Diário Virtual

Capítulo nove

A mudança vem aos poucos

Rebeca não dizia nada, apenas o abraçava como se fosse a última coisa que faria em vida.
_Eu sou um lixo Gerson, você nunca me mereceu, você não me merece. Você é um garoto tão bom. _ela chorava passando a mão pelos seus cabelos e rosto.
_Por que está falando isso Beca ?
_Eu não sei se vou ter coragem de contar a você o que aconteceu, eu só sei que eu preciso de você.

Ele a levou para sentar na cama, ela tremia. Gerson a tapou com a coberta,  mas não adiantou. Antes ela tremesse por frio, mas não era isso.
_Bruno veio aqui em casa ontem a noite.
Ela falava fitando o vazio.
_E o que ele queria ? _Gerson tentava se manter calmo, por dentro ele já se ardia de raiva só de pensar em Bruno visitando Rebeca, e de noite. Logo ele.
_Ele veio tirar satisfação sobre a foto. Aquela maldita foto, o que foi que eu fiz!
_Ela se curvou tapando seus olhos com as duas mãos.
_Eu também não entendi, mas eu não te culpo. Tem meses que você anda diferente, fazendo coisas que você não fazia, na verdade você e Ella não faziam. Estão rebeldes.
_É, eu sei, mas não sei o porquê estamos assim. Na verdade, acho que quem mais mudou fui eu né ?
Gerson sorriu delicadamente.
_Se não quiser me contar não precisa, mas eu realmente quero saber o que aquele cara fez com você.
_Tenho medo de contar, eu te conheço Gerson, eu quero que me prometa que não vai fazer nada a respeito.
_Você ta me assustando, o que é ?
_Me promete ?
_Me diz o que ele fez ? _Gerson estava impaciente, Rebeca sabia que ele não iria prometer, e sabia que ele iria querer tirar satisfação, iria ter ódio, mas ela precisava contar. Gerson era a única pessoa em quem ela confiava.
_Ele... nós... passamos a noite juntos. _ela mordia o lábio para não chorar.
_Rebeca isso é sério ? Você...
Gerson se levantou.
_A satisfação que ele quis tirar com você era te levando pra cama ? E você ainda foi com ele pra cama ? Eu esperava mais de você.
_Gerson, você não entendeu _Rebeca chorava, se fosse possível chorava mais que antes, mas não era, ela realmente chorava e muito. _Ele... eu fui estuprada por um amigo seu Gerson.
Rebeca olhava pra baixo com os ombros caídos. Gerson por sua vez a olhava, sem expressão, sem piscar, sem falar nada. Ele só a olhava. O silêncio reinou ali naquele momento. Até que Gerson saiu do quarto.
_Aonde você vai Gerson ? Ta vendo eu queria te fazer me prometer !
Ele descia as escadas, ela o seguia. Ele não respondeu, não falava nada. Nem olhou para a cara da pequena Deyse.
_GERSON ? _Rebeca gritou, mas já era tarde, ele já havia batido a porta.

O rosto de Gerson ainda estava sem expressão, se não fosse o olhar falariam que ele estaria no mundo da lua, mas o olhar dele não era de alguém pensativo. Era um olhar de fúria. Ele passou por uma praça, onde viu Bruno em uma barraca de sorvete. Como se nada tivesse acontecido. Bruno comprava um pote, e estava com uma sacola de presente.
Antes que Bruno pudesse ve-lo, Gerson deu um soco, e mais socos. E todos pararam para olhar. Duas pessoas os acudiram.
_SEU CANALHA ! COMO VOCÊ FOI CAPAZ DE UMA COISA ASSIM? VOCÊ NÃO VALE NADA, SEU VAGABUNDO, EU VOU TE QUEBRAR NA PORRADA.
Com a raiva toda que Gerson sentira de Bruno, ele se soltou de quem o segurava e continuo o batendo, Bruno tentava revidar, mas mesmo sendo forte, até mais forte que o próprio Gerson, ele não conseguia. A raiva passada pela dor do amor consegue ser mais forte do que o físico de alguém.
Gerson parou, Bruno estava destruído e todos olhavam para os dois. Uma pessoa chamava a polícia. Gerson olhou para Bruno com desdém.
_Esse é o meu recado, não entra no meu caminho, nem do da Rebeca e em quem mais estiver ao meu redor.
Ele saiu com as mãos sujas de sangue.

☆

Ainda no incêndio da escola.
_Por que ninguém encontra o Diego ? O que ta acontecendo Gabriela ?
Carol dizia em lágrimas, ali ela percebeu o quanto estava apegada a ele e ela mesmo nem percebia. Não imaginava que por uma bolada em seu óculos se apaixonaria pela pessoa mais popular da escola, nem em seus sonhos ela poderia imaginar algo assim. E agora ele não aparecia, ninguém o achava. Cada hora que passava os bombeiros iam achando pessoas dentro da escola. Algumas vivas, outras bastante machucadas. Outras, mortas. Sim, pessoas tinham dado a vida por outras, pessoas não conseguiram sair a tempo de dentro da escola. Em frente havia pais e mães desesperados, imprensa. Estava um caos.
_Alguém viu o Hugo ? _Gabriela perguntava aos meninos que estavam em frente a escola, amigos do Diego. Que abraçavam e consolavam Carol enquanto não tinham notícias.
Gabriela continuou a procurar pelas redondezas, mas não o encontrava. Quando voltou Carol estava caída chorando, por um momento Ella pensou que fosse algo relacionado ao Diego. Ao chegar ao local se deparou com Esther jogada no chão. Os bombeiros e médicos colocaram um saco preto por cima dela. E foi ai que Ella percebeu o que estava acontecendo.  Foi ai que ela entendeu o desespero de Carol, foi ali que elea paralizou sem saber o que fazer e se pôs a chorar. Ali não havia mais vida, uma amiga se foi. Ela havia ido, para sempre. Ela abraçou Carol com força e as duas choravam descontroladamente.
Hugo apareceu após isso, tinha ido em algum lugar ligar para Gerson, mas ele não atendia. A mãe de Carol chegou.
_Minha filhinha. _e a abraçou.
Hugo olhou para Gabriela, ela estava tentando ser forte. Como sempre.
_Vem cá. _ele estendeu os braços, sem pensar ela o abraçou, se permitindo sentir o abraço dele. Se permitindo apenas sentir aquele momento, aquela dor, aquela perda. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. A cabeça dela estava a mil, e ela nem mais pensava em Bruno, nem cogitava em lembrar que ele existia, ela só queria ficar ali. Naquele momento. Chorando e sofrendo, porém abraçada com o garoto que ela odeia,ou talvez odiava. Ela estava tão confusa...