♦AVISO: PODEM HAVER ERROS DE DIGITAÇÃO.♦Frederico
Alguns dias haviam se passado desde o meu encontro com Tobias. A partir daquele momento, retive-me ao escritório, passando a maior parte de meu tempo examinando papéis e correspondências. Tanto da Fazenda, quanto dos assuntos referentes a Tobias.
Em relação ao primeiro problema, a Fazenda está em uma situação delicada. Há alguns anos a escravidão não é mais algo tão viável quanto era no passado. Além disso, a exportação de café caiu muito. Há uma produção alta em demasia, e em contrapartida, baixas vendas. Isso criou um déficit nas contas. Déficit esse que meu pai não vinha conseguindo resolver. Apesar de ter me formado em Direito, por alguns anos cursei Administração.
A situação se mostra pior a cada documento que analiso. Estou inegavelmente surpreendido. O Barão sempre foi um bom administrador, era estranhíssimo o fato de ter chegado neste ponto.
Já no que diz respeito à minha conversa com meu amigo, desde aquele dia, nos encontramos esporadicamente. Havíamos feito bastante progresso em nossos planos. A resposta dos cearenses tinha chegado há alguns dias, e ao vermos que possuíamos seu apoio, me enchi de motivação.
Estávamos agora reunindo o máximo de mantimentos possível, pois uma fuga em massa ocorrerá em uma das fazendas próximas daqui. Sei disso pois é Tobias quem a está incitando.
Além disso, uma outra responsabilidade havia ficado em minhas mãos: redigir Cartas de Alforria. Contudo, era muito mais complexo que isso. As Cartas de Alforria são muito caras, e praticamente inalcançáveis para os escravos. Para consegui-las, eles levavam anos trabalhando nas cidades. Por isso, estou escrevendo novas Cartas, com valores bem abaixo do que o habitual. A princípio não concordei com a ideia, sou um advogado, e o que estou fazendo é uma fraude. Porém nessa sociedade desmoralizada em que vivemos, as vezes temos que nos sujar para conseguir algo bom.
Esfreguei os dedos em minhas têmporas, tentando amenizar o doloroso desconforto que estava sentindo. Devido ao excesso de tarefas, venho sofrendo de intensas dores de cabeça todos os dias. Há muito eu não trabalho de forma tão compenetrada e obsessiva.
Recostei-me na cadeira, deixando os papéis de lado, e encarei o teto. Estava totalmente absorto em meus pensamentos, quando uma batida forte e frenética na porta, me trouxe de volta a realidade. Não tive tempo, porém, de raciocinar. Segundos depois, uma figura pequena e morena invadiu minha sala. Alícia estava vermelha, e parecia muito querer bater em algo. Olhei-a confuso, enquanto ela caminhava em minha direção pisando duro.
— Algum problema, irmã? — perguntei preocupado. Ela me encarou por um tempo, e instantes depois se pôs a falar como uma tagarela, soltando impropérios e queixas à uma velocidade assustadora.
— Alícia! — chamei-a. Eu não estava entendendo absolutamente nada do que a garota dizia, e sua voz estridente só piorava minhas dores. No entanto, para meu desalento, ela continuou a falar. — Alícia! — chamei novamente. Nada. — CALE-SE, MULHER. — gritei exasperado. Imediatamente ela ficou quieta, e me olhou surpresa. Passei a mão em meus cabelos, tentando me acalmar. Levantei de minha poltrona e andei até ela. — Perdoe-me irmã. — pedi, acariciando seu rosto, e a abraçando protetoramente. — Estou exausto, e essa foi a única forma de fazer com que tu se calasse.
— Me desculpe, Fred. — pediu, sua voz abafada contra meu peito. — Tu ficastes tanto tempo neste escritório. Trabalhar tanto lhe fará mal, meu irmão.
— Sei disso, meu bem. — murmurei, afagando seus cabelos. — Procurarei não exagerar.
— Sabe, Fred. Não conversamos direito desde que chegastes. Sinto tua falta. Ficastes tantos anos longe, mas mesmo agora, que estas perto novamente, te sinto distante. — Alícia agora me olhava. Seus grandes olhos amendoados me encaravam com tristeza. Senti meu coração se apertar. Estava sendo egoísta. Passava a maior parte do dia trancafiado no escritório, e mal falava com minha mãe e irmã. As únicas que realmente me faziam querer estar aqui. Amaldiçoei-me mentalmente por minha negligência.
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Adinkra: O Poder do Amor
Historical FictionSão Paulo, Brasil. Século XIX. O império brasileiro apostava suas fichas no cultivo de café. Grandes fazendas cafeeiras marcavam o território do país. Fazendas cheias de escravos. Escravidão era uma realidade no Brasil há mais de trezentos anos. Mai...