Refúgio

Capítulo 5

Trabalhei a manhã toda, tive que agendar e reagendar reuniões para o meu chefe e lembrá-lo de buscar sua filha no ballet. Na hora do almoço tentei falar com o Guilherme, mas não consegui, ele não respondia as mensagens e nem me atendia.

Estava dentro do carro decidindo se ia ou não adentrar o hospital, já são quase 19h e o Guilherme logo vai largar, mas quero encontrá-lo antes disso. Decidida desci do carro, o travei e entrei no hospital.

Na recepção me disseram que Guilherme estava na sala dos médicos, então me encaminhei para lá. Ao abrir a porta o vejo conversando próximo de uma outra médica, ao sentir a minha presença eles se afastam um pouco.

- Desculpe não queria atrapalhar.

- Não atrapalhou querida, Gui estou indo, tenho paciente para atender. – Ela depositou um beijo na bochecha dele e se retirou do recinto.

- O que veio fazer aqui? Achei que não queria mais entrar em hospitais.

- Não quero, mas é que você não me respondeu e nem atendeu as minhas ligações.

- Ah sim, como foi o seu dia?

- Cansativo, voltei ao trabalho hoje e ganhei uma promoção, agora sou secretaria do meu chefe. Meu salário vai aumentar e terei que viajar com ele as vezes.

- Ah, que bom, fico feliz por você. – Ele sorriu, mas logo se desfez do sorriso.

- Gui sobre hoje mais cedo... – Me referi ao nosso quase beijo, mas ele me cortou.

- Esquece, foi coisa de momento, sei que somos apenas amigos.

- Se foi só coisa de momento, por que não se aproxima de mim ou não me abraça? – Me aproximei dele. – Gui...

- Hum?

Ele se virou para mim, estava bem próxima a ele, senti sua respiração ficar mais pesada, assim como a minha. Guilherme ainda queria aquele beijo, dava pra ver e eu não estava muito diferente dele.

A tentação de beijá-lo essa manhã foi mais forte, do que das outras vezes. Guilherme se afastou um pouco de mim e me deu as costas, indo para algum canto da sala.

- Não foi coisa de momento, né Guilherme?

- Emanuelle deixa de ser teimosa e esquece.

- Por que?

- Porque o seu marido voltou.

- Ele não é... – Lembrei-me das palavras de Pedro hoje mais cedo. – Ele até pode ser no papel, mas pra mim não é. Guilherme, ele me abandonou, me trocou por outra e abandonou Chiara. Sabe quantas vezes ela chorou por causa dele? Quantas vezes foi excluída da apresentação na escolinha por que não tinha pai? Chiara sofreu muito por causa dele, ele não é pai da minha filha  e nem é meu marido! – Ele suspirou, sei que estava digerindo tudo e confuso. – Gui?

- Tenho medo de estragar tudo isso com um único beijo, as coisas vão mudar entre nós, Emanuelle.

- Não vai, Gui.

- Eu sei que vai, e eu não quero que nossa amizade acabe.

- Ela não precisa acabar e não vai, é só a gente não deixar.

- Meu expediente acabou, vou ver uma paciente e depois conversamos melhor sobre isso.

- Vou te esperar no estacionamento.

Ele afirmou com a cabeça e saiu da sala, respirei fundo e sai em seguida, fui para o estacionamento e entrei no meu carro. Deitei minha cabeça no volante e fiquei pensando em tudo o que vem acontecendo.