DURMA UM POUCO

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  Ele então fez o que pedi, foi comprar os itens da lista. Mas antes de ir, me disse para tomar um banho e dormir.

  E foi o que eu fiz. Tirei minhas roupas isanguentadas e entrei em baixo do chuveiro, no início doeu um pouco. E quando digo um pouco, quero dizer muito. E lavei meus cabelos, esse com certeza foi o banho mais relaxante da minha vida.

  Me enrolei na toalha e fui até o quarto dele, e comecei a xeretar nas roupas do seu guarda roupa. Foi quando eu vi, colado na porta pelo lado de dentro uma foto. Os pais ao centro e Bob e Mark um em cada lado do casal. Pareciam uma familia feliz.

  Essa foto só  serviu para me deixar triste. Não pelo fato de eu não ter uma família, e sim por ter destruído uma.

  Voltei a procurar uma roupa. Eu não sou louca, sabia que eu não iria encontrar nada que me servisse, mas queria me cobrir de qualquer jeito.

  Lembrando que eu estava nua na casa de um homem que eu só vi uma vez na vida.

  Mesmo você não estando afim de escutar eu vou contar a história assim mesmo.

  Bob inventou de irmos passar o natal na casa dos pais dele, ou seja, essa casa. Quando chegamos fomos recebidos muito bem pelos pais dele, o irmão dele estava de saída. Ele cumprimentou Bob e depois a mim, não nos apresentamos, ele só se foi. Depois os pais deles disseram que ele tinha sido aprovado na faculdade e que precisava fazer a matricula, que era em outro estado e que ele não voltaria para o natal.

  Voltando ao assunto. Eu achei uma calça moletom preta, claro que ela ficou larga mas pelo menos ela tinha um cordão, que era  passado por dentro da costura da cintura.

  Amarrei o mais forte possível para não perder as calças. E vesti uma blusa também moletom, cinza claro.

  Me deitei na cama, o travesseiro tinha o cheiro dele. Estava tão exausta que assim que fechei os olhos dormi instantaneamente.
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- Ei acorde! - Mexeu no meu braço.

  Eu então acordei assustada e lhe dei um soco na cara. Quando me toquei quem era fiquei morrendo de vergonha.

- Nossa você sempre acorda assim?! - O seu lábio superior estava com um corte.

- Me desculpe! Você me assustou.

- Pensou que eu ia te morder?!

- Não. Pensei que ia me matar.

- Bem... vontade eu tinha, mas passou.

- É sério, me desculpe mesmo.

- Não foi nada. Você está pior que eu.

- Não digo isso, isso é pra você aprender a não acordar as pessoas desse jeito.

  Ele riu.

- Você não acordava, eu te chamei mil vezes e nada e quando eu resolvi mexer pra ver se assim você acordava e bang na minha cara.

- Esta bem, mas eu não quero pedir desculpas por isso.

- Desculpas pelo o que então?

- Por ter matado seu irmão, vou me arrepender pelo resto da minha vida por isso. Você deve me odiar por isso, não é?

- Sim, não vou negar. Eu te odiei muito.

 Como doeu escutar aquilo. Mas eu não o culpo.

- Não por ter matado Bob, mas por ter tirado minha mãe de mim.

- O que aconteceu com ela?

- Bem... Não vamos ficar remoendo o passado.

  Eu queria saber o que aconteceu, mas deixei quieto aquilo também devia ser difícil pra ele. Ele podia estar sorrindo mas seus olhos estavam tristes.

- Que horas são?

- São duas da tarde de quinta.

 - Eu dormi por dois dias?! - Fiquei surpresa.

- Não, estou brincando. Você dormiu a tarde toda ontem. E agora são dez da manhã. - Ele riu

- Acha graça do que?

- Da sua cara. Você fica bonita assustada.

  Fiquei sem graça e pelo jeito ele também.

- Eu comprei tudo. E acho melhor nós começarmos.

- Eu estive pensando, e acho que se você não quiser fazer isso eu vou entender.

- Não, eu já aceitei, e não volto atrás.

- Você tem certeza? E se você desmaiar ou vomitar?

- Prometo tentar não desmaiar, e se, caso vomitar, tento fazer isso longe de você. Vamos arrumar tudo.

  Cobrimos a cama com um plástico, que era um dos itens da lista. Ele colocou o bisturi e os outros instrumentos na água fervente para serem esterilizados.

  Vesti uma camisola (outro item da lista) e prendi meu cabelo.

  Ele bateu na porta e entrou.

- Você está pronta?

- Sim, e você?

  Ele não me respondeu, ficou ali me olhando pensativo.

- Eu vou dormir com o óxido nitroso, então acho bom você se focar no ferimento. Entendeu?

- Hum...sim, sim. - Disse ele voltando para a realidade.

- Eu estanquei o sangramento mas pode recomeçar a qualquer momento,  adiei o pior da infecção. Mas você vai ter que abrir e remover todo o tecido morto, do centro para fora e depois é só costurar. E tem que fazer o máximo possível para não contaminar tudo de novo. Pronto?

  Ele assentiu,  parecia meio pálido.

- Então boa sorte.

  Me sentei na cama, em seguida aspirando o óxido nitroso.

  E... puf. Apaguei.

O Tiro PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora