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O meu coração parecia que podia saltar a qualquer momento do peito. Aqueles olhos castanhos deixavam-me sempre com o coração a disparar fazendo-me esquecer tudo à minha volta. Ele sempre teve esse poder sobre mim e era uma das coisas que mais me apavorava no início. O facto de esquecer tudo à minha volta e apenas apreciar todos os minutos com ele, aquele sorriso conseguia alegrar qualquer tristeza minha. Ao início pensei que fosse normal e que acontecesse sempre, que provavelmente todas as raparigas da minha idade que tinham namorados lhes acontecia exactamente o mesmo. Que a felicidade era tanta que era impossível colocar em palavras, que o desejo para que os minutos se passassem rapidamente para poder estar com ele.

Mas isso simplesmente não chega. Apenas o amor não chega.

Apesar de ter sonhado inúmeras vezes com este momento nunca pensei que realmente acontecesse. Agora estava aqui completamente rendida, como habitual, com o coração nas mãos à espera que ele o agarrasse e cuidasse dele como sempre o fez.

Pousei a minha mão no peito dele na mesma direcção do coração e podia sentir a mesma frequência descompassada igual à minha. O meu corpo aproximou-se um pouco mais do dele mostrando que queria aquele beijo tanto quanto ele. Fechei os olhos ao sentir os seus dedos percorrerem a minha face parando nos meus lábios. Não me interessava mais nada do que apenas acabar com aquela maldita distância e beija-lo.

Antes que pudéssemos fazer alguma coisa o meu telemóvel começa a tocar. Senti como se um balde de água fria tivesse sido despejado sobre o meu corpo.

- Esquece-o... - Disse o moreno fazendo-me olhar para ele mas o momento já tinha passado. Não me conseguia concentrar se não fosse ver quem é que me estava a ligar.

- Pode ser a Joana, André. – Expliquei dando um pequeno passo para trás. Ele suspirou resignado e fez sinal com a cabeça para que fosse ver o telemóvel. O ecrã mostrava o nome do meu director o que me fez suspirar de alívio. Pelo menos não era nada com a Joana. – Bom dia, Ricardo. Como está? – Cumprimentei assim que atendi a chamada. Olhei de relance para o André que se tinha aproximado de mim e estava claramente de rosto franzido.

- Bom dia, Lis. – Cumprimentou audivelmente tenso o que me fez automaticamente ficar atenta. – Espero que as tuas férias estejam a correr bem porque temos uma situação aqui e preciso da tua ajuda.

- O que se está a passar? – Questionei sentando-me na cadeira. – Aconteceu alguma coisa com algum dos nossos alunos?

- Não, com eles está tudo bem. – Respondeu prontamente. – O que preciso é que venhas amanhã a Lisboa para acompanhares a Madalena no torneio. – O pedido dele apanhou-me por completo desprevenida. A Madalena não era uma das minhas alunas por isso não estava a perceber o pedido.

- Ricardo, caso não te lembres, encontro-me no Algarve. Não é propriamente uma viagem de quinze minutos. Além disso não é o João o treinador dela ou passou-se alguma coisa com ele? – Sentia o olhar atento do André sobre mim o que começava a deixar-me desconfortável porque não era propriamente um olhar amigável.

- O João não pode estar presente porque morreu esta manhã o sogro. – Podia finalmente entender o tom mais tenso do Ricardo com este assunto. Conhecia a mulher do João e não conseguia imaginar o que poderia estar a sofrer. – Falei com o Paulo para acompanhar a Madalena no resto do torneio mas ele só o pode fazer a partir de depois de amanhã. Não tenho mais ninguém que a possa acompanhar, Lis.

- Sabes o quanto foi complicado conjugar estas férias com tudo? Não é uma viagem assim tão curta. – Nem queria acreditar que iria ter de perder três dias de benditas férias para voltar para a Lisboa. Vi o André afastar-se de mim e poucos segundos depois estava com o nosso filho nos braços sentado à minha frente.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora