Capítulo 14: Eu ficarei acordado pt.1

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"Não tem ninguém aqui," Tyler disse, abrindo a porta do camarim e jogando para Josh uma garrafa de água. "Já conferi com Michael," ele continuou, lábios levantados em divertimento enquanto ele continuava. "E não tem ninguém aqui para nos ver."

Josh piscou. E ele sabia bem como ser arrebatado pelo sorriso de Tyler.

"Ninguém?" ele disse tentativamente.

Tyler encolheu os ombros, se jogando no sofá oposto ao de Josh. "Tipo, umas dez pessoas até agora."

Apesar dele nunca ter estado aqui pela plateia ou pelo reconhecimento, Josh ainda estava se ajustando à ideia de tocar para um salão vazio. Era inquietante, mas de alguma forma animador ao mesmo tempo.

Não era como se qualquer um dos dois esperassem uma grande reviravolta para esse show, é claro. Isso não era Columbus, ou o Newport; era um botequinho fuleiro no lado sujo de Chicago, onde praticamente ninguém sequer tenha ouvido falar neles em primeiro lugar.

"Isso é uma merda," ele finalmente bufou, sem saber o que mais dizer.

"É uma merda, sim," Tyler confirmou, um sorriso puxando seus lábios enquanto ele dava um gole de sua água. "É a pior coisa. Nós vamos tocar para dez que nunca ouviram falar sobre nós, em um porão nojento, a seis horas de casa."

"É," Josh disse vagamente, franzindo a testa.

"É," ele imitou.

Josh assistiu ele tampar sua garrafinha, jogando-a para o outro canto do sofá e cruzando os tornozelos sobre a mesinha.

"É," Tyler repetiu, sorrindo largamente, sem nenhuma gota de parcialidade. "Eu amo pra caramba shows como esse."

E pela vista de seu sorriso, o coração de Josh inchou grandemente e inexplicavelmente. A essa altura, ele provavelmente tinha se aproximado de Tyler mais do que de qualquer um, mas ainda haviam algumas coisas que ele não conseguia se acostumar, incluindo os lugares altamente improváveis de onde o Tyler parecia tirar sua motivação - pequenas plateias, aparentemente, era um deles.

Para Josh, sempre fora simples: você precisava atrair uma audiência, e quanto melhor a plateia, melhor o show. Mas Tyler, pelo jeito, vivia pela ideia de que mais pessoas - muitas pessoas, um tantão de gente - era o seu último objetivo, era quase como se elas ainda não o merecessem. Ele ainda não tinham recebido os números. Eles ainda tinham que se provar - e era sobre isso que essa turnê se tratava.

Pelo menos, isso era parte dela. E a turnê era sobre nervos e a satisfação também, e afeição quente que percorria o cerne de Josh sempre que Tyler fazia qualquer coisa no palco. No meio de salões sujos, plateia minúsculas, e quase nenhum pagamento, ali estava a intimidade acidental e satisfatória de quartos apertados - dormindo pressionados uns contra os outros em um colchão na traseira da van, compartilhando espaço e membros e suor.

E era esse tipo de proximidade que fazia essa turnê toda parecer um sonho - mais ainda do que esse últimos meses foram. Era surreal assistir o país passar, provavelmente mais dele do que ele já havia visto em sua vida. Algumas vezes Josh se perguntava se ele não tivera começado a sonhar no minuto que conhecera Tyler; nos momentos entre música e afeto e conforto, Josh se encontrava constantemente aterrorizado de que ele iria acordar.

Mesmo assim, mesmo uma aventura, havia a monotonia; viagens de van ofereciam pouco do que fazer além de encarar a rodovia rolando por debaixo deles, e imaginando se isso era real. Então ele passava o tempo assistindo Tyler, gastava horas de exaustão silenciosa, tentando memorizar a geometria de seus lábios onde eles inchavam em seu rosto como cheias e vermelhas flores.

Haviam momentos - na van, ou momentos como este, enquanto as pernas de Tyler estavam enroladas sobre ele no sofá surrado do camarim - onde Josh sentia que eles com certeza estavam pensando na mesma coisa. Que isso, tudo isso, era demais para a mente humana aguentar; como se seus corpos não fossem recipientes suficientes para conter o impacto que eles queriam causar no mundo, e um no outro.

A voz de Tyler arrastou Josh de volta para a realidade.

"Você sabe que será assim a maior parte da turnê," ele disse, com apenas uma pitada de questionamento em seu tom. Ele tinha, Josh se deu conta, confundido seu silêncio com aborrecimento. "Pode ser que seja só o barista e alguns caras bêbados em algumas noites. Podem ser uns garotos aleatórios, ou ninguém."

Josh acenou quase imperceptivelmente. Ele sabia.

Ele desdobrou as pernas, se movendo para se levantar, para andar até Tyler e explicá-lo com seus lábios e suas mãos que ele sabia, mas infelizmente, Mark escolhera aquele momento para entrar, deixando Josh preso no sofá; seus olhos ainda travados com os de Tyler.

"Então, não-"

"Tem ninguém aqui," Josh completou. "É. Nada demais."

Mark levantou uma sobrancelha, mas Tyler parecia satisfeito.

"É," Mark murmurou. "Mas, você sabe. Isso é mais ou menos o que a gente esperava. Nós teremos resultados melhores nos shows de Ohio."

Essa - esperança - era uma linguagem que todos eles conseguiam falar.

"É," Josh concordou, levantando-se e esticando-se enquanto puxava suas baquetas para fora do bolso de trás. "E para os shows em Chicago. Você sabe. Quando nós voltarmos aqui."

Ele se levantou, tomando seu rumo até a porta, em direção à área de trás do palco. Ele jurava ter sentido nele o s olhos sorridentes de Tyler durante todo o caminho.

Dreamers at Best - TRADUZIDA PORTUGUÊS BROnde histórias criam vida. Descubra agora