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Amei-te em todos os momentos como se fossem os últimos, André

Tudo o que poderia ouvir era ouvir a respiração do André do outro lado da chamada misturada com o silêncio. Parecia que tinha acabado de lançar uma bomba e esperava ansiosamente por um sinal de vida. Abri o meu coração de uma forma que já não fazia há muito tempo e tudo o que estava a receber como resposta era um silêncio. Até podia lidar com um 'não' mas nunca com esta indiferença aparente.

O que faço agora? Finjo que me enganei?

Os meus olhos começaram a ficar chorosos ao perceber que deveria ter ficado calada. Não devia ter dado ouvidos à Joana e assim já não estava naquela situação em ponto de ruptura. Mordi o lábio inferior instintivamente ao sentir a primeira lágrima a rolar pelo rosto e limpei-a de imediato.

Foda-se, diz alguma coisa André!

Podia ouvir claramente a sua respiração. Ele estava a ouvir-me mas não respondia. O meu coração apertou-se mais um bocadinho e sentia um nó cada vez maior na garganta. Definitivamente hoje não era o meu dia.

Vou desligar. E depois esqueço que alguma vez disse isto.

É isso!

Ainda assim o meu corpo não reagiu de imediato ao comando. Ainda esperava ansiosamente por alguma coisa que viesse do outro lado da linha. Mas tudo o que continuava a receber era um silêncio aterrador. Afastei o telemóvel da orelha e olhei para o visor que mostrava o botão vermelho. A frequência da minha respiração aumentou quando deslizei sobre o visor e desliguei a chamada.

Perdi-o. Se é que alguma vez o tive...

Fechei os olhos automaticamente ao encostar-me à parede branca. Apesar de ainda sentir os olhos chorosos não havia mais lágrimas derramadas. Apenas um vazio enorme e profundo. Foi então que dei conta que sempre esteve lá. Aquela sensação de perda absoluta, de que mais que tente voltar a pôr tudo em ordem jamais voltará ao mesmo. Sempre esteve lá. A variedade da intensidade é que mudava a conforme os dias e o meu estado de espirito. Inconscientemente tinha conseguido esconde-lo e camufla-lo para que não voltasse à tona mas hoje falhei miseravelmente. A dor angustiante só aumentava e quase que deixava cair o telemóvel ao chão.

- A menina não pode estar nos corredores. – Virei-me em direcção à voz e encontrei uma enfermeira a olhar-me seriamente. – Tem de estar no quarto ou então aguardar na sala de espera.

- Desculpe. – Disse tentando recompor-me. – Vou já entrar. – A enfermeira seguiu caminho mas não sem antes se virar para mim ao entrar dentro de um quarto. Bem, esta deveria ser a minha deixa para entrar no quarto.

Assim que entrei recebi todo o tipo de olhares por parte da Joana mas ao notar a minha expressão negativa começou a juntar as peças. Ela apenas abriu um dos braços num convite para a abraçar. Desta vez não me importei com a possibilidade de entrar alguma enfermeira ou até um médico. Subi para a cama e aninhei-me junto a ela pousando a cabeça no colo da morena. A Joana tirou-me o telemóvel da mão e afastou-o para fora da minha visão. Quais eram as possibilidades do André me ligar? Nenhumas. Os dedos da Joana começaram a massajar a minha cabeça e tudo desapareceu à minha volta.



O André estava deitado sobre o sofá quando voltei da cozinha com um iogurte na mão. Ele estava sonolento o que o tornava ainda mais lindo de um jeito desajeitado. Tínhamos estado a ver um jogo de ténis na televisão, ou melhor, vi sozinha um jogo de ténis masculino porque adormeceu ainda estavam no aquecimento. Assim que me sentei no sofá voltou a pousar a cabeça sobre as minhas pernas enquanto esperava que o próximo jogo começasse. A minha mão livre foi de encontro aos seus cabelos e comecei a fazer pequenas massagens. Um pequeno som de aprovação saiu da sua boca e aconchegou-se ainda mais contra mim. O jogo começou e concentrei-me na televisão.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora