André
O choro foi diminuindo à medida que afagava as suas costas. O meu coração doía mais um pouco ao não conseguir fazer nada de relevante e eficaz para apagar a sua dor. Qual é o objectivo do amor se não conseguimos apagar o sofrimento da pessoa que amamos? Sinto-me cada vez mais fraco e incapaz de lidar com toda esta frustração que começa a tornar-se cada vez mais forte. Tudo o que tenho para dar é o meu amor mas parece que não é suficiente quando a oiço quebrar mais uma vez nos meus braços e o choro intensifica-se novamente.
Quero partir o mundo aos bocados. Quero partir tudo à minha volta.
Foda-se. Porquê?
Digo palavras de conforto e o quanto a amo incondicionalmente. Uso todas as minhas forças existentes para não desabar porque sei que a Lis precisa de mim forte. Paro os movimentos que fazia com as mãos nas costas dela e envolvo o seu pequeno corpo com os meus braços. As palavras dela ecoam na minha cabeça relembrando-me do quanto ela gostava dos meus abraços.
Fazes-me sentir tão segura...
Abraço-a como se a minha vida dependesse disso. Nem sequer me importo pelo lado esquerdo da minha t-shirt ficar húmido com as suas lágrimas. O telemóvel volta a vibrar no bolso das calças mas desta vez nem me dou ao trabalho de ignorar a chamada. Nada me afastaria da Lis muito menos um telefonema.
Aos poucos a sua respiração torna-se mais calma e todo o seu corpo parece relaxar acabando por se afastar um pouco de mim. A minha boca fica seca ao ver os seus olhos marejados e inchados. Envolvo a sua face com ambas as mãos e seco delicadamente as lágrimas. O meu cérebro processa a beleza da minha menina mesmo neste estado. Tudo nela era excepcionalmente belo.
- Quero mata-lo. - As suas palavras cruas e cheias de dor apanham-me de surpresa.
- Quem? - Questiono e com ajuda das mãos tento fazê-la olhar para mim. Ela desvia o olhar rapidamente assim que encontra o meu. - Lis... - Peço. Não podia deixar que aqueles sentimentos a dominassem.
- O tipo que matou o meu pai está aqui no hospital em observação. - Todo o meu corpo arrepia-se com a frieza das suas palavras. - Foram os colegas do meu pai que me disseram. Levou um tiro na perna e teve que ser operado. Como é que um criminoso como ele se safa e o meu pai que apenas estava a fazer o seu trabalho teve que morrer? - Lágrimas voltam a inundar os seus lindos olhos e depressa escorrem pela sua face. - Porquê? Não é justo. - Praticamente me encolho com o desespero das suas palavras.
- A vida não é justa, amor. - Digo trazendo-a para junto de mim e encosto a minha testa à dela. - Por favor, não entres por esses caminhos. Eu sei que é duro mas a morte nunca é solução nem esses sentimentos de vingança.
- Como não, André? - As suas palavras duras interrompem-me e novamente o meu coração esmaga-se com a raiva que vem daquele pequeno corpo. - Ele matou o meu pai. Porra, ele matou-o. Como queres que...
- Desculpa. - Sussurro completamente perdido e em pânico. - Desculpa. - Repito e uno os nossos lábios beijando primeiramente o lábio superior e só depois o inferior. O seu corpo relaxa com o meu toque e entrega-se a mim.
- Eu só não quero estar no mesmo mundo que o assassino do meu pai. - A sua voz é tão frágil o que me deixa à beira do abismo.
- Eu sei. - Assinto. Ainda ficamos um pouco de tempo encostados à parede do corredor para garantir que estava mais calma. - Vamos comer, princesa da minha vida? - Questiono e sinto de imediato o seu braço embater no meu.