♦AVISO: PODEM HAVER ERROS DE DIGITAÇÃO.♦
Maisha
No dia seguinte, acordei antes do Sol nascer, com o carcarejo das galinhas. Lucia havia tido um sono consideravelmente tranquilo, levando-se em conta pelo o que ela passou. Não houve gritos, nem nada. Ela apenas se mexeu demais, e resmungou algumas coisas desconexas. Parte disso era por conta da febre. Minha amiga estava muito machucada, e por mais que eu a tenha alimentado e medicado, a febre veio. Mas agora, ela já estava em uma temperatura bem mais amena.
Por isso, concluí que poderia sair para preparar o café, e deixá-la sozinha. Mais tarde lhe traria algo que comer, mais chá e pomadas para suas feridas.
Levantar da cadeira foi algo mais difícil do que pensava que seria. Minhas costas estavam um tanto estranhas, e a cada movimento que eu fazia, a dor me fazia querer voltar correndo e me jogar em cima do colchão velho de minha mãe, que apesar de estar muito acabado, era mais confortável que aquela cadeira.
Devagar, e aos tropeços, caminhei até a cozinha. Coloquei a água do café no fogo, e me ocupei em preparar alguns quitutes para o café da manhã. Fiz broa de milho, bolo de fubá, e alguns doces que a baronesa gostava.
Quando Berenice chegou, tudo já estava pronto, e só faltava esfriar para que eu pudesse colocá-los à mesa.
— Como Lucia está? — minha mãe perguntou, após me dar um beijo de bom dia. Despejei um gole generoso de café em uma caneca, e entreguei à ela, que sorriu em agradecimento. O ato de sorrir deixava as rugas ao redor de seus olhos mais evidentes, tornando sua aparência cansada, mas ao mesmo tempo acolhedora.
— Melhor. Vou levar algo para que ela possa comer.
— Precisamos falar com Dona Áurea. Lucia não aguentara trabalhar hoje.
— Será que a sinhá a deixara ficar descansando? — perguntei temerosa. A sinhá era uma boa pessoa, contudo isso não me impedia de pensar que ela poderia fazer pouco caso do que aconteceu. Isso me deixava mal, pois Dona Áurea sempre foi generosa demais, para que agora eu duvidasse de seu caráter.
— Arre, Maisha! Ainda duvidas? — Berenice perguntou, visivelmente aborrecida. Apenas dei de ombros, e torci a barra de minha saia. Sempre fazia isso quando me sentia nervosa.
— Mas e Barão? — ao contrário da baronesa, ele não era lá tão solidário conosco. Pela cara de minha mãe, ela pensava o mesmo que eu. Um pequeno suspiro escapou de seus lábios. Uma lamentação silenciosa sobre os atos de nosso Barão. Fiquei a observando enquanto pegava a vassoura, e varria todos os cantos da cozinha, fazendo com que a poeira levantasse pelo cômodo. Fiz uma anotação mental que precisava fazer uma nova vassoura, porque essa as palhas já não estavam tão boas quanto antes. Berenice me olhou, e tentou sorrir um pouquinho. Seu sorriso era uma forma de dizer que tudo ficaria bem, mas eu podia ver a preocupação em seus olhos.
— Tudo ficará bem, minha Kyauta. — eu torcia para que sim.
Mais tarde, levei o café de Lucia, e ela se mostrou mais bem disposta do que eu esperava encontrá-la. A verdade era que Lucia sempre foi muito extrovertida e alegre, mesmo estando naquelas condições, ela não queria se abalar e perder seu jeito. Ou ao menos não queria demonstrar estar abalada.
Depois, arrumei a primeira refeição do dia na mesa de jantar, e esperei que todos descessem.
A primeira foi Alícia, que assim que me viu semicerrou os olhos.
— Posso saber onde tu dormistes? — pisquei um pouco atordoada diante da imagem em minha frente. Alícia estava com as mãos na cintura, e me olhava de forma nada amigável.
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Adinkra: O Poder do Amor
Historical FictionSão Paulo, Brasil. Século XIX. O império brasileiro apostava suas fichas no cultivo de café. Grandes fazendas cafeeiras marcavam o território do país. Fazendas cheias de escravos. Escravidão era uma realidade no Brasil há mais de trezentos anos. Mai...