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André


Velório.

Já não era apenas a família mais próxima mas englobava amigos e conhecidos, para não falar da cerimónia militar. Não sabia que o pai da Lis tinha pertencido ao exército e fez-me perceber que ainda há tanta coisa que não sei sobre ela. Não devia estar a pensar nisto quando a tenho a tentar controlar as lágrimas que ameaçam cair a qualquer momento mas é mais forte do que eu.

Não faço ideia do que ela fez durante estes últimos dois anos. Nem se ainda é a mesma rapariga por quem me apaixonei.

Foda-se, de onde veio isto agora?

De repente sinto que estamos a dar um salto maior do que a perna e que a qualquer momento podemos tropeçar e estragar tudo de vez. Aperto a mão dela instantaneamente e a sua atenção volta para a mim. Sinto o olhar dela sobre mim e depois de ganhar coragem encaro-a. A sua testa frange muito provavelmente ao ver a minha expressão de pânico.

Como vou explica-lhe o meu recente medo de estarmos a andar demasiado rápido? Será por estarmos nesta situação que assim do nada o medo de a perder seja praticamente insuportável? Só de pensar por momentos que ela poderia...

Não, foda-se, não.

Respira, André.

Porra, controla-te.

- Estás bem? Estás pálido. - A sua voz é suave e tento respirar fundo para controlar a minha mais recente ansiedade.

- Estou. - Tentei soar firme mas falhei redondamente. A última coisa que quero é que ela se preocupe comigo quando tem a mãe ao lado a precisar mais dela do que eu.

- Realmente é bom esconderes coisas da tua namorada, André Miguel. - Ela faz força para desprender a minha mão da dela e quando o consegue sou invadido por uma horrível sensação de abandono.

Não. Não.

Sinto que vou sufocar a qualquer momento por isso levanto-me para sair da pequena capela. Alguns olhares caiem sobre mim quando me dirijo para a porta mas nem sequer tenho coragem de ver de quem eram. A brisa fresca embate no meu rosto assim que saio e tento respirar fundo. Já começava a anoitecer e o Afonso ainda não tinha chegado. Precisava tanto dele neste momento antes que enlouquecesse de uma vez.

Achava que não havia ninguém do lado de fora e praticamente grito de frustração quando vejo que vários grupos de pessoas. Algumas delas fumavam enquanto outras apenas conversavam. Lembro-me de alguns terem entrado e de a Lis ter falado que eram amigos e conhecidos. Precisava de estar sozinho e isto não estava de todo nos meus planos. Alguns deles notaram a minha presença e até me reconheceram. Praticamente agradeci aos céus por nenhum ter vindo ter comigo. Já me sentia mal o suficiente por ter abandonado a minha namorada por estar completamente em pânico.

Precisava de voltar para dentro e conseguir dar-lhe todo o meu apoio. Não podia pensar em todas as coisas que dariam errado mas na única que sabia que daria certo. O meu amor por ela.

É isso, o meu amor pela Lis. A minha menina. A minha maior paixão. A minha vida.

Não posso pensar nos "ses" da vida.

Mas, foda-se, era mais fácil pensar do que executar.

O barulho de um carro a chegar afastou-me dos pensamentos principalmente ao ver a porta do lado do passageiro abrir antes do carro parar. Reconheci o carro da Lis segundos depois de ver a Joana a sair disparada. A corrida dela só foi parada ao me ver parado ainda sem saber o que fazer.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora