Lembranças

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** Pensamentos da Mal **
Saí daquele corredor horrível o mais rápido que meus pés me permitiam, mas acabei dando de cara com outro corredor enorme. Caminhei a passos largos rumo a única saída que via, ignorando os comentários dos detentos, que haviam piorado bastante. "Vem aqui, delícia!", "A rainha também gosta de fu...". Não é preciso repetir a última parte. "Ela ainda não é rainha Kevin!", "Legal, então eu posso comer ela todinha".

Quando estava prestes a atravessar outra porta, pude escutar Ben atrás de min: "Esse comportamento depressivo será adicionado a ficha de todos vocês!". Segui para a entrada e, quando já estava com a mão levantada, ordenando que os guardas abrissem a enorme porta, Ben segurou meu braço, me fazendo virar e olhar pra ele.

- O que foi Mal? - ele perguntou - Sua mãe fez alguma coisa com você?

Puxei o braço de volta, escapando de seu toque. Aquele gesto pareceu machuca-lo de alguma forma, perfeito, era o que eu queria.

- É claro que deve ter sido ela, né? - respondi com sarcasmo - É sempre mais fácil culpar um vilão, não é Benjamin?!
- Do que você tá falando? O que foi que eu fiz dessa vez?
- O que você fez?! Escondeu de mim que podiam mata-la! Foi isso o que você fez!

Ele pareceu ficar espantado e sem resposta, mas logo tratou de gritar alguma coisa de volta.

- Não disse pois sabia que era exatamente assim que você ficaria! Não queria que ficasse ainda mais machucada - ele tentou se explicar
- E pretendia o que?! Esconder de mim?!
- Não! É claro que não! - ele ficou vermelho nessa hora - Sabe muito bem que eu sou o rei, minhas decisões...
- Ah claro! Como rei você tem o controle sobre tudo, não é mesmo? Mas tem uma coisa sobre a qual você não exerce nenhum controle: EU!

Aproveitei que o guarda havia finalmente aberto a porta e sai em disparada. Logo fui atingida por flash's de milhares de cameras, mas dessa vez não me importei de empurrar quem estivesse na minha frente.

Ignorei o motorista do Ben - que estava com a porta do carro aberta para mim - e atravessei a rua sem olhar para os lados. Já na outra calçada, estiquei o braço, fazendo um táxi parar. Antes de entrar no mesmo, pude escutar Ben gritando do outro lado da rua: "Mal!". Mas já era tarde, eu só queria ir para bem longe dali, sozinha.

Disse para o taxista, com um visível excesso de peso, para que iniciasse a viagem.

** Pensamentos do Ben **

Tentei me focar na pilha de papéis a minha frente, mas era quase impossível. Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento, com milhares de ideias borbulhando no meu cérebro. Por que ela tem que ser tão dramática, ás vezes? Durante todo aquele tempo, ela nunca havia demostrado que se importava tanto com Malévola.

Ela não disse que me aceitava? Não disse que não importava quais dificuldades? Que permaneceria ao meu lado? Por que ela não está cumprindo o que disse?! O Conselho não parava de me ligar, os repórteres quase invadindo o castelo, tentando chegar até o meu escritório. A Fada Madrinha exigia que eu fizesse alguma coisa o quanto antes. Mas, de verdade? Nunca havia estado tão perdido em toda a minha vida.

Escutava o povo? Os Conselheiros? A Fada Madrinha? Ou escolhia um dos grandes ensinamentos que já tive na vida? O de seguir meu coração? No discurso é tudo muito bonito, as palavras são inspiradoras e cheias de esperança, capazes de levantar qualquer um que tenha cavado a própria cova, mas por trás das cortinas a coisa é bem diferente. Não existem "finais felizes" ou beijos de amor verdadeiro, não existe a "vontade do coração". Por trás de tudo isso existem apenas três coisas: poder, escolha e decisão.

Two Worlds - Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora