar samba negô

Samba nego samba sim, senhô
Samba nego, samba já sambou

Samba nego samba sim, senhô
Samba nego, samba já sambou

O batuque animado do caxambu e do candogueiro irrompia no silêncio da noite. A harmonia dos instrumentos, juntamente com as vozes altas dos escravos, davam vida a pequena comemoração que se seguia.

O terreiro da fazenda agora estava lotado de negros, todos dançando, pulando e cantando. Ao longe, posso avistar a alta fogueira, e suas faíscas crepitantes alcançando o céu. A noite, iluminada pela luz das estrelas e da Lua Cheia, traziam mais alegria ao espetáculo que jazia.

Meia noite. Hora exata de dançar Jongo e agradecer aos pretos-velhos, os antigos escravos jongueiros que já morreram.


Eu vou abrir meu Congo ê

Eu vou abrir meu Congo á.

Primeiro eu peço a licença

pra rainha lá do mar 

Pra saudar a povaria

Eu vou abrir meu Congo ê

Eu vou abrir meu Congo ê

Eu vou abrir meu Congo á.

Primeiro eu peço a licença

pra rainha lá do mar 

Pra saudar a povaria

Eu vou abrir meu Congo ê

A voz da escrava mais velha foi ouvida, saudando aos pretos-velhos e pedindo licença para para iniciar o Jongo. Meu coração batia no ritmo dos tambores. O toque inebriante me embriagava, deixando minha mente em um profundo estado êxtase.
 
Involuntariamente, apressei meus passos, procurando encurtar de uma vez a distância até a roda. Berenice, ao meu lado, resmungou algum impropério.

— Menina, ocê tenha calma. Tua mãe não és mais uma moleca não.

— Perdão, mama. — pedi afagando seu braço. — Apenas quero chegar logo na roda. — Minha sorriu, e a medida que nos aproximávamos, ela cantava baixo acompanhando a música.

No meio da multidão, os jongueiros entoavam pontos, contando metaforicamente suas dores, e desgraças. Não podíamos falar nada de forma clara e aberta, pois os capatazes, e a família dos barões, nos assistia. Para eles, éramos um tipo de entretenimento. Por isto, tudo era dito em metáforas, e os jongueiros deveriam ser rápidos para decifrar o significado.

Fechei os olhos soltando o braço de Berenice, deixando que a melodia da cantiga entoada adentrasse meus ouvidos.

Ô Mãe África

Adinkra: O Poder do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora