Capítulo IX

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♦AVISO: PODEM HAVER ERROS DE DIGITAÇÃO.♦



Maisha


A grande bacia de alumínio, carregada de roupas do mais puro tecido, pesava demasiadamente em meus braços. Meus passos eram comedidos, e por vezes tive a vil impressão que iria ao chão, juntamente com as peças recém lavadas. Sofregamente, fiz meu caminho até a área de pendurar as roupas, tentando de todas as formas não topar em minhas próprias pernas. Tarefa esta que estava rendendo pequenos gemidos e lamúrias de minha boca.

Não sou de reclamar de trabalho, entretanto hoje o serviço era o triplo. Berenice havia acordado queixosa de fortes dores nas costas. Depois de muita insistência por minha parte, foi que aceitou permanecer na cama. Sinhá Áurea nada disse, além de cândidas perguntas preocupadas.

Por isto, todo o serviço da casa estava em minhas mãos. Não obstante, a noiva de Senhor Frederico, e sua mãe, haviam me incumbido de diversas tarefas: asseá-las; penteá-las; organizar suas roupas; limpar seus quartos, apesar de tais já estarem perfeitamente imaculados; e lavar a maioria de suas vestimentas.

Como uma desvairada, descia e subia escadas a todo o momento, dividida entre fazer o que as senhoras já tinham exigido, e ouvir mais requisições. Alícia ralhava comigo o tempo todo, ressaltando que estas não eram minhas obrigações, e que poderia encargar outras escravas para tais afazeres. Contudo, o Barão não estava em um bom dia, pelas suas expressões furiosas e comentários amargos, isto havia ficado evidente. Neste estado, ele poderia facilmente se zangar com minha mama, e castigá-la, mesmo que a culpa das dores não fosse dela. Portanto, aguentaria qualquer serviço para livrá-la de maus bocados.

Para meu desalento, meu braço começara a formigar, e a bacia pesada, ficava cada vez mais penosa de se carregar. Respirei fundo, fechando os olhos e tentando repor de alguma forma minhas energias.

— Necessitas de ajuda, menina? — dei um pulo assustada, mediante a voz tão próxima de mim. A bacia desequilibrou-se em meus braços, e foi de encontro ao chão. Porém, antes que se chocasse a superfície terrosa, mãos a ampararam. Suspirei profundamente, aliviada em demasia por ter escapado de lavar todas aquelas peças novamente.

— Arre! — ralhei, levando a mão de encontro ao meu peito. — Queres me matar de susto, Rodolfo? — perguntei ao homem parado em minha frente, segurando a salva de roupas. Sério, ele apenas deu de ombros.

— Queira me desculpar. — pediu — Vi como se encontrava em dificuldades, desta maneira, vim lhe ajudar. Não quis lhe pregar um susto. — sentindo as batidas aceleradas de meu coração diminuírem, sorri agradecida, apesar de meu humor pedir-me para insultá-lo. No entanto, jamais o faria. Principalmente quando ele se prestara a me ajudar.

— Tens minha gratidão. — agradeci sincera. — Podes levar esta bacia até o quintal, se faz favor? — com um único aceno de cabeça, Rodolfo se pôs a caminhar em direção ao lugar que lhe indiquei. Ao chegar, dispôs o tacho no chão, e se colocou a me olhar. A medida que ía pendurando as roupas, sua observação  acentuada, me tornava amolada. O que se passava por sua mente, afinal? Aviltada, parei meus afazeres, e o encarei. — O que achastes de tão curioso em mim que não podes parar de espiar, Rodolfo?

Ele, surpreso por conta de minha inquisição, sorriu envergonhado.

— Perdoe-me novamente. — pediu, tirando o chapéu. Suspirei fundo, baixando os ombros.

— Não quis ser malcriada contigo. — respondi, desfazendo uma pequena ruga em um dos vestidos. — Apenas estou exaurida pelo trabalho, e teus olhares me deixaram aborrecida.

Ficamos em silêncio novamente. Enquanto eu pendurava os tecidos, ele alternava seu olhar entre mim, e algum ponto acima de minha cabeça. Sabia desde o princípio que Rodolfo queria me dizer algo, no entanto, parecia não saber como fazer. Assim que pendurei a última anágua, me virei novamente em sua direção.

Adinkra: O Poder do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora