Olhei para a minha cama e depois para o armário e percebi que tinha praticamente toda a roupa em cima da cama. Tudo o que punha à minha frente não me parecia suficientemente bom ou bonito. Não queria aparecer demasiado formal mas também não queria que achassem que não me importo com a minha aparência. O problema é que também não tinha muita escolha já que o meu estilo sempre foi mais desportivo. Só conseguia ouvir o tic tac do relógio mostrando-me que o tempo estava a correr contra mim. Daqui a pouco tinha o André à minha porta para me levar e ainda estava de pijama sem saber que roupa escolher. Pensei em ligar à Joana para me ajudar a escolher algo decente ou até me emprestar qualquer coisa mas sabia que ela estava com a família e não a queria perturbar.
Saí do quarto frustrada e fui encontrar a minha mãe no escritório enquanto trabalhava. Ela olhou para mim quando entrei ainda em pijama e sorriu ternamente para mim.
- Não sei o que vestir, mãe. - Praticamente choraminguei quando me sentei na poltrona perto da secretária. - Estou a desesperar e não é brincadeira. Não tenho nada de jeito no armário, só encontro calças de ganga ou então roupa para treinar.
- Filha... - A minha mãe fechou o tampo do portátil antes de chegar até mim com toda aquela compreensão que só uma mãe consegue. Só me apetecia chorar por estar naquele estado por causa de roupa. - É só um jantar, não é nenhum evento de estado em que tens um protocolo a seguir. Acalma-te primeiro e depois ajudo-te a escolher algo que gostes. - Ela juntou as nossas mãos e a ansiedade diminuiu um pouco por causa de toda a tranquilidade que me transmitia.
- E se eles não gostarem de mim, mãe? - Estava prestes a cair de um precipício emocionalmente e não sabia se tinha forças suficientes para me segurar. Este era o meu maior medo. - Se os pais do André não gostarem de mim tenho a certeza que a nossa relação vai terminar. A família para ele é o mais importante. - O aperto nas minhas mãos intensificou-se dando-me forças para continuar. - Eu amo-o, mãe. - Dizê-lo pela primeira vez em voz alta do que apenas no meu coração era sem dúvida libertador. O sorriso genuíno que me deu só me deu mais confianças sobre o que sentia.
- Os pais dele vão, com toda a certeza, gostar de ti Lis. - Disse de forma assertiva. - Desde que sejas tu própria vão encontrar em ti as mesmas qualidades que fizeram o André gostar de ti. Não te preocupes em demasia nisso e aproveita ao máximo o momento com a família dele.
- E se eles forem como o pai? - Tenho a imagem ainda demasiado presente na minha mente do momento em que o André conheceu formalmente como namorado o meu pai. Tinha sido um completo desastre, qualquer assunto que viesse à conversa o meu pai tinha sempre de discordar da opinião do André. Não sei ainda como sobrevivi aquele encontro.
- O teu pai gosta do André. - A minha mãe sorriu docemente. - Ele só faz o que faz para ter certeza que ele te merece. Não penses por um momento sequer que ele não gosta do André. Porque sabes tão bem como eu que se ele realmente não gostasse o André já tinha fugido para bem longe. - Sorri ao me lembrar da primeira vez que lhe disse que o meu pai era da PJ. Tenho a certeza que lhe passou pela cabeça se não era mais seguro acabar tudo comigo do que arriscar acabar com uma arma apontada. Apesar da sua insegurança momentânea mostrou todo o seu lado mais corajoso não se deixando amedrontar. Tive a certeza naquele momento que ele era para ficar, para manter para o resto da minha vida. - Vamos então escolher a roupa antes que o André chegue e desespere à tua espera.
Fui todo o caminho até à casa dos pais do André com uma enorme pilha de nervos pronto a rebentar. Ele foi o caminho inteiro tentando acalmar-me dizendo que não tinha nada com que me preocupar. Preferia mil vezes estar agora numa competição importante do que estar a minutos de conhecer a família dele. Para além de que era enorme mas o André prometeu-me que só estaria lá os pais dele e o irmão. Haveria mais ocasiões para me apresentar à restante família. Isto claro se sobreviver a este jantar.