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Os meus olhos ardiam com a quantidade de luz que tinha sido refletida neles... depois de os esfregar, olho à minha volta e vi que estava numa floresta, sozinha... sinto um ligeiro arrepio, a floresta era densa dificultando a entrada da luz do sol.

Clara- Onde é que estou ?!?

Grito à espera de uma resposta... será isto o treino espiritual ??... eu nem sei o que fazer, não deveriam ter nos dado alguma instrução !?

Fico lá sentada a pensar no que deveria fazer até que ao fundo vejo fumo... levanto-me e corro até o local... a floresta começa a ficar cada vez menos densa até que chego a um campo cheio de flores. Mais ao fundo já se podia ver as casas que de certo pertenciam a uma aldeia... e nela haveria gente que me podia dizer onde estava.
Vou-me aproximando e o som de uma música enche o ar... ouvem-se palmas, pessoas a cantar, crianças a rir... quando chego ao centro da aldeia vejo tendas cheias de fruta, mesas cheias de todo o tipo de comida e as pessoas... com os maiores sorrisos que alguma vez vi.

Rapaz- Junta-te a nós !

Uma criança agarra-me pela mão e leva-me para onde as pessoas se encontravam... todos sorriam, cantavam, dançavam... quando dou por mim também eu sorria.
A música parou de tocar e sentei-me numa das mesas que lá se encontravam.
Todos pareciam estar contentes, inclusive eu...mas, de repente, ouve-se uma sirene a tocar e as pessoas começam  a correr apavoradas... ouvem-se tiros e quando dou por mim vejo-me rodeada de homens com armas.

Estávamos todos no chão e aqueles que ousavam correr eram rápidamente abatidos que nem animais. Sinto as minhas pernas a tremer o meu coração a bater... quando pararam de resistir ouvem-se pessoas a chorar até que alguém fala...

Homem- Amarra-os e certifica-te que não têm armas...

Um a um somos todos revistados e amarrados... à minha direita está a criança que me levou para o meio do vilarejo, estava em estado choque... paralisada a olhar para o chão.

Homem- levem o velho para dentro de uma das casas.

Alguns homens avançaram e agarraram num idoso que deveria ser o ancião

Homem- O resto de vocês vasculhem a aldeia por fugitivos, estes aqui não vão a lado nenhum.

Quando nos deixam sozinhos ouço pessoas a falar...

???- O que vamos fazer ? Não  temos como lhes pagar...

???- Temos de sair daqui... quando souberem que não temos dinheiro nenhum vão nos matar a todos.

???- Alguém nos ajude !

Sinto um arrepio pelo o corpo todo... até há uns dias atrás era uma rapariga normal e agora era um anjo... será que não havia nada que pudesse fazer ?

O rapaz continuava a olhar para o chão, mas algumas lágrimas já escorriam pela sua face... entre alguns murmúrios percebo uma palavra

Rapaz- mãe...

Passaram-se alguns minutos que pareciam horas e por fim o homem saiu acompanhado por um dos seus capangas...

Capanga- Que tal esta... esta parece saber onde o dinheiro está...

Ele agarra numa mulher levantando-a pelos cabelos... a mulher grita com as dores, já de pé e de mão atadas o homem tira-lhe a corda dos pés mas mantém a das mão... mas antes que ele a pudesse agarrar outra vez ela cospe-lhe na cara...

Capanga- Sua cabra...

Ele retira a arma da cintura... mas a mulher dá-lhe um pontapé na mão e a arma voou parando apenas a uns metros de mim... ouve-se um tiro a mulher cai no chão.

Homem- Vencido por uma mulher amarrada... incrível... agarra no miúdo !

O capanga aproxima-se de mim e agarra no rapaz que estava ao meu lado... ele deixa-se conduzir sem tentar fugir.

Homem- só vou perguntar uma vez, se não responderem este rapaz vai ter o mesmo destino que esta defunta aqui...
onde... está... o dinheiro !?!

Um homem fala a gaguejar... e diz a verdade, que o vilarejo não tinha mais dinheiro... ouve-se mais um tiro...

Olho para a frente sinto as lágrimas a correrem pela cara... a criança ainda está viva... olho para o lado e vejo o senhor que pertencia à vila deitado no chão a sangrar... de repente, sinto os meus pulsos livres... devem ter feito mal o nó e sem se aperceberem desato os meus pés...

Homem- Agora é a tua vez pirralho...

Tudo passou em questão de segundos... eu podia fazer algo, eu podia salvar estas vidas inocentes. Corro em direção à arma caida no chão... aponto para o homem... hesito por uns 2 segundos... e se acertar no rapaz ?... mas rápidamente afasto esse pensamento da cabeça, se não fizer nada mais pessoas vão morrer. Disparo a arma. O homem cai no chão. O capanga dele avança até mim com uma faca... aponto outra vez a arma, quase instintivamente... era ele ou eu... mas não tenho tempo para disparar acabo por defender a facada com a palma da mão deixando cair a arma... sinto uma dor horrível, sangue a escorrer, dou um passo para trás a faca está espetada na minha mão... sinto uma raiva enorme dentro de mim... ele merece mais do que uma cuspidela, retiro a faca da minha mão com um grito e avanço até ele dando um salto  e espetando a faca no lado esquerdo do peito... ele cai... e sinto as lágrimas a escorrerem pelo meu rosto... da dor... da raiva ... e de tudo o que eles me fizeram passar... a mim e a todos os cidadãos do vilarejo.

Uma luz forte invade o meu campo de visão e quando volto a abrir os olhos estou num quarto que parecia de hospital, deitada numa cama. Estou completamente transpirada... e a tremer... á minha volta está a Milene e a Sabrina.

Milene- Calma... está tudo bem, já acabou.

Sabrina-  Como te sentes ? Doi-te alguma coisa ?

Sinto o sangue a subir-me à cabeça e fecho os olhos... sem conseguir dizer uma palavra.

Be an AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora