Além.

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1. o outro mundo, o mundo dos espíritos; além-mundo;

2. infinito, algo que não termina aqui e nem em qualquer outro mundo;

3. atravessa existências.

A música é para ouvir em replay infinito, coisa mais linda é essa voz desse menino Zeca, e coisa mais linda -ainda- é tudo que ela faz sentir.

XXXXX

Quando uma mãe perde um filho, todas as mães sentem um pouco a dor.

A morte é assim, como o amor, ela sabe transbordar e contagiar.

Prestem atenção.

Quando alguém morre, mesmo que não seja da sua família, mas seja próximo, até conhecido, você sente.

A dor pode não ser a mesma. Mas aquela pontada junto àquelas perguntas sobre nossa existência. Sobre estarmos vivendo com felicidade ou não. Elas chegam.

Quando a morte acontece.

O sofrimento consome. A saudade faz morada.

O tempo para. E o ruim é que você não sabe quando ele retorna a normalidade.

Só resta viver. Santo paradoxo.

Quando se perde um amor, se perde também um pedaço de si.

Na nossa história foram dois. Dois corpos que morreram no lugar de quem amam.

Dois corpos que deram suas vidas pela de alguém. Se é certo, não sei.

Mas que é preciso validar esses sentimentos e tentar entender, sim.

Quando alguém morre, quem permanece vivo só volta a viver, e não apenas existir, quando lhe é dado um propósito maior.

Bem vindos a ele - ou parte dele.


Três dias depois.

A porta se abre, alguém entra com semblante triste, visivelmente acabado, destruído, como se não dormisse há dias, e de fato não conseguia fechar os olhos sem ter pesadelos. Alguém lhe pedia socorro, barulhos de tiro, e muito sangue. Aquilo lhe angustiava, lhe deixava a beira de um surto, mas a mão que sempre esteve ali, presente , ainda que de longe, lhe acariciava os cabelos, empurrando a própria dor para um esconderijo qualquer, para ter forças e lhe dizer:

"Vai ficar tudo bem, uma hora vai ficar tudo bem".

Que horas seria isso? Ninguém podia prever. Nem quem morreu. Nem quem sobreviveu.

Porque depois daquele dia só restaram sobreviventes.

- Você saiu sem me avisar, fiquei preocupada - passos rápidos se aproximaram e um abraço foi selado no meio da sala.

Ultimamente se comunicavam mais dessa forma, em vez de palavras, via-se mais abraços, carinhos, beijos, toques, sendo que há muito não se sentiam livres e abertos para tal.

- Fui devolver os carros que alugamos - a mão passeou pelos cabelos presos em um coque da pessoa a sua frente e um suspiro foi o que ouviu como resposta.

- Ah sim, anotei algo sobre isso - foi até o balcão, pegou o recado em um papel - Ligou faz uns minutos, informando que acharam duas cartas no porta luvas, se você vai retornar para buscar ou pode jogar fora ou entregar a polícia? - lhe encarou com atenção - O certo seria entregar a polícia, não?

Coração de pedraOnde histórias criam vida. Descubra agora