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Cinco dias.

Cinco dias em que praticamente não saí de casa. A minha rotina passava por me levantar da cama de dividia com o André e o nosso filho e percorrer o pequeno corredor que dava acesso ao quarto dos meus pais. Agora somente da minha mãe. A dor queimava no meu peito, fazia-me sufocar a meio da noite tal era o desespero em me fazer livrar dela. Mas então os braços reconfortantes do André protegiam-me contra o mundo e o desespero diminuía um pouco. Ainda assim a sensação de vazio continuava a deixar-me à beira das lágrimas em praticamente todos os momentos.

Entrei dentro do quarto onde estava a minha mãe acompanhada pela minha avó. Elas estavam apenas abraçadas e não tinham qualquer tipo de conversa. A minha avó foi a única a levantar a cabeça para me ver entrar dentro da divisão. Sorri fracamente e dirigi-me até junto da cama acabando por me sentar.

- Mãe, já vou embora, está bem? - Um resmungo quase imperceptível foi a única resposta que obtive por parte da minha progenitora. - Volto depois do jantar. - Conclui mesmo sabendo que provavelmente não me estaria a ouvir.

- Vai descansada, querida. - A minha avó sorriu docemente e estive por segundos para desistir do jantar. - Por mais que nos custe a vida para nós ainda não terminou. Temos que continuar a vivê-la da melhor maneira que arranjarmos. E neste momento a família do André também é importante. Quando decidimos partilhar a vida com a pessoa que amamos, acabamos por adotar uma nova família.

- Eu sei que sim. - Respirei fundo encarando o rosto fechado da minha mãe parcialmente escondido. - Só queria que ela reagisse. Qualquer coisa, avó.

- Não te preocupes que estou aqui para tomar conta dela. - Levantei-me da cama e beijei tanto o rosto dela como da minha mãe.

- Liga-me se precisares de alguma coisa. Seja o que for venho para casa imediatamente. - A minha avó assentiu e despedi-me delas de seguida.

Peguei nas chaves de casa e na minha mala e conferi se o André não se tinha esquecido de nada. Saí de casa e encontrei os dois, o André e o nosso filho, já dentro do carro com este a trabalhar. Eles pareciam estar a divertir-se porque conseguia ouvir as gargalhadas de ambos do lado de fora do carro. Quando entrei dentro do veículo as gargalhadas diminuíram um pouco e o enorme sorriso do André foi diminuindo depois de olhar para a minha expressão. Senti-me péssima por estar a retirar-lhe a vontade de sorrir.

- Estou a ver que estão muito animados, não é menino André. - Tentei aliviar a queda de energia dentro do carro. Olhei para trás e vi o pequeno André bastante contente com um brinquedo nas mãos. - Quando sou eu a tentar mete-lo no carro faz uma birra de todo o tamanho. E agora está aqui todo contente como se nada fosse. - Expliquei para o André virando-me para a frente

- Tens de perceber que traumatizaste-o com a tua condução. É claro que ele chora sempre que entra dentro de um carro contigo. - Olhei para ele seriamente e um sorriso brincalhão foi aparecendo aos poucos no seu rosto.

- Que piada, André Miguel. - Tentei parecer o mais chateada possível mas era impossível quando ele sorria daquela maneira.

- Babe, não custa assim tanto admitir. - Ele literalmente estava a fazer beicinho e a sorrir ao mesmo tempo. Como é que ele fazia aquilo?

- Admitir o quê? Não estou a entender. - Fiz-me desentendida. O moreno finalmente deu partida e comecei a ver a minha casa a ficar para trás na paisagem.

- Que és uma péssima condutora. - O André continuava a sorrir divertido e estava a adorar irritar-me com esta conversa.

- Só para te informar nunca tive nenhum acidente nem sequer uma multa de trânsito em Lisboa. - Defendi-me. Nesse momento o André que estava muito calado na cadeira no banco de trás começou a rir sozinho.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora