Pretérito (Im)Perfeito.

351 27 5
                                    


Pretérito (Im)Perfeito - significado:

Perfeito -indica ações que começaram no passado e continuam no presente. Como uma repetição.

Imperfeito- se refere a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado. Expressando, assim, uma ideia de continuidade e de duração no tempo.

Da autora- como se você estivesse preso a um acontecimento do passado, que te impede de viver o presente, fazendo você não saber distinguir a temporalidade dos momentos. Onde começa e termina cada tempo.

-Play na música até o fim dos dois conversando.

Bem que as gerações passadas diziam. A mentira tem pernas curtas. Ou seja, ela não consegue andar por muito tempo, não consegue se sustentar a longo prazo. Em algum momento ela vacila e você pega a mentira. Mas o problema do mentiroso é achar que nunca vai ser pego; que não pode acreditar em ninguém (isso baseado em sua conduta); e perder a capacidade de perceber quando uma verdade lhe é contada.

Juliana e Rodrigo estavam agora sentados no sofá da sala, nas extremidades, como se o mínimo contato pudesse revelar ao outro toda história que ambos – cada um com a sua – guardavam a sete chaves. A cicatriz do passado que ainda queimava, lembrando que estava ali e não pretendia sair tão cedo. O acordo da conversa foi mudo, ele a encarou, virou e saiu do quarto, e ela apenas o seguiu, como um reflexo.

- Se é pra ficar nesse jogo de silêncio vou me retirar, tenho um compromisso – ela apontou com a cabeça pro celular e ele entendeu o recado entregando o aparelho a ela. Em troca recebeu o porta-retrato.

- O que você quer saber? – ele respirou fundo e a encarou – Aliás, como você sabia que tinha uma dedicatória?

- Minha mãe – ela sorriu triste, os olhos fixos no aparelho em suas mãos, as lágrimas querendo se formar. Percebendo que ele havia continuado em silêncio, ela levantou o olhar e o encontrou com o cenho franzido, visivelmente confuso, então suspirou pronta para revelar algumas partes de quando era feliz. –Ela sempre dizia que há momentos especiais que não merecem apenas ficar registrados em uma imagem, eles merecem algo escrito, uma dedicatória – ela sorriu novamente olhando pra baixo e passou as mãos no cabelo.

Rodrigo sentiu seu coração apertar, não apenas por sentir o pesar na fala da loira, mas principalmente por sentir o seu pesar. A sua dor. Como se a cicatriz tivesse ardendo, abrindo, fazendo questão de lembrar sua presença.

- Digamos que foi um momento muito especial, mas também doloroso – foi a vez da loira franzir a testa e ele suspirar medindo as palavras, afinal não pretendia contar toda verdade – Eu tinha outra irmã, Lua, como ela se intitulava – ele sorri triste encarando a foto – Nesse dia estávamos comemorando uma conquista sua, foi o dia mais feliz e especial da vida dela, é como se o sol tivesse em seus olhos o tempo todo de tanto que brilhavam – a loira sorri concordando e encarando a foto. Você podia sentir e absorver a alegria da menina só de encarar a imagem. – Mas foi nesse dia que toda minha família começou a morrer, e tudo que eu era antes, isso aqui – ele aponta para foto – Nunca mais se repetiu – ele fecha a expressão e joga a foto em cima da mesa de centro indicando que o assunto estava encerrado.

Um arrepio percorreu o corpo da loira e ela sentiu uma tontura se encostando no sofá. O tom de voz dele tinha passado de nostálgico, quase doce, terno, para sombrio, raivoso, assustador. Então ela se ajeitou no sofá e entendeu que era sua vez, ele havia entregado um pedaço de si, era sua vez de compartilhar, era assim que funcionava, não era?!

Coração de pedraOnde histórias criam vida. Descubra agora