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Simplesmente já não sentia o meu nariz de tanto assoar para além das feridas que tinha. O meu corpo era um depósito de dor e só parecia que tinha andado à porrada a noite inteira. A cabeça pesava uns cem quilos e a última coisa que me apetecia era ir às aulas. Quando medi a febre e os quase 40º graus de febre dissuadiram a minha mãe de me mandar à escola. Arrepios de frio percorriam o meu corpo apesar de ter várias cobertas a cobrir-me para que segundos depois tivesse a morrer de calor. Os pulmões cheios de expectoração dificultavam-me a respiração deixando-me com uma nada bela voz. Como odiava ficar engripada.

Não sei durante quanto tempo tive a dormitar até ouvir a porta do quarto abrir. De trás apareceu um André sorridente com uma caixa na mão.

- Como está a minha doentinha favorita? – O moreno pousou a caixa em cima da minha secretária antes de se sentar na cama ao meu lado. Inclinou-se sobre mim dando-me um beijo na testa provavelmente pegajosa por causa do suor.

- Vais ficar doente, André. – Avisei-o. A última coisa que queria era transmitir-lhe todos aqueles germes.

- Não é uma simples gripe que me vai impedir de beijar a minha namorada. – Os lábios dele tocaram nos meus deixando-me um pouco mais leve. – Trouxe uma coisa da minha mãe para ti. – Levantou-se da cama e foi buscar a caixa que trouxera para o quarto.

- O que é? – Questionei curiosa.

- Nem eu sei. – Respondeu enquanto encolhia os ombros. Voltou a sentar-se ao meu lado na cama e tirou um frasco do interior da caixa. O frasco parecia que tinha um líquido um pouco estranho no seu interior. – Ela só me disse para tomares isto que faz bem à gripe. Quando lhe perguntei que ingredientes tinha ela disse que era melhor não saber. – Antes de passar o frasco para a mão ajudou-me a levantar um pouco e consequentemente encostar-me à cabeceira da mesa.

- Isto é comestível? – Assim que desenrosquei a tampa do frasco o cheiro que invadiu os meus sentidos era simplesmente horrível. – Cheira tão mal, André. A tua mãe quer matar-me? – Dei-lhe para cheirar e a cara feia que fez depois era o suficiente para perceber que não era apenas do meu olfacto. Aquilo cheirava mesmo mal.

- Tudo o que faz bem cheira mal e essa coisa não é excepção. – O André voltou a entregar-me o frasco com uma expressão no rosto nada bonita.

- Dizes isso porque não vais beber. Já não me chega ter de estar doente ainda tenho de beber estas coisas horríveis. – Porque não existe remédios caseiros que saibam bem? É assim tão difícil?

- Tapa o nariz e bebe de uma só vez. Normalmente ajuda, amor. – Agitei um pouco o líquido do frasco e tapei o nariz de seguida. Mentalizei-me durante alguns segundos antes de engolir o líquido. Deus, aquilo sabia mesmo mal.

- Diz à tua mãe que a odeio. – Empurrei o frasco para as mãos do André e voltei a deitar-me na cama com o sabor horrível na boca. O moreno levantou-se por momentos para guardar o objecto e regressou para junto de mim descalçando-se. Fez uma ligeira pressão junto ao meu corpo para que me chegasse um pouco mais para a esquerda. Deitou-se junto a mim ainda que por cima das cobertas e do édredon depositando um beijo no topo da cabeça. – Tens aulas hoje, amor.

- Nada é mais importante do que estar contigo. – Um dos braços dele foi para debaixo da minha cabeça levando-me a deitar sobre o peito do moreno. – Confortável?

- Melhor é impossível. – Fechei os olhos e aproveitei para relaxar apesar do enorme peso que sentia no peito. – Eu amo a tua mãe, André. – Ouvir o riso do André era o melhor tónico para as dores de cabeça.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora