As bancadas estavam cheias de adeptos para apoiarem a equipa. Hoje era dia de treino aberto aos sócios e muitos aproveitaram este dia para trazerem a família e assim estarem mais perto dos atletas. Sentei-me num lugar disponível ao lado de uma família em que os filhos estavam bastante entusiasmados.
Tudo à minha volta contrastava com o meu estado de espirito. Ainda podia ouvir a voz do médico explicar toda a minha situação clinica e o quais seriam os tratamentos que estaria sujeita nos próximos tempos. O meu pai, benfiquista de coração, recusou-se a entrar quando me deixou no centro de treinos do Olival onde o André teria treinos. Apesar de estar um pouco relutante em me deixar com o André e não nutrir a maior amizade pelo meu namorado compreendeu a custo que precisava de estar com ele. Os meus pais amavam-me incondicionalmente mas não compreendiam a frustração e o sentimento de impotência que sentia depois de ouvir aquela notícia. E o André iria compreender-me.
O moreno tinha-me pedido para lhe mandar mensagem assim que chegasse ao centro de treinos e foi isso que fiz apesar de não ter recebido nenhum tipo de resposta. Provavelmente já não estava perto do telemóvel. Não gostava nada de o perturbar quando se tratava dos treinos porque queria que ele desse sempre o seu melhor em tudo já que estávamos a chegar a uma fase crucial da temporada. Mas naquele momento era capaz de saltar para o relvado apenas para me reconfortar no seu abraço e ficar lá até que tudo terminasse.
Alguns dos elementos da equipa técnica começaram a chegar e pouco tempo depois os atletas do clube. Gritos e bastante entusiasmo moldaram o ambiente das bancadas fazendo-me pensar seriamente se não haveria de esperar pelo André junto do carro dele. O que me fez ficar sentada no banco fora o entusiasmo desmedido do menino ao meu lado que se levantara com a camisola do F.C.Porto com o nome André Silva.
- Gostas do André Silva? – Perguntei à criança. Era uma pergunta um pouco idiota dado o seu entusiasmo e por ter a camisola com o nome dele. O menino assim que me ouviu ficou bastante tímido e sentou-se no banco chegando-se consideravelmente para o lado do irmão mais velho nunca olhando para mim.
- Não ouviste a senhora a falar contigo? – A mulher que estava ao lado do irmão mais velho que supus ser a mãe deles tentou que o pequeno falasse para mim. – Desculpe. Ele não costuma ficar assim tão envergonhado ao lado de desconhecidos. Mas sim, ele é um enorme fã do André Silva.
- Não tem problema. É normal que fiquem um pouco envergonhadas. – Respondi sorridente. Virei novamente a atenção para o pequeno que agora segurava religiosamente a camisola junto a si. – Como te chamas? – Questionei.
- Pedro. – Praticamente sussurrou o menino ainda bastante envergonhado.
- Pedro, vou contar-te um segredo. Queres ouvir? – O pequeno finalmente deixou de se tentar esconder atrás do irmão mais velho e encarou-me pela primeira vez. – Eu conheço o André Silva, sou uma grande amiga dele. Queres que ele te autografe a camisola e que tire uma fotografia contigo? – Ele abanou afirmativamente com a cabeça agora mais efusivamente. – Então no final do treino, eu chamo-o até nós, pode ser?
- Siiimmm. – Respondeu alegremente voltando a levantar-se do banco. Era tão fácil fazer uma criança feliz.
O treino correu bem e só mais para o final é que o André conseguiu encontrar-me no meio das pessoas. Tive que engolir toda a vontade que tinha de chorar e de correr até ele. Toda a sua postura mudou a partir do momento em que me viu ficando mais calmo. Não é que estivesse mal no treino mas a agressividade com que treinara até então era um dos sinais do quanto estava ansioso por noticias. Queria tanto dizer-lhe que estava tudo bem mas era mentira.