Desastre Sensual (REPOSTANDO)

Prólogo

Olivia Hampton

"Não importa o quanto negue, aquilo que você mais rejeita, é sempre aquilo o que você mais quer. "

Queria poder dizer como me sinto feliz por estar no meio de tantos corpos suados e baseados de maconha. Como o cheiro do álcool me deixa animada e excitada. Que os homens aqui são uns gatos e que meu sonho, nesse momento, é passar a noite com um deles em algum dos quartos dessa fraternidade. Mas nem tudo é como queremos, certo? Os corpos suados são ridículos, o álcool pinica meu nariz, com certeza não estou excitada e o mais importante: quero distância de qualquer cara que precise desse tipo de festa pra animar seu sábado à noite.

Eu não sei como concordei em participar disso. Dessa loucura. Devem ter colocado alguma coisa na minha comida. Corinne, minha melhor amiga, é muito persuasiva quando quer, e desconfio que ela seria capaz de me drogar só para me fazer sair do meu quarto, direto para a festa de aniversário mais esperada do ano.

O famoso Noah James chega aos vinte e três.

Ridículo.

Confesso que ninguém é imune ao charme dele, mas isso não significa que eu queira participar do seu aniversário.

Ele ao menos conhece metade dessas pessoas? Devem ser mais de duzentos universitários bêbados, mas parecem mil adolescentes curtindo a ausência dos pais. Drogas, sexo, brigas. Eu poderia viver sem ver essa orgia de narcóticos e putaria.

— Eu amo a felicidade dos jovens alcoolizados. Veja como dançam e se esfregam uns nos outros, num pedido desesperado para transar. É lindo. — Corie diz dramaticamente, sentada ao meu lado, em um sofá sujo. Observávamos a festa feito duas vizinhas fofoqueiras, até porque, entre transar e passar vergonha bêbada, não havia mais nada para fazer.

— Não faça isso — reclamei.

— Não fazer o quê?

— Falar como uma atriz do século dezoito. — Era patético e terrivelmente vergonhoso de se ver.

— Isso está em Shakespeare, garota — falou. — Em algum lugar entre o Romeu morrendo e a Julieta também. Ou é a Julieta quem morre primeiro? De qualquer forma, são dois idiotas.

Como uma boa leitora, eu até discordaria, mas uma Corinne bêbada é uma Corinne com razão. Discordar dela equivale à um pescoço quebrado, então eu me limitei a rir.

Ela balançou o conteúdo do seu copo vermelho e eu franzi o nariz em total desgosto, porque sei que mais tarde terei que limpar seu vômito e impedir que ela morra sufocada com ele.

— Mas que é lindo, é — ela insistiu.

— Lindo? Parece mais um cativeiro com vários animais selvagens. Ali temos a piranha, e bem aqui, o cavalo — sorri. — Olha só, lá vem o leão.

O mar de gente se abriu e então nós acompanhamos os passos ritmados de Noah James. As luzes do lugar foram ofuscadas pelo brilo de arrogância que ele carregava sobre a cabeça, como uma maldita aureola. Sei que ele não está andando em câmera lenta, mas é assim que parece. Seu sorriso é tão aberto, mas eu sempre acho que tem algo o incomodando. Isso me deixa ansiosa e inquieta. E eu odeio me sentir assim.

Noah é o rostinho bonito da faculdade. O famoso veterano, aquele que sempre tem um grupo grande ao seu redor. Mulheres, homens lindos e gente importante. Além de ser um gato do caralho, o cara parece atrair tudo de bom ao seu entorno. Um maldito clichê ambulante, com certeza.

É um mundo de aparências, afinal, eu penso.

Até sinto pena dele, por ter que aguentar tantos desconhecidos puxando seu saco, mas aí ele começa um body shot em uma loira e eu volto ao mundo real. O meu mundo. Aquele com uma Olivia entediada e uma Corinne bêbada demais para ser uma boa companhia.