Desde que me lembro que o André sempre fez parte dos momentos importantes da minha vida. Tanto como amigo e depois como namorado. Sempre esteve comigo acompanhando as minhas vitórias e derrotas enquanto atleta como no meu percurso na escola. E eu também fazia esse mesmo esforço para com ele. Sempre passávamos o maior tempo possível juntos e tudo melhorava à minha volta quando estava com ele. Podia estar a correr mal o meu dia ou a ter algum problema com os treinos que tudo ficava melhor com a presença do André. Fazia-me ver as coisas de um modo diferente ou fazia-me relaxar.
Agora vê-lo aqui, passado dois anos, todas essas lembranças vieram à tona. Dos nossos tempos felizes e até dos menos bons. Do quanto tudo parecia mais fácil e descomplicado com a presença dele ao meu lado. Ele sempre teve esse efeito sobre mim, de descomplicar tudo. Tenho esse defeito horrível em pensar demasiado nas coisas e guardar todas as frustrações para mim. Por incrível que pareça sentia como se um peso enorme tivesse saído de cima dos meus ombros. Como se pudesse voltar a respirar normalmente.
Um friozinho na barriga tomou conta de mim quando o vi morder o lábio em concentração enquanto dava de comer ao nosso filho. Ele parecia que estava concentrado a fazer algum tipo de equação matemática e ainda assim parecer tão sexy. Ter a barba por fazer debaixo de um bronzeado luminoso fazia todo o tipo de estragos sobre o meu auto controlo. Não podia deixar-me ir abaixo como fizera poucas horas antes ainda em casa. Ainda havia tanta coisa a ser discutida e ainda não estava nos planos qualquer tipo de aproximação mais intima. Pelo menos era o que tinha em mente.
- Estou a fazer alguma coisa de errado? - Senti o sangue a aflorar nas minhas bochechas quando vi o André a olhar seriamente para mim.
- Acho que é impossível fazer alguma coisa de errado ao dar de comer a uma criança. - Ele apenas sorriu o que intensificou ainda mais a cor das minhas bochechas. Odiava sentir-me como uma adolescente ao pé dele principalmente quando sorria daquela maneira tão jovial e descontraída.
- Tenho a certeza que haverá coisas mais difíceis do que isto. - Ele acabou com o frasco e o pequeno André prontificou-se a levantar os braços para sair do carrinho. Ele definitivamente tinha um odiozinho de estimação para com os carrinhos para minha infelicidade.
- É a tua vez. - Instrui sorridente para o André. - Tens que o entreter enquanto fico a aproveitar esta natureza. - Disse com um pouco de melodrama enquanto me encostava à mesa de madeira. - Isto é que é vida!
- Mas como é que faço isso? - Não consegui controlar o meu riso ao ver a cara de pânico do André. - Não o quero magoar. Só peguei nele uma vez e estava em choque para perceber seja o que for.
- Isto não tem ciência nenhuma. - Desapertei os cintos que o prendiam no carrinho e tirei-o do carrinho directamente para o colo do André. - Apenas tens que o manter ocupado e sem chorar. Ele é um pouco irrequieto por isso não podes estar sempre a fazer o mesmo. - O pequeno André começou logo a fazer forças nas pernas para se levantar e assim poder chegar ao rosto do André. Ele tinha este hábito de gostar de mexer na cara das pessoas quando se sentia à vontade para o fazer.
- Ele é sempre assim com as pessoas? Não é daqueles que tem medo de estranhos? - Questionou enquanto tentava manter a sua boca longe das mãos do nosso filho.
- Depende das pessoas e das situações. Normalmente não quer ir para o colo de pessoas que não conhece mas o teu caso é diferente. - Expliquei mas notei de imediato a sua confusão. - Sempre que jogavas a Joana fazia serão em minha casa e punha-o em frente à televisão a explicar que eras o pai. Ao final de alguns jogos já apontava para a televisão quando aparecias num plano mais fechado. E sempre que marcavas golo ele facilmente percebeu que era motivo para bater muitas palmas.