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Sozinha.

Era a primeira vez que estava em casa em praticamente quatro meses. Os meus avós tinham ido passar uns dias ao Porto e a minha mãe tinha ido com eles. Ainda não a tinha conseguido convencer a vir comigo para Inglaterra e não estava nada satisfeita por ter que a deixar em Portugal. Apesar de estar em franca melhoria ainda não me sentia confiante o suficiente para a deixar sozinha, principalmente quando me mudaria dentro de dois dias para Manchester.

Manchester.

Ainda não tinha caído em mim que me iria mudar definitivamente de país. Se me dissessem o mesmo meses atrás teria rido com a piada mas agora estava mesmo a acontecer. Com a aproximação do dia sentia-me cada vez mais ansiosa e a prova disso era as vezes que ia a casa de banho deitar tudo para fora. Acho que o termo mais correcto seria pânico. Pânico por estar prestes a viver com o homem da minha vida e o nosso filho.

A última vez que vivi com alguém sem ser com o meu filho foi quando ainda vivia com os meus pais. Acho que aqueles cinco dias que estive no Porto não contam para realmente perceber se conseguiremos viver juntos. É um passo tão importante que pode desmoronar com tudo o que já construímos. Neste caso, através da distância. Não houve nenhum dia em que não falássemos pelo menos uma vez ao telefone tirando as inúmeras mensagens que trocávamos. Obviamente não tem sido fácil conseguir lidar com a saudade e a distância e pelo meio houve algumas discussões. Discussões provocadas pelo cansaço após o trabalho ou então porque não estávamos com o melhor dos humores. Seria fácil desligar o telefone ou não atender as chamadas e virar a cabeça na almofada fugindo dos problemas. Por mais que nos custasses nenhum dos dois permitiu que isso acontecesse. Se tínhamos problemas eram para ser resolvidos na hora ou nesse mesmo dia. Nada de problemas ou assuntos mais resolvidos para o dia seguinte. Não era fácil mas tinha que ser dessa maneira para bem da relação.

Neste tempo apenas tinha conseguido agenda para ir duas vezes a Manchester. A primeira vez para estar presente no jogo de apresentação aos sócios do Manchester City. De todas as propostas que teve optou pelo City por ter ganho o campeonato inglês nas últimas duas épocas e a Liga dos Campeões na época transacta. Ele sabia que seria mais difícil entrar numa equipa vencedora mas já o conhecia bem para saber que gostava de bons desafios e acima de tudo de ganhar. Não tinha palavras suficientes para exprimir o orgulho que senti ao vê-lo ser ovacionado pelos adeptos que ainda pouco conheciam dele. Ele estava feliz e por consequente eu também.

A segunda vez foi para conhecer o meu novo local de trabalho. Apesar do Ricardo não ter ficado nada contente com a minha saída do clube compreendeu a minha situação. Nunca hei-de conseguir agradecer-lhe o suficiente por me ter recomendado a uma das melhores academias de ténis de Inglaterra. Parecia um sonho quando entrei nas instalações e percebi o quão tudo era incrível e tão eficiente para os atletas. Mas não era um sonho, estava ali mesmo e acima de tudo tinha o André ao meu lado parecendo um peixe fora de água a olhar em redor. Nestas duas vezes não tinha conseguido ficar mais do que três dias e agora esta viagem é para ser definitiva.

O som do telemóvel tirou-me dos pensamentos e levantei-me do sofá para buscar o aparelho que se encontrava na cozinha.

Joana

- Oi maninha! - Cumprimentei assim que atendi a chamada e voltei para a sala para me deitar no sofá.

- Hey Lilo! - A voz do Afonso surpreendeu-me depois de colocar a chamada em altifalante. Havia bastante barulho do outro lado da linha que não conseguia distinguir.

- Dá-me o telemóvel Afonso! - Finalmente consegui ouvir a voz da Joana e pelo barulho parecia que estavam a correr um atrás do outro. - Deixa-me falar com a Lis, chato.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora