22 de Maio de 2016
Estava em frente ao caixão de Chiara, seu rostinho angelical dava a falsa denúncia de que ela apenas estava dormindo, mas na verdade ela havia partido para bem longe de mim. Meus pais vieram para o Rio na madrugada em que Chiara faleceu e cuidaram de tudo para o sepultamento dela, eu não conseguia comer, não conseguia encarar e nem pensar em como será a minha vida sem ela agora.
Por cinco lindos anos Chiara foi a minha fiel companheira, minha melhor amiga e a melhor companhia de todas, e em uma dia que era para ser um dos mais felizes de sua infância acaba sendo o pior. Depois que Chiara faleceu, não vi mais Guilherme, não fui mais ao hospital, não sai mais de casa para ser sincera.
Uma dor monstruosa toma conta do meu peito, toda vez que lembro de algum momento de Chiara em nosso apartamento. Os momentos em que ela me fez sorrir, chorar de felicidade e amá-la a cada segundo que passamos juntas. Chiara foi para mim uma salvação, foi quem me deu forças para lutar e correr atrás de meus sonhos e, hoje estou enterrando-a e junta se vai toda a minha vontade de viver neste mundo sem ela.
- Filha está na hora. – Minha mãe se pronunciou ao meu lado.
Apenas afirmei com a cabeça e senti o braço de meu pai me abraçar de lado, fecharam o caixão de Chiara e uma vontade de chorar como criança surgiu em meu ser, mas não fiz. Segurei o choro na garganta e segui o caixão de minha filha, que era carregado pelo meu irmão e meu tio, até o lugar de seu sepultamento.
O padre que realizou o batismo de Chiara também realizou sua missa de finado, todos já tinham ido embora, mas eu não queria sair dali e deixar minha menininha sozinha.
- Emanuelle vamos, você precisa descansar. – Meu pai me chamou.
- Eu não vou deixá-la aqui sozinha. – Falei ajoelhada em frente a lápide de minha menina.
- Ela não vai estar sozinha, filha. – Minha mãe tentou me convencer, mas não adiantou. Nada do que eles dissessem iria me tirar dali.
- Senhor e senhora Araújo, podem ir. Eu fico aqui com ela e depois a deixo em casa. – Ouvi a voz de Guilherme, em seguida o senti se abaixar ao meu lado.
- Você veio... – Sussurrei.
- Eu prometi a Chiara, que cuidaria de você. – O olhei e vi seus olhos vermelhos. – Eu tentei Emanuelle, fiz o meu melhor, mas ela já não estava aguentando mais. A Chiara estava sofrendo e ia sofrer muito mais, talvez tenha sido o melhor para ela e no fundo você sabe disso.
- Eu sei, mas é a minha filha. A única pessoa que eu amei de verdade me deixou, Guilherme. – Chorei em sua frente, sem me importar com o que ele pensaria. Guilherme me puxou para o seu peito e me abraçou.
- Sei disso, é sempre muito difícil perder alguém que a gente ama, perder um filho, mas tente manter só as lembranças boas que você tem dela. Cada momento lindo que viveram juntas, esses irão valer a pena guardar, porque tenho certeza de que Chiara hoje iria querer te ver sorrindo e não chorando.
Afirmei e segurei em seu terno, Guilherme ficou afagando meu cabelo, enquanto eu chorava toda a minha dor. Quando começou a entardecer ele me levou para o seu carro, nós entramos e ele deu a partida. Guiei Guilherme até chegar em meu prédio, assim que ele estacionou ficamos alguns minutos em silêncio, ouvindo apenas o barulho dos carros que passavam na rua.
- Não precisa se sentir obrigado a continuar me vendo, só por causa da promessa que fez a Chiara.
- Eu não me sinto. Pela primeira vez eu me apeguei a uma paciente minha, fiz promessas e desejei com todo o meu ser que ela ficasse boa. Chiara conseguiu me conquistar de um jeito indescritível, ela vai me fazer muita falta, o sorriso e a voz doce dela vai deixar saudades. Mas ao menos tenho lembranças bonitas dela, para sempre sorrir quando ela me vier a mente.
- Obrigada por tudo o que fez por ela. – O abracei.
- Não há de que.
- Preciso entrar, nos vemos por aí.
- Está bem. – Abri a porta do carro. – Se cuida, pense sempre no que a Chiara iria querer para você. Ela estará te vigiando lá de cima.
Sorri, pela primeira vez, e desci do carro, entrei no meu prédio e dei tchao para o Guilherme.
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21 de Julho de 2016
Era meu aniversário, estava completando 25 anos, meus pais me mandaram mensagens parabenizando-me pelo dia e dizendo que logo voltariam para ficar comigo. Guilherme está sempre me mandando mensagem perguntando como estou, nas folgas ele vem me ver e até passa a noite aqui no quarto de hóspedes as vezes. Ele tem sido um ótimo amigo, me dá forças e sempre me faz lembrar da Chiara sorridente e feliz.
- Já vai! – Gritei indo abrir a porta. – Já disse que já vai! – Falei irritada com o fato da campainha não parar, abri a porta pronta para xingar e vi um Guilherme com flores e um bolinho na mão.
- Feliz aniversário. – Sorri, dei passagem para ele que entrou e colocou o bolinho na mesa. – Um passarinho chamado Noélia me contou que hoje é o seu aniversário, fiquei extremamente chateado por você não ter me contado.
- Não estou em clima de comemoração. – Falei me jogando no sofá.
- Não perguntei. Nós vamos cantar parabéns e comer o bolo.
- Nossa, grosso! – Ele mandou beijinho no ar. – Eu não estou afim, Gui.
- Ah, vamos Manu! Você sabe que ela não gostaria de te ver assim justo hoje.
- Tá bom.
Nós cantamos parabéns, eu assoprei a vela e parti o bolo. Ficamos na sala conversando e comendo, enquanto um filme passava na televisão. Ao dar 00h senti meu peito apertar, Guilherme me abraçou e ficou me fazendo carinho, na tentativa de me fazer esquecer do motivo de hoje ser um dos piores dias da minha vida.

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Refúgio
Romance"- Mamãe... _sua voz era falha_" "- Calma meu amor, a ajuda está chegando." "Tentou transmitir calma para menina que esta assustada, com medo, frio e dor. Não podia demonstrar que também sentia medo, que estava aterrorizada e sua maior vontade era d...