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O som do mar acalma-me. A praia de Matosinhos costumava ser o nosso ponto de encontro quando queríamos relaxar e pensar sobre a vida. Era o nosso pequeno segredo e também o nosso esconderijo. Tinha perdido as contas às vezes que ia encontrar o André à praia quando ele decidia ser menos comunicativo. Aquela praia costumava ser o denominador comum entre todas as nossas discussões pelo simples facto de que era ali que resolvíamos tudo.

Havia alturas em que simplesmente passávamos o tempo em silêncio apenas a contemplar a maravilha que era o mar. Ou quando aproveitávamos para ver o pôr-do-sol e quando eramos mais rebeldes o nascer-do-sol. Ninguém sabe o quão era complicado manter aquele rapaz acordado para ver o nascer do sol. Ele parecia que tinha um despertador biológico maldito que não permitia ser acordado antes das sete horas da manhã. E era eu que tinha o mau humor matinal.

Também tinha perdido a conta ao número de vezes em que fui parar aquela água gelada completamente vestida. De uma maneira ou outra o André acabava por me lançar para a água mesmo não estando vestida para o acto. Incluindo as noites geladas em que ele achava piada ver-me a congelar. A minha única satisfação, se é que se podia chamar a isso satisfação, era que o André fazia-me companhia. Não era só um em risco de constipação mas sim dois.

Se aquela praia pudesse falar tenho a certeza que me envergonharia até à eternidade com as coisas que tinha presenciado. Boas, sem dúvida nenhum, mas também algumas bastante más. Acho que isso podia ter resumido bem a nossa relação. Pensando bem a relação acabava por ser bastante volátil. Tanto as discussões como os bons momentos era sempre tudo tão intenso que provavelmente foi isso que nos separou. Para além de mim, claro.

Espera aí.

Que raio estou a fazer na praia de Matosinhos?

Não estava no Algarve. Era por isso que a praia estava a recordar-me tantos momentos. O vestido que cobria o meu corpo saltou-me à vista. Nunca na minha vida teria comprado uma coisa destas. Eu já tinha visto aquele vestido em algum lado só não sabia onde.

Como vim aqui parar?

Olhei em volta e não havia ninguém na praia o que era anormal. Estávamos em plenas férias de verão e mês de Julho. Era impossível a esta hora estar tudo completamente vazio.

O que se passa aqui?

Gargalhadas fizeram-me virar na direcção oposta e quando os meus olhos pousaram-se na criança que ria nem queria acreditar. Era o André. O meu filho. Corri até ele enquanto a minha mente se debatia em compreender porque o tinha deixado ali sozinho. Em nenhum momento deixei-o sozinho sem supervisão de alguém. Como é que o ia deixar ali sozinho, sem ninguém por perto?

Assim que cheguei junto ao André, ele parou de rir e olhou para mim. Um arrepio percorreu todo o meu corpo ao ver as suas feições mudarem para algo mais frio. Baixei-me para poder agarra-lo e trazê-lo para os meus braços mas depressa começou a chorar.

- Então, meu amor, o que se passa? É a mãe... - Levantei-me com ele já nos braços e começou a bater-me com os pés. - André, pára com isso. - O meu coração apertou-se ainda mais ao vê-lo chorar cada vez mais e a rejeitar o meu toque. - Olha para mim, meu amor. É a mãe. Estou aqui. - Ele continuava com a mesma adversão ao meu toque e fazia de tudo para que o voltasse a colocar na areia. - O que tens? - Tentei dar-lhe um beijo porém começou a tentar bater-me com as mãos. - André, não estou a gostar nada disto. Sou a tua mãe. - Disse ao mesmo tempo que agarrava os braços dele de modo a que não continuasse a tentar bater-me.

- Filho. - Aquela voz que tão bem conhecia assustou-me. Desviei a minha atenção para o meu lado direito de onde vinha aquela voz. Encontrei um André sorridente e o meu coração parou por segundos ao contemplar a beleza. Ele sempre me atraiu mas hoje sentia que o meu corpo avançava para ele em todos os sentidos. Trazia vestido uma simples camisola branca e uns calções. Não conseguia respirar em condições e tinha todos os meus sentidos em alerta máximo. - Vem ao pai...

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora